O marido, em Jacobina, semana passada, espancou a mulher até a morte. Ela não queria deitar mais com ele. Ontem uma conhecida estava com a orelha inflamada do telefone que levou do ex-namorado porque ela terminou com ele. Parece que de nada tem adiantado as campanhas em defesa da mulher, as prisões dos agressores e as delegacias especializadas. Ano passado foram registradas mais de 75 mil casos de agressões contra a mulher, conforme garante o IBGE. Semana passada a ONU assumiu a postura de orientar os países a enfrentarem o problema com vontade e uma das medidas foi tentar impedir que menores casem ou sofram castração da genitália, como ocorre em países africanos.
Considero bater em mulher uma sacanagem e lembro que em Angola, quando passei uma temporada por lá, existia uma entidade de apoio à mulher que atuava de forma plena e quem quiser que batesse numa delas. Num dos casos – embora nas áreas mais afastadas de Luanda o cacete corra solto – um homem foi denunciado, a polícia pegou e ao invés de colocar na cadeia o levou para as mulheres do grupo e perguntou o que elas queriam que fizessem com ele. Valia até cortar o piu piu e jogar para os cães. Elas chamaram a esposa espancada e quando esperaram que mandasse no mínimo dar uns cachações, ela chorou, disse que o amava e o perdoou. Os policiais, para não perderem a viagem deram uns chutes e umas lapadas no lombo do indigitado.
Foi o caso da mulher de Jacobina e outros que gerou a conversa no clube social Um engraçadinho tentou fazer piada e foi quase que excomungado, de forma mais que merecida. Onde já se viu brincar com uma coisas destas. Mas, chateado, resolveu lavar roupa suja perante o grupo e disse que tinha mulher que merecia mesmo apanhar. Em sua concepção, quando a mulher deixa de cuidar do cara é hora de uns acertos. Decidiu lembrar que uma das senhoras presentes costumava fofocar quando algum marido chegava com a camisa faltando botão, descosida, descolorida, manchada ou esgarçada. A mesma coisa quando alguém aparecia com a calça por fazer a bainha ou com bainha feita no estilo bordado dente-de-cão. Ela olhava, apontava e dizia quando a vítima ia embora:
– Você viu? A mulher dele é mesmo uma desmazelada. Não cuida do marido que sai e chega todo molambento.
Como se a mulher fosse mesmo culpada pelo cara estar vestido de qualquer jeito. Será que é mesmo? A conversa cresceu com a mulher se defendendo e ele, entusiasmado e animado com o silêncio dos homens na mesa, o que lhes dava a sensação de apoio, disse que provaria ali, naquele instante, que pelo menos um item que mostra que a mulher merece uns beliscões, na relação que daria. E mostrou os pecados de uma esposa relapsa, o que na verdade estava mostrando que ele sem saber, apoiava a fofoqueira que o admoestara. Para caracterizar uma esposa do tipo basta ver, em seu ideário:
1 – O cara tem as orelhas com mais cabelo que a Mata Atlântica
2 – Tem mais cabelo no nariz que capinzal depois da chuva
3 – Anda com o colarinho da camisa puído
4 – Não usa desodorante
5 – Os dentes estão amarelados
6 – A calça tem uma perna maior que a outra.
7 – O tênis de correr é uma lama só… e seca, com crosta
8 – O cangote está cheio de cabelo
9 – A cueca já vem sendo usada há semanas
10 – O cara come frio pois a mulher não esquenta o rango – isso quando ela cozinha
11 – As unhas das mãos e dos pés parecem garras
12 – A casa tem mais teia de aranha nos cantos que caverna.
Foi um tal de nego verificando roupas, narinas e orelhas e o cangote e de repente se verificou que todo mundo ali tinha um item que demonstrava o desleixo e a falta de carinho da mulher para com eles. O entusiasmado senhor então deu o tiro de misericórdia:
– Tenho certeza que aqui, quem fez amor com a mulher o fez há mais de uma semana!
Todo mundo ficou calado e ele do alto da sua sensaboria disse:
– Tenho orgulho. Digo que estou com dor de cabeça faz mais de dois anos. Talvez por isso
Minha bermuda esteja rasgada nos fundilhos – e caiu de rir.
– Um amigo retrucou:
– Tomara que quando você estiver dormindo ela coloque uma lacraia dentro do seu ouvido ou jogue água fervendo.
Ele de pronto:
– Durmo separado e com porta travada.
O cara acabara de estragar o domingo de todo mundo. A carapuça cabia em todos e em todas.
Mas, que culpa tem a mulher? O cara que se vire e aprenda costurar, lavar, passar, cerzir, cozinhar, servir e lavar. Mas que é bom ficar sendo paparicado é mesmo. Ou não é?
E antes que esqueça, antes de sair sem pagar a conta ele arrematou observando que para ter mulher que não cuida dele, melhor ficar logo com uma piriguete, pois sabe-se que esta não vai mesmo cuidar da casa, nem de ninguém, mas pelo menos é assanhada e paga prenda com vontade e a depender do presentinho que ganhar ainda ama de verdade.
Jolivaldo Freitas – Jornalista e escritor