Valilândia, um dos maiores povoados do município de Valente, vem sofrendo com a crise do sisal e presencia o maior êxodo rural de sua história. Nas últimas semanas, cerca de 120 jovens, na faixa etária de 18 a 25 anos, deixaram a comunidade para trabalharem na construção civil em Salvador. Segundo o presidente da entidade, Lomanto Queiróz, calcula-se que em média, deixa a região semanalmente, cerca de 35 jovens. “Na maioria são trabalhadores dos motores de sisal. Os donos de motores estão enfrentando dificuldade de encontrar trabalhadores e do jeito que a coisa vai, dentro de alguns anos o sisal vai acabar”, externou Queiróz.
Segundo Lomanto, a região de Valilandia, Queimadas do Curral, Itarerú, Cipó de Leite, Vargem Grande, Ichu e Santa Rita da Valilandia, áreas de maior produção de sisal do município de Valente, produz semanalmente mais de 100 toneladas de sisal, num total de 400 toneladas mensais. “Isso daria para funcionar uma pequena fábrica em nossa localidade para gerar empregos e evitar a migração dos mais jovens”, afirmou.
Lomanto contou também que na década de 80 a 90, quando o sisal estava em alta, funcionava em Valilândia e Queimada do Curral, uma batedeira que chegou a empregar cerca de 60 famílias e a indústria beneficiava cerca de mais de 100 toneladas de sisal semanal. “Além desta grande empresa, funcionavam mais três batedeiras”, lembrou Lomanto Queiróz.
Com o tempo, as batedeiras fecharam, restando apenas uma com a capacidade de produção equivalente a 30 toneladas que emprega12 pessoas.
Outra preocupação do líder comunitário é com as pessoas que trabalham nos motores. A idade média desses trabalhadores é de 50 a 60 anos. Sendo que muitos já estão aposentados, ou se aposentando, deixando a atividade para os mais jovens. “Com a migração do jovens para a construção civil, vários proprietário de motores estão parando por falta de mão de obra especializada”, pontuou.
Ele disse também que estes jovens que vão trabalhar nos grandes centros, constroem famílias, conseguem uma oportunidade melhor de trabalho e não voltam para o trabalho do sisal. “Nós percebemos isto nas datas comemorativas como a Semana Santa, São João e final de ano. Aqui ficam os velhinhos aposentados e que não trabalha mais na agricultura familiar e nem na monocultura do sisal”, contou.
Para Lomanto, o Governo do Estado deve se preocupar com esta realidade, pois está caminhando para o fim da monocultura do sisal, dificilmente sobreviverá mais 10 anos.
Para o produtor José de Oliveira Silva, conhecido por Neto de Louro, na década de 80 e 90, um motor funcionava em media com oito pessoas e sua capacidade de produção por máquina desfibradora era 3000 kg de sisal verde por semana, ou seja, 1500kg seco. “Nos anos 2000 a 2011, a mão de obra foi reduzida em mais de 50%, caindo à produção pela metade e teve como fator primordial dessa redução de mão de obra, a migração para construção civil dos grandes centros, a queda no preço médio do sisal, a inovação da unidade produtiva desfibradora, a renda percapta oferecida a esses trabalhadores para viabilizar o desfibramento do sisal e o sustento de suas famílias”, contou.
Ele lembrou que entre 1980 a 1990, o dono do campo, ou seja, o dono da roça dava a chamada “frente de produção” um percentual de meia parte, mais 5% a 7%, de frente, que se destina a pagar as despesas de mão obra e eventuais problemas nos motor de sisal. “De 2000 pra cá, o campo dá 75% para o motor, ou seja, houve um aumento de 5% para 75%, para os trabalhadores do campo” disse Neto de Louro.
