Tinha mais boca de urna e bandeiras que eleitores em Salvador. Uma eleição amorfa na capital, bem ao contrário de cidades como Canavieiras, Feira de Santana, Coité ou Santaluz, por exemplo, onde o povo vibra, briga, impõe, carnavaliza e mostra um grau infinitamente maior de obrigação civil.
Acabo de chegar de Santaluz, onde meu candidato Joélcio Filho perdeu numa eleição acirrada para seu adversário Zenon Filho. Dois candidatos jovens, representando suas oligarquias. Claro que acho que Joelcinho não merecia perder. Um cara afável, inteligente e com visão cosmopolita da política.
Mas, é necessário dizer que Zenonzinho é também uma pessoa de bom trato. E mesmo lamentando a derrota tenho de lhe dar os parabéns. Política tem destas coisas. Joelcinho foi dos melhores candidatos para quem já fiz campanha. Virou amigo. Tem futuro.
Meu outro candidato e de Waldomiro Júnior ganhou com folga em Canavieiras.
Enquanto em toda a Bahia o Tribunal Eleitoral se preocupava em não permitir que se votasse com sandálias de dedo, uma moça não pode entrar por estar de biquíni, outra de canga – mesmo em se tratando de ser Salvador uma cidade praieira – e outros impedidos por ostentarem praguinhas nas camisas (o que apenas significa sua atenção para com o candidato e não boca-de-urna), em Santaluz a juíza se virava em dez para dar conta do cartório e dos locais de votação.
Em Coité a situação chegou ao absurdo de um juiz determinar que um locutor e animador de trio e comício se afastasse da campanha do seu candidato. Sob a ótica do juiz, Mitinho de Assis tinha influência. Quando soltava o verbo tinha o poder de influenciar. DE ganhar voto. Eu pergunto: não é esta a função que se espera doapresentador? O juiz entendeu errado e censurou o profissional. Então, quem deveria censurar o juiz?
Política tem se transformado num desatino quando se trata de legislação. Imagine que aqueles que fazem as leis decidiram, sob a frágil égide de defesa dos candidatos mais fracos economicamente, legislar até sobre tamanho de santinho, adesivo, cartaz e a cara do candidato. Dentro de alguns anos, pode acreditar, no ritmo que as coisas vão, os TREs irão apenas permitir que os candidatos façam campanha conforme um “kit” de ações de marketing elaborado pelo próprio sistema. O TSE vai normatizar, legislar, planejar a campanha-padrão, criar as peças e observar uso do conteúdo. A campanha política será feita de cima para baixo.
Só que ninguém segura o povo. Muito embora seja proibida a boca de urna, em toda a Bahia poucos foram presos. Uma das táticas usadas, notadamente em Salvador, foi o uso das crianças. Candidatos a vereador foram beneficiados por cabos eleitorais que davam santinhos aos montes para a criançada que fazia a festa nas imediações das zonas eleitorais. Malandragem pura, sabendo-se que criança não pode ser presa. Foi algo novo e de péssimo exemplo. Imagine o que este candidato não fará na Câmara dos Vereadores.
Enquanto se proibia votar vestido como aprazia ao eleitor, nos subúrbios e nas cidades interioranas – sendo que em muitas, menos de meia dúzia de policiais davam segurança à população, por falta de efetivo maior – a compra de votos e a velha “doação” de cesta básica continuava práxis. Em alguns lugares onde passei a madrugada de sábado para domingo – dia da eleição – foi de ferverão. O voto valia entre R$30 a R$ 100.
E não adiantava tentar esclarecer para quem vendia o voto ou pegava a cesta – entregando título e identidade ao corruptor – que estava vendendo quatro anos dopróprio futuro a preços módicos. Faltou fiscalização e faltou consciência. Mas um dia tudo vai mudar. Espero viver para comemorar. Agora voltemos ao Mensalão, que hoje é dia de Dirceu. E Lula? Good Save.