O CN, aproveitando o ano eleitoral, inicia pelo município de Lamarão, que tem como principal via de acesso a BR 116- Norte, ligada a BA 400, distante de Salvador 177 km, á 70 km de Feira de Santana e a 60 km de Conceição do Coité, sede da Agência Calila, uma série de reportagens sobre a situação como está e os problemas a serem enfrentados pela próxima gestão que será eleita em 07 de outubro e tomar posse em 01 de janeiro de 2013. As reportagens desta série serão exclusivas nos municípios onde não haverá candidato a reeleição para prefeito, ou seja, caso o atual prefeito tenha direito a reeleição e esteja decidido a não disputar ou o gestor que está no mandato tenha sido reeleito em 2008.
Lamarão foi emancipado do município de Serrinha em 20 de julho de 1962 e o atual prefeito, Arivaldo dos Anjos Damião (DEM), foi eleito em 2004 e reeleito em 2008, tendo como vice-prefeito Leocécio Multi, que migrou do PTN para o PDT. Gordo, como é conhecido o prefeito venceu a eleição de 2004 para Leocécio e numa arrumação política conseguiu entendimento e formaram a chapa que disputou a eleição de 2008 e venceram o pleito, que teve quatro candidatos. Com 72,55% dos votos válidos, contra 24,85% de Florêncio Mamedio da Silva, “Dãozinho”, o segundo colocado.
Após um ano de administração da primeira gestão, a pesquisa do Sistema FIRJAN, com base dos dados oficiais do ano 2006, resultando na divulgação da edição 2009, que apresentou o ranking das melhores e piores cidades do Brasil e Lamarão apareceu como o 7ª pior município do Brasil (0, 3351) e o terceiro da Bahia, perdendo apenas para Santa Luzia e Santa Brígida. O IFDM, Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal, tem essa defasagem temporal de três anos devido ao fato de serem utilizadas apenas estatísticas oficiais, com efeito, somente em 2009 e a leitura dos resultados, por áreas de desenvolvimento ou do índice final, é bastante simples, variando entre 0 e 1, sendo quanto mais próximo de 1, maior o nível de desenvolvimento da localidade.
Gordo vai entregar ao seu sucessor um município que “encolheu”. Ao assumir encontrou uma área territorial de 356 Km², hoje tem apenas 283 km², perdendo o restante para o município de Serrinha após o censo de 2010, com base nos limites por meio de GPS. Segundo dados publicados no site da Transparência Municipal, a população diminuiu em 496 pessoas em relação aos censos de 2000 e 2010. Em 2000, eram 9.523 habitantes, sendo que 2.087 residiam na sede do município e dez anos após, são 9.027 moradores e como conseqüência a receita do município caiu de zero ponto oito, para zero ponto seis, diminuindo mensalmente aproximadamente R$ 150 mil.
Coleta de lixo – Quando o mundo tem demonstrado uma preocupação com o meio ambiente, buscando formas de reciclagem e evitando surgimento de áreas de lixões, em Lamarão, foi criada uma área para depositar o lixo da cidade numa área a 02 km da sede, próxima da comunidade Catana Velha, onde vivem cerca de 45 famílias.
A coleta de lixo é feita de forma artesanal através de galinhotas, como é conhecido os “carros de mão”, que são amontoados num determinado local e depois transportados numa caçamba até o lixão, segundo o morador Antônio Donato Santiago, 61 anos, ninguém suporta o mau cheiro e a grande quantidade de moscas.
“Já fizemos abaixo assinado entregou a câmara, mas até o momento nada foi resolvido”, disse Santiago, que possui um bar a 100 metros do lixão.
Mas a reclamação do lixo também se estende pelas ruas do centro da cidade, a dona de casa Maria Alves Pereira, 55 anos, pediu para não aparecer nas fotos temendo ser descriminada e perseguida, ela acompanhou a equipe do CN e mostrou a situação de algumas ruas, onde o lixo está acumulado.
