A Operação Monte Santo, realizada em parceria da Polícia Civil com o Ministério Público Estadual, já prendeu seis pessoas nas cidades de Cansanção e Monte Santo na manhã desta sexta-feira (6). De acordo com Ediene Lousado, coordenadora do Grupo de Atuação contra o Crime Organizado (Gaeco), eles são suspeitos de cometer crimes de extorsão, concussão – em que funcionário público exige pagamento para si ou outro em razão da função -, formação de quadrilha e porte ilegal de arma.
Um advogado e ex-procurador do município de Cansanção, a 248 km de Salvador, além do delegado titular foram detidos. Em uma residência investigada na cidade, a polícia encontrou armas clandestinas, de uso restrito das Forças Armadas, além de US$ 7 mil e 57 pássaros silvestres. A pessoa que estava guardando a mercadoria afirmou à polícia que elas são de propriedade do escrivão apreendido.
O delegado Felipe Néri, da 19ª Coorpin de Senhor do Bonfim/BA, que integra a Operação, afirma que indícios levam a acreditar que a mercadoria é do advogado e não do escrivão. Estes indícios estão sendo investigados.
Ainda no município, foi detido um soldado da PM, lotado na cidade de Senhor do Bonfim, mas que atuava em Cansanção, segundo a coordenadora da Gaeco. Outros dois, um escrivão ad-hoc da delegacia local e um civil, ambos tidos como ‘X-9’, foram capturados.
O MP informa que eles tinham livre acesso no Fórum e promoviam vazamento de informações. Eles ainda se passavam por falsos agentes e realizavam abordagens de veículos que, de acordo com Ediene, eram prendidos e só eram devolvidos mediante pagamento. Diversos veículos foram encontrados com chassi adulterado.
Além deles, o delegado titular do município de Monte Santo, a 352 km de Salvador, considerado o comandante da quadrilha, foi preso e já está na Corregedoria da Polícia Civil, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.
Monte Santo
A operação cumpre dez mandados de busca e apreensão, além de seis de prisão, expedidos pela Justiça contra corrupção nas delegacias dos municípios de Monte Santo e Cansanção. Inquérito policial descobriu que o delegado de Monte Santo comandava o esquema nas delegacias dos dois municípios, em que todos os suspeitos estão envolvidos.
Como agia a quadrilha – Atuava em várias frentes, recebendo dinheiro de traficantes a fim de beneficiar as atividades deles, extorquindo pessoas abordadas em blitze e até vazando informações que esvaziavam operações de combate ao tráfico de drogas.
Segundo o MP foram presos Josevâneo delegado de Monte Santo, Carlos Botelho, delegado de Cansanção; o advogado e ex-procurador do município de Cansanção Alexsandro Soares Andrade; o soldado PM Jullian Ross Dias Serafim, que era lotado no município de Senhor do Bonfim; além dos X-9 Cleudson de Santana Campos, apelidado por Clayton e Lindon Johnson Salvador Lopes que, mesmo não recebendo salário de nenhuma instituição, tinham amplo acesso inclusive no Fórum, o que lhes dava condições de promoverem o vazamento de informações. Eles também faziam abordagens, usavam armas, promoviam blitze e apreendiam carros e motos exigindo dinheiro para devolver os bens, indicando o advogado Alexsandro para patrocinar os interesses das vítimas.
Segundo a promotora de Justiça Ediene Lousado, coordenadora do Gaeco, os detidos já vinham sendo investigados tanto pelo MP quanto pela Polícia Civil pela prática de crimes de concussão, extorsão, formação de quadrilha e corrupção passiva. Quando as duas instituições descobriram que faziam a mesma apuração, decidiram unir-se, passando a atuar em conjunto até chegar à operação que conseguiu cumprir 100% dos mandados de busca e apreensão. Na mansão do advogado em Cansanção, Alexsandro, foram encontrados 7 mil dólares, uma espingarda calibre 12, uma pistola Grock 9mm de uso exclusivo das forças armadas, outros modelos de espingarda, farta munição de diversos calibres, vários veículos com chassis adulterados e 50 aves silvestres.
O escritório do advogado teve todo material apreendido e lacrado, devendo ser aberto em audiência com a presença do dono, de um juiz, um representante do MP e do advogado que ele constituir, e sua prisão já foi comunicada à Ordem dos Advogados (OAB). Em outra casa do advogado, utilizada como uma espécie de depósito, foram apreendidas mais armas de uso exclusivo das forças armadas que estão sendo contabilizadas, mas em quantidade que cobre uma cama de casal grande, além de munição de diversos calibres, estando policiais e prepostos do MP a caminho da fazenda do advogado.
Além de Ediene Lousado, participam da operação os promotores de Justiça do Gaeco Paulo Gomes, Marcos Pontes e Gervásio Lopes, bem como de dois promotores de Justiça da região, representantes do Departamento de Polícia do Interior (Depin), do Comando de Operações Especiais (COE) e delegados de polícia da 25ª Coordenadoria de Polícia (Coorpin).
Da redação * com informações MP e G1