O governador Jaques Wagner (PT), teve que interferir e cuidar do cerimonial da rápida solenidade de inauguração de uma unidade do Programa Saúde da Família (PSF), quando apenas ele e o prefeito Francisco Moitinho Dourado Primo (DEM) discussaram. O governador tomou esta decisão, quebrando inclusive o protocolo, ao falar antes de começar oficialmente o ato, no sentido de acalmar os ânimos entre os militantes do PSD, partido liderado pelo vice-governador Otto Alencar e os petistas, que, a exemplo do PSD, também terá uma candidatura própria a prefeito na eleição de outubro.
A comitiva que chegou com mais de duas horas de atraso, em dois helicópteros e ao chegar à cidade foram saudados pelos integrantes do grupo Olodum Social e seguiram caminhando até o palanque. O grupo de seguidores do prefeito Chiquinho não teve como ocupar a frente do palanque e se viu obrigado a permanecerem nas laterais e atrás da estrutura, enquanto os membros da oposição faziam todo esforço para chamar atenção, usando apitos e vaiando os membros da situação que iam aparecendo na frente do palco.
Na defesa, os militantes ligados ao prefeito começaram a aplaudir seus liderados, criando um clima de tensão, tornando impossível iniciar o ato, sendo necessária a interferência do governador Wagner que pegou o microfone do mestre do cerimonial e tentou acalmar os ânimos. “Isso aqui é um palanque institucional e administrativo, portanto não é político. “Repare”, vamos assim, a gente bate palma para quem a gente gosta e fica calado para quem a gente não gosta, pois o PT é o meu partido e o PSD é do meu vice”, justificou.
Se esforçando para implantar a paz e buscar o silêncio a fim de iniciar o ato, Wagner insistia em dizer que ali era um palanque institucional e que na política só se deve falar bem do “nosso” e esquecer a oposição. Contou que Otto Alencar foi seu rival por muito tempo e foi derrotado pelo grupo que Alencar fazia parte e por onde se elegeu deputado estadual mais votado da Bahia, foi secretário de saúde, vice governador e governador, no entanto foi convidado para fazer parte do seu grupo e hoje estavam muito bem no mesmo palanque. O governador procurou passar para o público presente que aquela rivalidade local não condiz com a realidade nas esferas federal e estadual, pois, o PSD e PT marcham juntos na Bahia e no Brasil.
Quando tudo parecia acalmado, Dr. Chiquinho é anunciado a falar, provocando vaia da oposição e ao ouvir, segundo disse o prefeito ao CN, do deputado federal Edson Pimenta (PSD), que “aquilo ali”, referindo-se a reação popular, iria virar uma baderna, Chiquinho transmitiu o que havia escutado do parlamentar ao iniciar o discurso, ou seja, disse que até o deputado Edson Pimenta, que representa a oposição, não estava gostando da reação dos seus correligionários, que ali era baderna e estava com vergonha da reação dos militantes do PSD.
O deputado Edson Pimenta reagiu e em voz alta, bastante nervoso negou que havia dito aquilo, pediu que o prefeito lhe respeitasse e que era homem de grupo e em Ibititá tinha um lado e estava com a oposição, pois foram corretos com ele na eleição de 2010, onde recebeu 896 votos, ficando na quarta posição entre os deputados federais votados no município.
A cada instante que passava, tornava mais difícil manter a calma e o silencio no ambiente, sendo necessário o líder da oposição Edclei Souza Barreto, “Cafu”, se aproximar do prefeito e pedir calma aos seus correligionários.
Mesmo tendo organizado um pronunciamento, Chiquinho optou pelo improviso e agradeceu ao governador pela segunda visita a cidade, reivindicou a inclusão do município dentro do programa da adutora do São Francisco e chamou atenção para seca que vem assolando a região, inclusive já decretou estado de emergência.
O governador Wagner, ouviu atentamente o prefeito e ao usar da palavra, foi interrompido por uma militante do PSD e quase que no improviso, disse que na democracia tem que ter educação e é necessário saber ouvir para ser ouvido. “Respeito à decisão do povo de Ibititá nas urnas e quando levo uma obra até o município não pergunto qual o partido do prefeito, nem se é do meu lado, pois entendo que a obra é para o povo”, falou o governador.
