O Padre Antônio Conselheiro, figura marcante na história do Nordeste brasileiro, viveu há mais de 100 anos e já sofria, junto com sua comunidade, por conta dos efeitos da seca. No ano de 1878, uma grande estiagem atingiu o sertão, matando milhares de pessoas de fome e o Beato Conselheiro se destacou como uma liderança popular, no socorro aos flagelados.
Do século XIX até hoje, o sertanejo sempre teve na seca a sua companhia inseparável: Cedo ou tarde ela volta, ora de forma mais suportável, ora de maneira implacável. Mas ela sempre é previsível, porque inerente à região do semiárido.
Junto com a escassez de chuvas, o homem nordestino se depara com a miséria, a falta de instrução e a ambição dos poderosos.
Está, então, formado o ambiente ideal para a indústria da seca. Segundo comentários das autoridades públicas estaduais, amplamente divulgados pelos meios de comunicação, em 2011 estamos vivendo uma estiagem sem precedentes nesses últimos 40 anos.
Os prefeitos das cidades nordestinas estão decretando situação de emergência. Somente na Bahia são mais de 160 municípios nessa situação e o governo federal está direcionando cerca de R$ 10.000.000,00 para o pagamento de carros pipa.
Mas a pergunta que não pode deixar de fazer é: As autoridades públicas, em seus mais diversos níveis não sabiam que haveria a seca?
Com o desenvolvimento das previsões meteorológicas, a falta de chuvas já não era esperada?
Os gestores públicos não administram com previsão, planejamento e adoção de medidas que antecipem a crise?
É evidente que a seca não é a culpada pela miséria do povo sertanejo, porque em Israel, por exemplo, há mais do que falta de chuva; há deserto, há regiões inteiras cobertas por pura areia; essa mesma situação se repete na Austrália e nem por isso a gente ouve falar de fome por lá, ou de crise no abastecimento de água.
É muito fácil se atribuir a falta de água no tanque a Deus, ao sobrenatural, porque assim se desfaz a responsabilidade.
A nossa crise não é climática, porque sempre tivemos o mesmo clima. Antônio Conselheiro viveu essa situação; Graciliano Ramos elegeu a seca como personagem de diversos romances seus, há mais de cinquenta anos. A nossa crise é de gestão pública.
É, e sempre foi, de incompetência administrativa. E essa incompetência não tem cor partidária muito menos é privilégio de um grupo político.
Sei que muito dirão que a coisa está melhorando, que foram construídas cisternas, foram distribuídas bombas d´água, que foram ampliados os sistemas de abastecimento de água.
Mas a realidade é bem outra! Ainda precisamos de carro pipa, de pedir uma ordem ao vereador, ao prefeito, ao líder comunitário; precisamos mendigar água na EMBASA.
O povo ainda continua achando que receber um caminhão de água na sua roça é coisa que merece a gratidão do voto.
As pessoas ainda são tratadas com a indignidade de sempre e nesse ano eleitoral muitos construirão sua plataforma política ou cobrando o voto de quem recebeu o privilégio da água ou prometendo que resolverão o quadro.
Nada de novo no Nordeste, tudo como no romance O Quinze, de 1930, escrito por Raquel de Queiróz.
Há se nosso povo soubesse qual poderia ser a sua realidade sem o populismo de quem está ou busca o poder.