Economia – Há oito anos, o único banco da cidade foi fechado e membros da oposição municipal colocam a culpa no prefeito, alegando que as contas salários dos funcionários municipais foram transferidas para uma agência bancária na cidade de Serrinha e por consequência despencou a economia municipal, conforme mostra o baixo desenvolvimento, com menos de 0,4 pontos na pesquisa divulgada da edição 2011, com base 2009, no indicador emprego e renda da pesquisa da FIRJAN de Desenvolvimento Municipal. “O dinheiro de Lamarão fica todo em Serrinha, pois 70% da população residem em comunidades que fazem divisa com o município de Serrinha e apenas 20% moram na sede e 10%, nas comunidades que dividem com Água Fria e Santa Bárbara”, lamentou um comerciante que pediu para ser identificado. Segundo ele, o último estabelecimento comercial aberto na cidade foi há quatro anos, pois é insignificante o montante de dinheiro que circula na cidade e lamentou também que empresas que prestam serviços a Prefeitura, a exemplo dos transportes escolares, são de outros municípios e levam boa parte do recurso.
A Prefeitura desenvolve há sete anos um programa de transporte grátis e aos sábados, o dia da feira-livre, disponibiliza ônibus para transportar as pessoas que residem na zona rural para sede, numa tentativa de aquecer os negócios, mais o comerciante ouvido pelo CN, disse que não tem observado crescimento na feira-livre.
Esporte e Lazer – O estudante Paulo Rodrigues, 20 anos, residente na Rua da Cerâmica, lembrou que a comunidade tinha um bom campo de futebol que participou no passado de vários campeonatos regionais. No local do campo foi construída uma Escola Estadual Jairo Azi e foi construído outro numa área de muita pedra. Ele disse também que as ruas próximas ao campo de futebol não tem nem nome e todas são chamadas de “Rua do Campo”. “O próximo prefeito e a próxima câmara vai ter se preocupar em colocar até nome nas ruas”, falou Paulo.
Educação – A próxima gestão irá encontrar o maior colégio municipal situado na sede, o Virgilio Nunes Medeiros, num estado de calamidade. A unidade escolar não passou por reforma para o ano letivo 2012 e para piorar segundo a diretora Marlice Souza Carvalho o material que vem sendo usado são sobras de 2010. ” De lá para cá um problema de gestão anterior na prestação de contas bloqueou os convênios e a situação é a pior possivel aqui”, lamentou a dirigente.
Ainda segundo Marlice, a estrutura física do estabelecimento de ensino que recebe cerca de 880 alunos da 5ª a 8ª serie é a pior possivel, são vidros quebrados, banheiros sem boas condições de higiêne, enfim “precisando de muita coisa para oferecer o de melhor para o aluno. Uma solicitação que fiz não foi atendida, pedi uma caixa d’água com capacidade de 20 mil litros e ninguém atendeu, pois existem apenas três caixas com capacidade de um mil litro cada que não dá a minima condição de atender os três turnos. Tem situação de os alunos ficarem sem merenda por não ter água para fazer”, revelou a educadora.
Mas nem tudo é negativo, segundo a diretora, o quadro de educadores é muito bom, com nivel superior, alguns pós graduados,enfim “se o municipio oferecer condições de trabalho que tem a ganhar é o aluno, revelou a diretora que foi reeleita recentemente com 526 votos contra 90 da concorrente.
Infraestrutura – A situação do município é sempre assunto entre um grupo de pessoas que costumam ficar nos finais das tardes jogando dama nas sobras das árvores do único jardim da cidade. Sempre temerosos, eles pediram para não serem identificados e disseram que o próximo prefeito terá muito trabalho na área de infraestrutura, pois há 12 anos não se calça uma rua, nem na sede e tão pouco nos povoados. “Criança aqui de Lamarão que tem até 12 anos, nuca viu chegar à cidade um caminhão carregado de paralelepípedo”, brincou um deles.
Eles também falaram do maior orgulho da comunidade, a estação ferroviária, considerada a mais bonita do trecho Alagoinhas/Senhor do Bonfim e que foi totalmente abandonada e para complicar a visão do “cartão” postal da cidade, o esgoto nas ruas daquele bairro correm a céu aberto.
Saúde – A cidade não tem hospital e o atendimento é limitado à consulta de segunda á feira-feira, no horário comercial e do meio da tarde em diante, qualquer caso de mal estar tem que ser levado para Serrinha. Em se tratando de emergência, todos os casos são inicialmente atendidos em hospitais de Serrinha e depois transferidos para Feira de Santana e Salvador.
