Trabalhadores do MST que ocupavam a Fazenda Tropical oficializaram queixa da violência que sofreram e dos objetos que perderam por causa do incêndio e dizem estarem com medo de voltar ao local onde estavam acampados.
As ameaças e o atentado que resultou na queima de 62 barracos, seis motos, três geladeiras, sete bicicletas, diversos DVD e no roubo de celulares, foram registrados no BO lavrado pelo escrivão da Delegacia de Gavião na manhã de segunda-feira (29), três dias após o ato.
De todas as ações para intimidar os trabalhadores, a mais violenta aconteceu na sexta-feira (26), onde 22 pessoas estavam no acampamento e dez homens, em três carros, segundo eles, um Gol prata, um Uno vermelho e outro preto, que não souberam identificar. Sem querer dizer seus nomes, eles contaram ao CN que as placas dos carros estavam cobertas com papel e os homens, encapuzados, saltaram a cancela e chegaram atirando para cima. Num determinado momento forçou o agricultor “Zé de Tunico”, responsável pelo cadeado da cancela principal, abrir a mesma e eles entraram com os carros.
Segundo o registro na delegacia, o fato aconteceu ás 17h20 e os restantes dos agricultores estavam na “roça” juntando as ovelhas e ao escutarem os tiros, correram para buscar ajuda policial e uma jovem telefonou para o pai que estava na cidade fazendo compras e este informou o que estava acorrendo a PM, porém os encapuzados tinham fugido. “Foram mais de cem tiros. Encontramos no local várias cúpulas calibre 12”, falou um dos sem-terras, mostrando o local onde encostaram a arma na barriga.
Sem rumo, os sem-terra não sabem o que vão fazer. Está programada uma reunião para sexta-feira à tarde na entrada da Fazenda onde vão decidir o que fazer. “Acho que devemos voltar para beira da pista”, diz o sem-terra, enquanto outro interfere e fala do risco de ocupar mais uma vez a fazenda, pois “eles” (referindo-se aos encapuzados), não estão para brincadeiras.
Na noite do dia 12 de dezembro de 2009 eles estavam acampados as margens da BR 324 a 5km de Gavião, na ocasião homens encapuzados fizeram o mesmo, ateando fogo nos barracos.
A fazenda Tropical, que tem 2.050 tarefas, foi ocupada por 55 famílias há quase três anos. Neste período, houve uma primeira ocupação, onde foram despejados por ordem judicial. Os barracos, armados numa área entre a cancela de acesso a Fazenda e a pista da BR 324 foram incendiados em 12 de dezembro de 2009 e, de acordo com os militantes dos Sem Terras, concentrados em frente à Delegacia, houve outras ameaças com homens armados.
Sob proteção da policia militar, eles retornaram fazenda no domingo e retiraram as ovelhas e na segunda-feira (29), foram buscar o que sobrou dos objetos queimados.
Os agricultores culpam os herdeiros da fazenda pelos ataques. A equipe do CN esteve na tarde de segunda-feira na cidade de Riachão do Jacuípe, onde moram mas não foram encontrados para falar sobre o assunto.
Por: Valdemí de Assis/ fotos enviadas por internauta e Raimundo Mascarenhas