Um canto amargo, saudoso, que viaja no vento e atravessa o coração como uma flecha. É assim o aboio do vaqueiro tangendo o gado no meio do mato, em qualquer região do nordeste. Esse canto conta histórias e lendas. É um relato real de aventuras e do trabalho na lida de todos os dias nas fazendas em todos os estados da região. A mesma lida que provavelmente fez surgir o mais viril e vibrante esporte do homem do campo: a Vaquejada. A prática é tipicamente nordestina, pode-se até dizer que foi um trabalho que virou diversão e os relatos mais antigos registram que as vaquejadas começaram a surgir por volta dos anos 40 quando os vaqueiros faziam demonstrações públicas de suas habilidades com o trabalho de manejo do gado.
Como toda regra tem exceção, Manoel Ferreira Macedo Segundo, 16 anos, conhecido no mundo das vaquejadas com Manoelzinho, natural da cidade de Santaluz, nunca trabalhou com vaqueiro, porém sempre foi apaixonado pelo esporte e aos 11 anos, começou a correr vaquejada por toda Bahia e sua primeira apresentação pública, batendo esteira, foi na cidade de Serrinha, no Parque Maria do Carmo.
Adaptando-se ao ditado popular, filho de vaqueiro, vaqueirinho é, Manoelzinho sempre gostou de cavalos. Filho de Carlos Cunha, “Carlinhos do Posto e Cristina Cunha, o jovem se interessou pela vaquejada desde cedo. Em conversa com a equipe do CN, o pai do adolescente, Carlinhos, confirmou que sempre levava o menino para as festas da região e no Parque da fazenda pertencente à família, ai lhe passando as técnicas e logo foi percebendo que tinha vocação e jeito para o negócio. “Corro vaquejada deste de 1985 e em 1988, fundamos o parque Cunha Macedo e realizamos a primeira vaquejada”, lembrou.
Das colocações obtidas pelo filho neste inicio de carreira, Carlinhos destacou o 4º lugar obtido na vaquejada de Praia do Forte e de Araci e o segundo lugar em Nordestina. ”Em Praia do Forte, ele derrubou touro. Quando eu via aquilo, pedia a Deus pelo seu sucesso”, contou o pai orgulhoso.
O CN perguntou se não se preocupava quando ele caía do cavalo e Carlinhos respondeu que é um recurso para derrubar o boi e que tem de saber cair. “Vaqueiro tem que ter técnica para saber derrubar. A técnica consegue superar a força”, falou.
A paixão de pai para filho – Há vinte, trinta anos, era difícil encontrar um corredor de vaquejada que não fosse realmente vaqueiro de profissão. Aquele que morava no meio do mato e acordava todos os dias cedo, ainda na madrugada, para cuidar do gado. Quando não era assim, era o próprio fazendeiro que participava das festas de vaquejada formando dupla com o vaqueiro da fazenda.
Hoje, pode-se constatar claramente que não há mais limites para quem participa das competições. Encontram-se jovens urbanos, médicos, engenheiros, jornalistas, enfim, todos os segmentos sociais aparecem envolvidos neste, que consideram uma paixão inexplicável. Uma paixão, que para alguns passa de pai para filho. Esta é a história de Carlinhos e Manoelzinho.
Vaquejada em Santaluz – A vaquejada é um esporte tipicamente brasileiro, oriundo da região Nordeste e tem como finalidade derrubar o boi dentro da faixa de cal pintada na pista. Para isso, dois vaqueiros participam. Um segurando o rabo do boi (o vaqueiro Bate Esteira) e o outro derrubando o animal dentro da faixa. No início vencia quem derrubasse o boi, puxando pelo rabo, mais próximos do jiqui. Atualmente, é mais elegante. A dupla de vaqueiros corre por uma extensão de 110 metros e derruba o boi numa faixa demarcada por linhas paralelas feitas de cal.
Na próxima sexta-feira (20), ás 13h, terá inicio a sétima vaquejada do Parque Cunha Macedo, localizada as margens do Açude Tapera, na cidade de Santaluz. Segundo a coordenação, estão sendo esperados mais de trezentos cavalos e serão disponibilizados de 500 a 700 bois para corrida. “Quem correr na sexta-feira, correrá um boi a menos. Também serão sorteadas duas senhas para quem correr na sexta-feira na sequencia da chamada e bater senha”, explicou Carlinhos.
Na premiação profissional, o primeiro lugar receberá R$ 5 mil, segundo, R$ 3 mil e do terceiro ao 15º, R$ 1 mil. Na categoria amador, R$ 800. Na área de shows, vão se apresentar o grupo Sela Vaqueira, Del Led, Os Meninos da Porteira, Mel com Pimenta, Alex Costa, Wagner e Luizinho e WK. Na sexta e domingo, o acesso à área de shows é franca.
Por Valdemí de Assis * com informações Nordeste Rural/ fotos arquivo da família