Mais de 40 famílias permanecem no condomínio popular do Programa Minha Casa, Minha Vida, situado entre os povoados de Valilândia e Queimada do Curral, á 22 km de Valente, no território do sisal. Cerca de cem pessoas, entre homens, mulheres e crianças, chegaram de uma só vez, por volta das 20h de segunda-feira (12) e foram ocupando as casas que estão em fase de acabamento.
No local foram construídas pela Empresa Tecnologias, Arquitetura e Engenharia, 60 unidades residenciais do Programa Minha Casa Minha Vida, numa área de 5.000² doada pela Prefeitura. Das 60 unidades, 40 foram distribuídas para famílias residentes no Povoado de Valilândia que se enquadra nos critérios do programa e as restantes aquelas naturais de Queimada do Curral. A princípio só ocuparam as casas as famílias de Valilândia e outras pessoas que alegam não ter residência própria estão ameaçando ocupar as casas, caso as pessoas de Queimada do Curral não ajam da mesma maneira.
As obras do condomínio foram iniciadas no dia 03 de janeiro, e algumas pessoas que foram contempladas com o projeto e cadastrados pela Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social de Valente, alegaram que há 90 dias a obra estar parada e o material que estava armazenado no local conhecido como “batedeira velha”, foi levado para Gavião, onde também a empresa Tecnologias tem uma construção. “Aqui é minha casa e o meu pesadelo”, falou Valter Matos, funcionário licenciado da Prefeitura por motivo de saúde. Ele disse ao CN que não é cadastrado para receber a casa, porém não tem residência, mora de favor e se achou no direito de também receber uma unidade.
Além de Valter, outras pessoas que não foram cadastradas e não comprovaram que eram famílias necessitadas, também se integraram aos invasores, pois dizem que não tem onde morar trabalha nos motores de sisal e a demora da entrega das casas era para deixar aproximar a eleição e transformar o ato num favor político e consequentemente exigir o voto. Uma mulher que se identificou como Maria dos Santos, mãe de 03 filhos, estava indignada com a situação e garantia que não ia sair da casa. “Vim pra aqui, trouxe meu colchão e dos meus filhos e ninguém me tira”, falou a cortadeira de palha.
Todas as casas estão em conclusão e apenas uma tem pia e vaso sanitário, as demais estão sem piso, equipamento do banheiro e as portas internas. Maria dos Santos falou ao CN que foi fácil arrombar as portas, pois é de um material muito frágil que a chamou de “porta de zinco”.
As casas estão sob a responsabilidade da construtora cujo convênio vence em 30 de março do próximo ano e falta receber do banco Família Paulista 15% do favor licitado, ou seja, R$ 135 mil, pois o convênio foi no valor de R$ 900. “Esse dinheiro não passou pela Prefeitura, não temos responsabilidade pela obra, pois ainda estar sob a responsabilidade da empresa e ela também encontrar com dificuldade para concluir, pois a EMBASA e COELBA ainda não fizeram suas partes e já foram solicitadas”, falou o prefeito Ubaldino Amaral (PP).
O prefeito, em entrevista a rádio comunitária do Povoado de Valilândia no programa do meio-dia, na terça-feira (13), considerou a ação precipitada o que pode fazer até que seja entregue o condomínio a Prefeitura, pois ainda é de responsabilidade da Tecnologias, que deverá ingressar com ação na justiça de reintegração de posse. A entrevista de Amaral foi ouvida pelos invasores e que reagiram em forma de gritos de protestos garantindo que não sairão das casas.
Ao CN, por telefone, após falar a rádio local, Ubaldino reafirmou o compromisso com as 60 famílias cadastradas e irá manter contato com a construtora afim de que as casas estejam concluídas dentro do prazo, ou seja, até 30 de março e garantiu manter contato com a COELBA, para se implantada a energia elétrica e com a EMBASA. Energia e água encanada são pontos fundamentais para que a obra seja entregue.
O prefeito credenciou o ato a uma ação política partidária, pois muitas pessoas que ocuparam as casas são contrárias ao seu grupo político e houve incentivo de líder da oposição para agissem assim. Amaral confirmou que tinha conhecimento da lista das pessoas que invadiram as casas e quase 90% não eram cadastradas no programa.
O vereador José Robson Duarte Cunha (PMDB), residente em Valilândia, sua principal base política, não quis comentar sobre a colocação do prefeito, onde credenciou líderes da oposição em incentivar a ocupação, disse apenas que ficou fora do processo, pois era da base de oposição e não soube dizer como aconteceu à invasão. Até o fechamento desta matéria os representantes da empresa não haviam mantido contato com os invasores e não localizados pelo CN.
Texto e fotos: Valdemí de Assis