Médico e psiquiatra; Jung nasceu na cidade de Keswill, na Suíça, em 26/07/1875 e viveu até 06/06/1961. Foi o responsável pela criação da Psicologia Analítica e desenvolveu o conceito da “projeção”. Para ele, seria um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto.
Traduzindo, Jung entendia que a projeção seria a capacidade dos indivíduos de transferir para os outros, um conteúdo presente em si mesmo.
A cada dia testemunhamos, via meios de comunicação, flagrantes de corrupção nos mais variados setores da administração pública e nos indignamos com as imagens fortes, os comentários escancarados dos corruptores e corruptos sobre como desviar recursos da saúde e da educação.
Nas nossas salas, nas mesas de bar, nos escritórios onde trabalhamos, nos pontos de ônibus, dividimos entre nós comentários do tipo: “como pode isso?”, “até quando viveremos com esses canalhas?”, “por que não prendem esses crápulas?”; mas, em seguida, continuamos com as nossas vidas, como se fôssemos os mais dignos e honestos dos cidadãos.
Continuamos a ultrapassar em faixa contínua; prosseguimos em burlar os professores na hora da prova, dando ou recebendo “pesca”; criamos um mecanismo para furarmos as filas dos bancos, as filas do supermercado; corremos pelo acostamento quando nos deparamos com um engarrafamento; fugimos do pagamento do Imposto de Renda devido; estacionamos na calçada; vendemos produtos sem nota fiscal; as esposas são traídas; maridos são enganados; filhos mentem para seus pais; patrões subtraem os direitos dos seus empregados e estes fingem que trabalham dignamente.
Podemos afirmar que a corrupção no setor público é muito mais grave, mais danoso do que as infrações nossas de cada dia e isso pode ser verdade; contudo, tal assertiva não passa de uma desculpa esfarrapada para continuarmos a agir de forma irresponsável, e projetarmos nos gestores públicos as nossas idiossincrasias.
O mal que um diretor de hospital público pratica ao desviar o dinheiro dos remédios que deveriam guarnecer a unidade de saúde é tão mal quanto se trair a confiança da esposa ou do marido que durante um período da sua vida depositou no outro as suas esperanças. Um pode matar o doente e o outro está a matar lentamente as emoções do seu companheiro.
A indignação que nos causa o desvio da merenda escolar deveria ser a mesma gerada por um aluno que avança em seus estudos sem saber o suficiente, que passou de ano por conta da “pesca”, e no futuro será um profissional incompetente, inapto para a sua função.
Não há esperança para a nossa geração, enquanto continuarmos a tratar a corrupção como um defeito alheio.
Por Cléber Couto