No documento, os produtores e trabalhadores que participaram da elaboração, afirmam que o preço do sisal atualmente não é viável para as partes e os produtores e trabalhadores devem se unir para uma mudança radical, envolvendo inovação tecnologia das maquinas, melhoria da qualidade de vida desses trabalhadores e melhoria no preço da fibra, para se alcançar a media salarial.
Segundo um espelho do demonstrativo da base de cálculo para um comparativo da média salarial do Brasil e da média salarial dos trabalhadores do ramo do sisal, para um trabalhador obter sua renda semanalmente na média produtiva atual, tomando como base 1.400 kg verde que transforam em 700 kg seco, em percentual dado a 75% para o motor e 25% para o produtor:
1 – Produtores 25% = R$ 175,00
2 – Trabalhadores 75%= R$ 525,00 bruto fora folha de pagamento.
3 – Folha de pagamento previsto do motor de sisal, 70% paga semanal aos trabalhadores por unidade desfibradora. Veja quando recebe os trabalhadores, baseado em 1.400 Kg verde:
– Cervador = R$ 98,00
– Resideiro = R$ 98,00
– Cortador = R$ 91,00
– Botador (55%) e Estendedor (55%) = R$ 147,00
– Despesas com óleo diesel para funcionamento do motor, equivalente a 35% = R$ 49,00 reais.
– Despesas brutas para o proprietário da maquina desfibradora = R$ 483,00 reais
– Saldo líquido para o proprietário do motor = R$ 42,00
Não estão incluídas nestes cálculos as depreciações das peças da máquina desfibradoras, que na maioria tem que trocar constantemente e por esta razão os proprietários vive endividado nos depósitos. “A maioria dos donos dos motores estão nas mãos dos chamados atravessadores, pois quando as máquinas apresentam defeito, somos obrigados a recorrerem a esses intermediários e entramos em um ciclo de endividamento e tem gente que só conseguem pagar suas dívidas quando se aposentam. Esta realidade tem que mudar”, desabafou Antônio Santos, residente na região do Baton, fazenda localizada na divisa entre Conceição do Coité e Valente.
O servador Paulo Oliveira, 55 anos, disse ao CN que um trabalhador de motor de sisal atualmente recebe cerca de R$ 392,00 por mês, o que significa 70,8% do salário mínimo nacional que é de r$ 545,00 reais, ou seja, 29,2% a menos. “Deste jeito fica impossível sustentar sua família com esse percentual, já que a maior parte dela é da base da agricultura familiar e não tem outra fonte de renda complementar e muitos deles têm de quatro filhos a cima”, falou Paulo Oliveira.
Deputado conhece esta situação – O deputado estadual Tom Araújo (DEM), disse ao CN que conhece bem esta realidade e por este motivo solicitou uma reunião da Comissão da Agricultura da ALBA, que deverá acontecer na quinta-feira, dia 12 no Centro Cultural Ana Rios em Coité.
O parlamentar demonstrou preocupação com a máquina de desfibramento e disse que exitem pessoas enteressadas em não encontra a solução, pois sobrevivem dos ‘problemas’ do sisal. ‘Podem acreditar, tem gente que não quer que os problemas sejam reslvidos, querem continuar vivendo com o problema do sisal, pois é bom para eles’, disse o parlamentar.
Para Tom, não é possível continuar com esta realidade, pois a máquina usada hoje é a mesma de cinquenta anos. Tem que pensar numa condição mais digna de trabalho, pois é sub-humano o local de trabalho. ‘Tem que haver uma mudança geral, desde das máquinas, ao ambiente de trabalho. Vamos tratar destes assuntos nesta reunião ‘. Concluiu.
O Brasil é o maior produtor de sisal do mundo, e a Bahia é responsável por 96% da produção de fibra nacional, seguida por Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O país também é o maior exportador. Estima-se que mais de 80% da produção nacional são exportadas para mais de 50 países, sendo os principais importadores os Estados Unidos, China, México e Portugal.
Por: Vademí de Assis * colaborou Lomanto Queiróz