Os postos dos PFS funcionam de forma precária nos povoados de Sítio Santana, 8 km da sede, Veludo, 6 km, Laranjeira, 5 km e Quiji, onde tem um posto de saúde municipal em completo abandono. A vereadora Josicelia dos Santos Nascimento, residente no Quiji,(foto) disse que o maior custo dos mandatos dos vereadores é com transporte levando eleitores para atendimento médico em Serrinha. “Não tem jeito, aqui todos os vereadores acabam se transformando em agentes de saúde. Eu tenho na minha casa um aparelho para aferir a pressão arterial. A situação aqui em Lamarão é difícil, principalmente após a queda da receita”, admite a parlamentar.
Agricultura – Na comunidade da Traira, também foram iniciadas as obras da Casa de Beneficiamento de Castanha e a unidade escolar creche escola que faz parte do Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância), do Governo Federal, em parceria com a Prefeitura e todas estão paralisadas a mais de um ano.
O município vive um momento de estiagem e o abastecimento as famílias residentes na zona rural vem sendo feito através de um trator de pneu com uma charrete onde transporta um tanque de três mil litros.
Estradas – A BA 400, construída a mais de vinte anos, vive numa eterna operação “tapa buraco”, onde já perdeu o nível do trecho de apenas 12 km até a BR 116/Norte. “Tudo aqui é difícil, veja esta estrada, nosso principal acesso, não tem como tapar os buracos, pois já foi feito incansáveis vezes e quando o governador Wagner teve aqui, foi solicitado sua reforma e ele silenciou sobre o assunto. Se o asfalto está assim imaginem as estradas vicinais”, falou o agropecuarista José Ferreira da Silva, 60 anos.
Política Municipal – A sete meses das eleições, três nomes aparecem com pré-candidatos a prefeito e mantendo este quadro, um deles vai assumir o município em janeiro do próximo ano com estes e outros desafios existentes na comunidade. O empresário do ramo de produtos agropecuário Dival Medeiros Pinheiro (PT), disse que tem consciência de toda esta problemática e por ser membro de uma família tradicional, onde suas avós já foram prefeitos, seu pai vice-prefeito, não admite que o município ande na contra mão da história e de imediato, percebendo o problema do desemprego, vem trabalhando na construção de uma filial da sua empresa próxima a cidade, forma, mesmo sem estar no poder, de contribuir com a geração de emprego e renda.
“Estamos conversando com todos e 17 partidos já sinalizaram o desejo de nos apoiar com o compromisso de modificar em tempo Recorde e com responsabilidade esta realidade”, falou por telefone ao CN o pré-candidato.
Florêncio Mamédio da Silva (PR), prefeito por dois mandatos, também reconhece a situação que vive o município e o desejo que esta realidade seja modificada. Ele lembrou que foi o último prefeito a efetuar obra de calçamento na cidade. Dãozinho, como é conhecido, disse que conta com apoio do PTB, PTC e PV, mas quer continuar conversando com a oposição para formar uma grande frente em defesa do município.
Leocécio Multi (PDT), que deverá ser apoiado pelo prefeito, considera o maior desafio para próxima gestão a construção de um hospital e esta será sua principal bandeira de campanha.
Hoje em Lamarão estão oficialmente registrados, todos através de comissões provisórias, os partidos PTN, PTB, PTC, PV, PTdoB, PT, PSL, PSDC, PSB, PRB, PSD, PSC, PT, PPS, PP, PMDB, PDT, PHS, PCdoB, DEM e caso uma destas legendas tenham intenção de apresentar candidatura própria, enviar as informações e o nome, caso esteja decidido, para o e-mail [email protected], para inclusão na matéria. A maior bancada na Câmara de Vereadores é do PMDB, que tem a presidência ocupada pela vereador Nilda dos Reis Juriti da Silva e mais três vereadores, Eraldo de Freitas Carvalho Filho, Jose Fausto de Oliveira Visita e Raquel Silva Freitas Franco.
Por: Valdemí de Assis/ fotos: Raimundo Mascarenhas