Cerca de 15 mil pessoas, segundo estimativa da polícia militar de Pernambuco participaram na manha de terça-feira (20) de um ato mobilizado pela Articulação do Semi Árido (ASA) para dizer não a decisão governo federal que não tem pretensão de renovar o Programa de construção de cisternas e iniciou a distribuição de cisternas fabricadas a base de PVC. O movimento teve inicio ás 10h,horário de Brasília, da Orla Nova, na cidade de Juazeiro (Ba) e seguiu em caminhada pela Ponte Presidente Dutra, provocando um intenso engarrafamento, até a Catedral de Petrolina onde aconteceu uma concentração e foi cojitada a possibilidade de realizar este mesmo tipo de movimento em Brasília, caso o Governo Federal mantenha a decisão que venha a prejudicar o agicultor.
Centenas de faixas e cartazes foram levadas para o movimento, dentre elas uma que pedia a volta de Lula, lamentava a quebra de parceria com o Governo Federal e demonstrava a preocupação com o retorno à indústria da seca. À medida que pode ter provocado o governo a tomar esta decisão estaria ligado aos recentes problemas enfrentados por Organizações Não Governamentais (ONG). “Essa manifestação não combina com esse povo, parece que estamos protestando como no passado com os governos Collor e FHC, saber que essa nossa luta é para mudar a ideia de Dilma eleita pelo partido que defendemos durante todo tempo, não da para entender. Nós lutamos pela política para a convivência com o semiárido tivemos uma grade conquista com a implantação do Programa 1 milhão de Cisternas que mudou a realidade do semiárido com água para o povo e geração de emprego e renda, der repente vem essa proposta de suspender a parceria de passar a distribuir cisternas plásticas (PVC), fato que fere a honra do agricultor e das famílias que sofreram ao longo dos anos”. Esse foi o desabafo do jovem produtor rural Luiz Cláudio da cidade de Itapipoca no Ceará.
Petrolina – A cidade de Petrolina foi escolhida para sediar o evento devido tanto à localização geográfica, que permite concentrar um grande número de pessoas de outros estados do Semiárido, como pela história de luta de diversas organizações da região. A concentração aconteceu ao lado da Catedral sob um sol muito quente.
Durante o ato, onde houve cantoria, poesia e muitos discursos, a coordenação externava que enquanto a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) reivindicava os recursos previstos para a continuidade de suas ações, o governo federal queria investir R$ 1,5 bilhão na instalação de 300 mil cisternas de plástico. O valor gasto pelo governo corresponde a mais que o dobro do que a ASA gastou para construir 371 mil cisternas de placas no Semiárido e se necessário fosse, outro movimento deste porte seria realizado em Brasília.
Também foi explicado que cada cisterna de plástico custa aos cofres públicos R$ 5 mil, segundo informou o Ministério da Integração Nacional numa reunião com representantes da ASA, em Brasília. A cisterna de placa custa R$ 2.080,00. No Programa Água para Todos, além das 300 mil cisternas de plásticos, serão construídas 450 mil de placa.
A agricultora Juvanda Gomes (E) eleita recentemente presidente do Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais de Valente, acredita que este movimento terá um bom resultado e que o governo federal irá rever esta decisão, como ocorreu em outro movimento semelhante em 2005 em Feira de Santana.
Ela falou ao CN que em seu município, onde tem uma população de 25 mil pessoas, só foram construídas até o momento 2.000 cisternas e há muito para se fazer, principalmente depois que foi autorizada a construção das cisternas nas comunidades que são beneficiadas com sistema de água encanada.
A líder sindical também chamou atenção para o perigo das cisternas de plásticos para as famílias que tem crianças pequenas, pois serão enterradas e fica baixa no chão, podendo causar acidentes.
Os manifestantes, convocados pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), criticaram o rompimento da parceria entre o órgão e o Governo Federal. Para o vereador Edvaldo Evangelista (PT) de Conceição do Coité, esta decisão vai causar um grande prejuízo. “No meu munícipio já foram construídas mais de 4.000 cisternas através da CAR, dos programas água para todos, cabra forte e P1MC. Destas, 2,500 foram através da ASA, aquecendo o comércio, pois os cimentos, ferros, britas, alumínios para fazer as tampas, os pedreiros e seus ajudantes, todos são do município, gerando emprego e renda. Com as cisternas de PVC isto vai acabar”, lamentou Edvaldo do sindicato, como é conhecido o vereador.
O parlamentar vem participando do programa desde seu surgimento em 2003 e lembrou que até o momento já foram construídas mais de 300 mil cisternas, beneficiando mais de 1,5 milhões de pessoas. “Para que esses resultados pudessem ser alcançados, a ASA vem contando com a parceria de pessoas físicas, empresas privadas, agências de cooperação e do governo federal e estar dando certo e não pode parar”, concluiu Evangelista.
Presença de Fátima Nunes – A única deputada presente ao evento foi à baiana Fátima Nunes (PT). Mesmo com uma sessão marcada para tarde, a parlamentar chegou cedo a Juazeiro conversou com as caravanas que vieram dos municípios baianos, se colocou a disposição e seguiu até Petrolina, onde retornou a Salvador.
Ao CN, ela disse que não poderia faltar ao movimento, pois se tratar de uma reivindicação justa e bandeira do seu mandato. “Defendo e defenderei para que todos tenha água de qualidade, pois conheço de perto a luta de não ter água de qualidade, pois venho desta realidade lá no meu município de Paripiranga”, falou a parlamentar.
Em Riachão do Jacuípe 800 famílias já foram beneficiadas com as cisternas para consumo humano e também foram construídas 38 cisternas de produção que estão ajudando nos sustentos familiares e na geração de renda. “Nós estamos construindo atualmente mais 150, das quais 40% já estão prontas e isto vem movimentando mais de R$ 120 mil no município”, lembrou Reininho, como é conhecido.
Ele lembrou também que só pode ser construída uma cisterna de produção onde já houver a do consumo humano e que o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) é uma das ações do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido da ASA que estar dando certo.
A coordenadora executiva da ASA, Glória Batista destacou a força da ONG ao mobilizar 15 mil pessoas para o ato em apenas uma semana. “Estamos protestando o fim da parceria da ASA com o governo federal que já dura oito anos e, além disso, a mudança da cisterna também é um dos motivos da passeata, as cisternas de plástico não estão adaptadas ao ambiente semiárido. Elas são bem mais caras”, conclui.
A agricultora Ana Maria Silva, 52 anos, natural de Picos, no estado de Piauí, disse que o rompimento do Governo federal com a ASA era um retrocesso, pois os agricultores teriam que negociar diretamente com os estados e municípios, que agora teriam a prioridade no recebimento dos recursos e desta forma ela temia que voltasse o tempo do “cabresto político”, sendo condicionado ao voto das famílias para receberem os benefícios.
O secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais de Retirolândia, Arnaldo Carneiro, disse ao CN que já foram construídas no município 90 cisternas e estão andamento mais 30, beneficiando neste momento as comunidades de Bastão, pau Fava, Lagoa Grande e Jatai. “Mais de R$ 100 serão injetados na economia local entre aquisição de material e contratação de mão de obra, além da capacitação que as famílias recebem para saberem utilizar melhor a água, que é apenas para o consumo humano”, falou o líder sindical.
Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas