A situação está ruim até para Jesus Cristo. Estive recentemente em Maragojipe e fui ver o acervo da Casa da Cultura. Não tinha nada, a não ser meia dúzia de esculturas feitas com árvores queimadas, um punhado de livros numa dita biblioteca pública e umas xilogravuras nas paredes. Criação do insubstituível Hansen Bahia e já perto de serem descartadas, uma vez que estão tomadas por mofo por dentro do vidro e manchando cada importante obra.
Para ficar pior a Casa da Cultura montou um presépio para comemorar o ciclo natalino e estava até bonitinho. Todo mundo sabe que Maragojipe faz as melhores peças de barro da Bahia, mas pasme: entre os santos barrocos estava deitado em plena manjedoura um Jesus Menino de dar dó. Um Jesusinho de plástico. Isso mesmo. O Jesus Menino deitado e enrolado num pedaço de linhagem era de plástico, destes que famílias paupérrimas compram nos camelôs da Baixa dos Sapateiros. Ainda estou na dúvida se não seria uma boneca, daquelas que custam R$ 5 e que nenhuma criança quer de presente.
A situação é tão bizarra por lá que uma senhora escalada para ficar no setor de informações não fica no guichê e teve um momento em que a peguei no pulo, em movimento e pedi umas informações e achei que ela era surda. Na verdade quem devia informar não ouvia a pergunta por que tinha nos ouvidos aqueles malditos aparelhos de som. Os fones. Tive de gritar, pegar no braço e pedir que tirasse a zorra auricular para poder me informar. Não deu tempo. O celular da senhora tocou ou foi alguém qur chamou e lá foi ela.
Mas fiquei sabendo que se vai de mal a pior a Casa da Cultura, também assim está para o próprio patrimônio da cidade. Outro dia chegaram num povoado e roubaram uma imagem muito valiosa. Imagem grande, acho que de Santo Antonio, bem antiga. Não se sabe quem levou. E fiquei sabendo também na Casa da Cultura que o Menino Jesus era de plástico vagabundo porque roubaram a imagem de barro. Obra de arte. Quem roubou devia estar querendo fazer um presépio. Aproveitou e levou as vacas, os carneiros e os burricos. Todos em terracota e imensos. Nem Deus viu quando foram levados.
O roubo teria acontecido meses antes do Natal e não teve verba para mandar fazer ou mesmo comprar já feito um Menino Jesus com a arte dos escultores da terra. Também se alguém quiser achar objetos do artesanato popular local vai ter de ir até Maragojipinho. Na cidade não tem nada para se ver nada. Até a igreja de São Bartolomeu fica com as portas fechadas o tempo todo. Será que é para ladrão não roubar o santo? É possível.
Até agora não entendi como a cidade foi considerada em 2011 com a de cultura mais rica da Bahia, título dado oficialmente pelo governo estadual. Os prédios onde ficavam a famosa fábrica de charutos Suerdieck estão abandonados. Um deles é apenas a casca de uma parede imensa, antiga,que vai cair num vento mais forte. Embora forte mesmo sejam os poderes de São Bartolomeu, pelo que se vê, mesmo sendo desmoralizado junto com o Menino Jesus, pelos ladrões e outras autoridades.