Tradicionalmente o brasileiro foi educado para não reclamar. Em um primeiro momento, nossa história republicana foi marcada por governos centrais fortes, que impunham seus pontos de vista a uma sociedade sem informação, eminentemente agrária, sem acesso à educação e que sequer sabia dos seus direitos.
Nesse ambiente, os coronéis surgiram para impor a sua vontade, subjugar os mais fracos, e calar a opinião que lhes era contrária.
Em um segundo momento, o Brasil foi assolado pelo regime militar que, pela sua própria essência, não admitia questionamentos. Assim, dando continuidade à formação de uma cultura do silencio, às pessoas era proibido se manifestar.
Com a abertura política, nosso país obteve a diversidade partidária, mas manteve um ambiente no qual os indivíduos têm medo de opinar, de divergir, de se insurgir.
Veladamente, há uma censura para aqueles que reclamam. É comum em uma fila de banco, alguém reclamar do tempo perdido, do mal atendimento, do descaso do sistema financeiro para com o correntista; mas a maioria dos que estão naquela situação, mesmo que em silêncio, pensam: “Mas que pessoa estressada…”; que homem mal educado, não sabe esperar…”.
A situação se repete nos supermercados, nos postos de combustíveis, nos postos de saúde, nas filas do INSS, etc. As pessoas não admitem reclamações, mesmo que sejam motivadas pela razão do consumidor, pela falha no atendimento. Para a maioria, é melhor obedecer, conformar-se, e esperar a sua vez, que virá, Deus sabe quando.
Ocorre que, em um ambiente socialmente desenvolvido, as reclamações dos consumidores têm um papel relevante, porque geram mudanças que favorecem toda a coletividade.
Se não fossem os impacientes, aqueles que se indignam contra o produto com validade vencida, que mesmo assim teimam em permanecer nas prateleiras dos supermercados, nós ainda não teríamos a eficácia do Código de Defesa do Consumidor, que surgiu como conseqüência da indignação.
Devemos contribuir para que essa cultura do silêncio seja quebrada, tendo ciência de que os protestos não revelam falta de educação, mas uma prova de conhecimento e compromisso com a coletividade.
Não se cale diante do mau atendimento; de um produto defeituoso; da falta de qualidade nos call centers das empresas de telefonia, dos planos de saúde ou quando sua honra for atingida.
Há anos que admiro a cultura americana, na qual o Poder Judiciário tem um papel importante. Lá, os direitos são assegurados e de uma maneira rápida, por um processo eficiente e eficaz. Por causa disso, as coisas funcionam, porque quem presta o serviço ou vende o produto sabe que se o fizer de forma deficiente, arcará com as conseqüências, principalmente financeiras. Aqui, vige a sensação de impunidade, que só pode ser diminuída, se cada um de nós fizermos valer os nossos direitos mediante nossa voz.
Portanto, proteste sempre e não perca a oportunidade de emitir a sua opinião!
Quando isso não for suficiente, vá ao Judiciário e cumpra com seu papel de consumidor responsável, indigne-se contra a injustiça!
Por Cléber Couto
Advogado