Sobre a seca, Wagner lembrou que é a pior dos últimos 40 anos, mas que não era homem de fugir dos problemas e reconheceu que o problema é sério, principalmente porque Complexo Mirorós, localizado às margens do rio Verde, afluente do rio São Francisco, com mais de 20 anos, com capacidade para acumular 158 milhões de metros cúbicos, responsável pela Adutora do Feijão, com mais de 250 quilômetros de extensão atendendo a várias sedes Municipais, uma centena de localidades e uma população de mais de 250 mil habitantes na região de Irecê, estar baixando sua capacidade e garantiu que irá acessar as obras do São Francisco, inclusive solicitando dispensa de licitação para urgência que o momento exige.
Sobre a unidade do Programa Saúde da Família (PSF), onde foram investidos R$ 117 mil, o governador disse ao CN que o equipamento permitirá a ampliação do atendimento de Atenção Básica, com uma equipe multiprofissional, formada por médico, dentista, enfermeiro, agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem e de saúde bucal. “Já fizemos quatro mil quilômetros de estrada no primeiro mandato e mais mil até agora. Nós sabemos o quanto é sacrificante trafegar por uma estrada ruim, seja para estudar ou ir ao médico. Por isso também estamos gratos em entregar esta unidade do PSF que já vai facilitar o atendimento àqueles que mais precisam”, falou o governador Jaques Wagner enquanto caminhava até o carro oficial, sem visitar a obra..
Poucas e boas do evento – Teve aquelas curtinhas no “agitado” evento em Ibibitá
Com atenção nos detalhes do evento, a equipe do CN percebeu a popularidade do ex-deputado Emério Resedá (PDT), que foi citado diversas vezes pelo prefeito durante seu pronunciamento e era tratado de “eterno deputado”. Emério disse que a oposição não deveria ter agir daquela forma, pois o povo merecia mais respeito e a comunidade é composta de pessoas boas e educada. “Conheço bem Ibititá, pois aqui é minha segunda cidade”, falou o ex-parlamentar.
A primeira dama Eloísa Dourado, disse ao CN que Ibititá não é aquilo que aconteceu durante a visita do governador e que o povo tem a cara do seu governante, por isso que as pessoas ligadas ao prefeito Chiquinho mantiveram a postura do respeito, aplaudindo na hora certa e souberam ouvir, “pois, conforme disse o governador Wagner, na democracia tem que haver educação”, falou a primeira dama.
O vereador Paulo César Dourado Bastos (PMDB), foi um dos primeiros a subir no palanque e esteve ao lado de Cadu e do vice-governador Otto Alencar. Para os observadores da política de Ibititá, a presença de Paulo César no palanque pode sinalizar apoio ao governador Wagner, pois se trata de um articulador da campanha de Cafu, que antes fazia parte do grupo do prefeito Chiquinho.
O PMDB em 2008 apresentou candidatura própria e Edson Pereira de Oliveira obteve 45,18% e repetiu a votação em 2010, quando apoiou o deputado federal Lúcio Vieira Lima, que ficou na segunda posição entre os mais votados, com 1.156 votos e Pedro Tavares, para deputado estadual, resultando em 796 votos. “Creio que o PMDB saia perdendo com este apoio ao PSD, pois no final Otto, mesmo demonstrando ser amigo do governador, possa querer seguir uma carreira solo e lava os pmdebistas daqui tudo”, falou um homem que identificou com Zé Feira Nova.
Edclei Souza Barreto, conhecido por Cafú, empresário do ramo de construção civil, rompeu com o grupo de Chiquinho após a eleição de 2010, por não concordar a candidatura do médico Domingos Dourado. Cadu, soube articular sua militância, que o aplaudiu “vibrantemente” quando apareceu ao lado do vice-governador, Otto Alencar, seu padrinho político.
Com o rompimento de Cafú, sua filiação ao PSD, o prefeito Chiquinho ficou com a minoria da câmara de vereadores. A oposição, além de Paulo César Dourado, conta com os pmdesbistas Celso Marques de Almeida e Milton Souza Pereira. Adailson Oliveira Paiva, eleito pelo PSDC e Emídio de Souza Neto, atual presidente da Câmara, ex-PSC, migraram para o PSD. Ficaram na base de situação os vereadores Odair José Neves Dourado, Domingos de Souza Pacheco, Maina Dourado de Matos e Iraneto Quirino Queiróz.
Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas