Preocupado com a situação dos tanques e barragens públicas que armazenam água para sobrevivência dos agricultores familiares,e que secaram por causa da longa estiagem que atinge o município de Conceição do Coité, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Agricultores Familiares de Conceição do Coité (SINTRAF), Urbano de Carvalho, vem cumprindo uma extensa agenda de visita as comunidades, conversando e identificando os reservatórios com maior urgência de serem limpos antes da chegada das chuvas. Após a veiculação de uma matéria no CN, onde o líder sindical apresentou algumas barragens que foram limpas no assentamento de Nova Palmares e nos povoados de Patos e Cabaceiras, internautas utilizaram no espaço democrático para os comentários das matérias e sugeriram alguns locais, em especial, o tanque da Gangorra, próximo a sede da associação.
Diante da demanda, Urbano Carvalho foi ao local, acompanhado pelo ex-vereador Valdemi de Assis, que na época que o mesmo foi construído, sua esposa, Sínima Maria de Oliveira Silva, exercia o mandato parlamentar e foi a responsável pela indicação da obra e constataram realmente a necessidade da limpeza. Por experiência, Urbano acredita que o leito do tanque tenha em média um metro de meio de lama e deva ser utilizado de 30 a 40 horas de máquina e caçambas. “Nossa preocupação e do mundo inteiro é com a agricultura familiar que foi inclusive eleita tema do ano pelos 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU), que durante uma reunião realizada em dezembro passado, declarou 2014 o Ano Internacional da Agricultura Familiar, reconhecendo o papel fundamental que esse sistema agropecuário sustentável desempenha para o alcance da segurança alimentar no planeta e no caso de Coité, Gangorra é uma referência na agricultura familiar”, externou o líder sindical.
Enquanto visitava a comunidade, os agricultores Edvaldo França, 51 anos e Genilson Silva, 50 anos, narraram para Carvalho a importância do tanque para comunidade e confessaram que há muito tempo a prefeitura vem prometendo fazer a limpeza. “Este tanque é um patrimônio da nossa comunidade e serve a todos nós”, falou Edvaldo França.
Segundo Carvalho, o SINTRAF não pode chegar numa comunidade e invadir a barragem com as máquinas e caçambas sem que haja uma conversa e a autorização da associação, que representa o povo daquela região e reconheceu que existe na Fazenda Gangorra I uma pessoa entendida bastante e organizada que será sensível a necessidade de limpar dessa barragem. “Nós estivemos na residência da presidente, uma pessoa amiga, líder comunitária respeitada, que é Cilene Carneiro, mas ela não estava em casa. Assim que conversarmos, tomaremos a decisão”, falou ao CN.
Por telefone, o CN localizou a presidente da Associação Cilene Carneiro, que também é agente de saúde e estava em Salvador acompanhando uma pessoa da comunidade que foi fazer ums exames e, segundo ela, a prefeitura realmente havia se comprometido com o serviço que deverá realizar nos próximos dias, porém, lembrou que há outro tanque com igual ou maior utilidade que necessita ser limpo e deverá tratar deste assunto com o sindicato.
Informações importantes – De acordo com dados do Banco Mundial, atualmente há três milhões de pessoas que vivem em zonas rurais cuja maioria se dedica à agricultura familiar e tem essa produção como principal meio de subsistência, porém têm acesso limitado à terra e a outros recursos financeiros e tecnológicos necessários para fazer da agricultura familiar uma empresa viável.
O documento final da Conferência Mundial de Agricultura Familiar, realizadas em outubro do ano de 2011, intitulado “Alimentar o mundo, cuidar do planeta”, dá conta de que atualmente há 1,5 milhão de agricultores familiares trabalhando em 404 milhões de unidades rurais de menos de dois hectares; 410 milhões cultivando em colheitas ocultas nos bosques e savanas; entre 100 e 200 milhões dedicados ao pastoreio; 100 milhões de pescadores artesanais; 370 milhões pertencem a comunidades indígenas.
No Brasil, segundo o Censo Agropecuário de 2006, entre 1996 e 2006, havia 13,7 milhões de pessoas ocupadas na agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, são fornecidos pela agricultura familiar os principais alimentos consumidos pela população brasileira: 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38,0% do café, 34% do arroz, 58% do leite, possuíam 59% do plantel de suínos, 50% do plantel de aves, 30% dos bovinos, e produziam 21% do trigo.
Conceição do Coité entre 2002 e 2004 recebeu por duas vezes mais de trinta representantes do Banco Mundial que vieram conhecer a experiência dos avanços da zona rural a partir da agricultura familiar e uma das localidades indicadas pela CAR na ocasião foi Gangorra.
No Censo Agropecuário identificou 4,3 milhões de estabelecimentos de agricultores familiares, o que representa 84,4% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Este segmento produtivo responde por 10% do Produto Interno Bruto (PIB), 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária e 74,4% da ocupação de pessoal no meio rural (12,3 milhões de pessoas).
Pela lei brasileira que trata da agricultura familiar, o agricultor familiar está definido como aquele que pratica atividades ou empreendimentos no meio rural, em área de até quatro módulos fiscais, utilizando predominantemente mão-de-obra da própria família em suas atividades econômicas. A lei abrange também silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores.
Por: Valdemí de Assis/ fotos: Raimundo Mascarenhas