Oito dias depois do trágico acidente que vitimou nove operários no canteiro de obras do edifício Empresarial Paulo VI, na Avenida Antônio Carlos Magalhães (ACM), em Salvador, o CN encontrou com o “escadista”, João Carvalho da Silva, 39 anos, conhecido por Victor, residente na Fazenda Tanque, na região do Distrito de Juazeirinho, 10 km da cidade de Conceição do Coité. Ele foi salvo do acidente por causa de uma simples pergunta, feita por um colega de trabalho natural de Serrinha. “Eu estava me dirigindo para o elevador quando o colega perguntou: como foi o inverno em Coité? e eu respondi que quem bateu três sacas tá rico e praticamente não teve inverno e toda safra estava perdida”.
O colega lamentou e disse que “feijão ia dar dinheiro”. Resultado, enquanto conversaram a “balança”, com os operários chamam o elevador, partiu e voltou de repente, provocando a morte de nove colegas conhecidos e parceiros do dia a dia. Victor também é carpinteiro e trabalha na construtora Segura a seis anos.
Ao contar a tragédia, ele se emocionou, começou a chorar e fez questão de mostrar os jornais que circularam após o acidente. José Carvalho, que costuma vir a Coité a cada quinze dias, disse que na manhã de terça-feira (09), eles se preparavam para mais um dia de trabalho no canteiro de obras, quando o elevador despencou do 28º andar. “Eram mais ou menos, ás 7h30”, lembrou o carpinteiro. “Foi tudo muito ligeiro. O elevador saiu e rapidamente, ouvir como se fosse um circuito e depois ele retornou rapidamente, parecendo que ia a mais de 100 km/hora e bateu de cheio no chão, “desmanchando” todos os corpos. Não levou mais de cinco segundo para concretizar a tragédia. “A pancada foi tão grande que parecia um trovão”, contou Victor.
Ele presenciou toda tragédia, pois estava aguardando o retorno do elevador para seguir até o 20º andar, onde estava trabalhando. De acordo com informações do carpinteiro, o operador costumava seguir direto até o último andar e depois vinha parando por andar. “Talvez se fosse ao contrário, isto não tinha acontecido”, lamentou.
Ainda de acordo com o operário, foi a primeira vez que aconteceu um acidente deste porte na construção civil, pois exerce a profissão há 30 anos, até em Angola esteve e nunca soube de nada parecido. Dentre os mortos, ele contou o caso de Antônio Alves Reis, de 56 anos, conhecido como “Itinga”, que estava no primeiro dia de trabalho naquele canteiro.
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Disse também que conhecia Hélio, o operador do elevador, que era conhecido por “Vitorinha”. Ainda em estado choque, Victor se emociona todas as vezes que trata deste assunto. Assista a entrevista do operário.
Por: Valdemí de Assis / fotos e video Raimundo Mascarenhas