Na mesma manhã em que o secretário da Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa, apresentava suas ações na Assembléia Legislativa da Bahia, afirmando que nos três primeiros meses de 2011, houve uma diminuição dos homicídios em todo o estado em “16,2%, enquanto na capital o índice foi de 14,4%”, a pacata Quijingue, distante 333km da capital baiana, registrava-se uma misteriosa execução sumária. Na manhã da última terça-feira, 03.05, a cidade que, até pouco tempo, não tinha registro de mortes por arma de fogo, acorda com a notícia de um jovem assassinado brutalmente.
Manoel Paulo Santana Costa, de 27 anos, trabalhador, pobre, foi encontrado com várias perfurações de tiros próximo à BA 381, que dá acesso à pequena cidade do interior baiano com pouco mais de 5 mil habitantes. Paulo, que estava detido na delegacia de Quijingue por ser encontrado portando “dois cigarros de maconha” desde o dia 13 do mês de abril, havia sido solto na noite anterior e, segundo consta, estava indo em direção à sua residência, quando, nas proximidades da Rua Aurelino Andrade, foi seqüestrado por 2 homens armados em um veículo Uno vermelho de placa não identificada. Moradores da região, que testemunharam o fato, procuraram a polícia para relatar o ocorrido. Chegando ao local, a polícia recolheu os pertences da vítima que ficaram pelo chão e iniciou uma ronda. Mas já era tarde, àquela altura Paulo já havia sido executado. Seu corpo foi encontrado por moradores do povoado Lagoa da Ema, que passavam pelo local. O sepultamento do jovem Paulo aconteceu ás 17 horas desta quarta-feira.
Crimes sem solução
Esse é o segundo assassinato sem solução, em pouco mais de um mês e o terceiro em menos de dois anos na, antes, pacata cidade. Os mistérios que circundam os crimes amedrontam os cidadãos do município de pouco mais de 27 mil habitantes, localizado no nordeste da Bahia.
No último dia 25 de março o guarda municipal Manoel Roque da Silva, conhecido como “Mocó”, de 47 anos, foi metralhado na porta do seu bar. Em outubro de 2009, jovem Genilson Souza Costa, conhecido como “Chupinha” foi assassinado em condições semelhantes ao do guarda municipal, Mocó. Nos dois casos as primeiras informações davam conta de crime relacionado ao envolvimento das vítimas com facções criminosas, mas até hoje os crimes não foram esclarecidos, nem os culpados presos.
A morte do jovem Paulo também ainda é um mistério. As primeiras versões imputam que ele era traficante, mas familiares e populares questionam essa versão, alegando que Paulo era um trabalhador e que era apenas usuário de maconha.
Comunidade temerosa
Apesar de figurar entre os mais baixos índices de desenvolvimento humano, em Quijingue eram raros os registros de assassinatos e crimes com arma de fogo. Segundo dados da CEDEP (Centro de Documentação e Estatística Policial), entre 2008 e 2010, foram registrados 1 homicídio doloso e quatro tentativas de homicídios. O crescimento desse tipo de crime tem aumentado a sensação de insegurança, deixando a população do município assustada. Principalmente porque correm boatos de que acontecerão mais mortes nos próximos dias.
População exige apuração dos fatos
Mortes violentas, crimes não esclarecidos, o cidadão quijinguense padece da omissão das autoridades competentes. Enquanto o governo do estado comemora a redução no número de homicídios, a população do interior baiano sente o contrário. A cidade de Quijingue, por exemplo, já está há mais de 5 anos sem delegado de polícia fixo, sendo que o último delegado permaneceu no município entre novembro de 2009 e outubro de 2010.
Quais serão os índices razoáveis para sensibilizar as autoridades para esse grave problema? Quantos jovens precisarão morrer para que se tome alguma medida? Apesar do medo, a comunidade exige apuração dos fatos, pois estamos todos no mesmo “barco”, chega desse jogo de “empurra-empurra”. As autoridades locais precisam chamar à responsabilidade e cobrar dos órgãos competentes investigação e respostas à sociedade.
Por: Laerte Brito – Blog: Quijingue.com