Produtores e agricultores familiares do município de São Domingos participaram nesta segunda-feira (08), do primeiro seminário sobre produção leiteira de caprinos e bovinos. Segundo o secretário de Agricultura, Flávio Ramos, o seminário teve como objetivo discutir e destacar a importância da produção, do consumo e promover a comercialização de leite de cabra e de vaca e seus derivados, em especial os produzidos no município.
Flávio contou ao CN que estão cadastrados na Secretaria da Agricultura 76 produtores de leite de vaca e 46 de caprino. O secretário disse ainda que a situação é preocupante, pois a produção vem caindo significativamente, pois eram produzidos 11 mil litros de leite de vaca dia e este volume caiu para 7.200. “No caso do leite de cabra, a produção que era de aproximadamente 2.000 litros, hoje está em 763 litros”, falou Fábio Ramos.
O secretário lembrou que esta atividade gera 250 empregos diretos e faz circular mais de R$ 300 mil mensais. Em São Domingos existem dois lacticínios que, além da demanda individual, consome toda produção.
Flávio Ramos finalizou sua fala demonstrando preocupação com o açude de São Domingos, importante manancial construído em 1947, que abasteceu durante muitas décadas o município de Valentes, incluindo ai o então Distrito de São Domingos. Este açude passou por uma pequena reforma em 1981 e, segundo o prefeito Domingos Nafitel Ramos (PP), nunca havia secado.
Nafitel disse ao CN que na gestão do ex-prefeito Izaque Júnior (PMDB), foi solicitado recursos ao DNOCS para sua limpeza, mas funcionários do órgão disseram não haver condições. O prefeito disse que a limpeza deste açude é prioridade e que estava viajando ainda esta semana a Brasília e na pasta diversos documentos solicitando esta obra. “De 1981 pra cá só recebemos R$ 52 mil para sua limpeza e este dinheiro veio por meio da Central única das Associações. Este valor é insignificante”, lamentou o prefeito.
Sobre o seminário de produção leiteira, Nafitel considerou de muita importância e confirmou que o leite é a principal fonte de renda do município, antes dominada pelo sisal. “Hoje dependemos do leite, pois o sisal não mais existe como geração de emprego e renda, basta lembrar que mais de 100 motores de desfibramento estão parados”, confirmou o prefeito.
O chefe do executivo finalizou demonstrando preocupação com o prejuízo que os produtores estão acumulando por conta da seca, pois a produção de leite da Bahia já caiu aproximadamente 30% este ano e São Domingos vive esta realidade.
O evento teve como tema principal “A importância do Leite no dia-a-dia das Pessoas”. A abertura aconteceu com a formação da mesa com a presença do diretor regional da CAR, Domingos Magalhães, coordenador de inspeção da ADAB, Adilson Pinheiro, diretor de pecuária da SEAGRI, Luiz Miranda, representando do SBRAE, José Raimundo, deputado Tom Araújo (DEM) e Nafitel Ramos, prefeito municipal.
Durante todo o dia foram discutidas ações de convivência com a seca, a exemplo da palestra Emerson Pereira, técnico EBDA, sobre o Programa de Segurança Alimentar do Rebanho da Agricultura Familiar, que vem contribuindo para a sustentabilidade da bovinocultura de leite e da ovinocaprinocultura da agricultura familiar, e incentiva a produção de alimentos, a geração de trabalho, renda e inclusão social.
Ele disse que a palma é considerada uma grande alternativa nutricional para os rebanhos em períodos de longa estiagem. A técnica do plantio da palma forrageira de forma adensada (diminuição do espaço entre as mudas) é disseminada pelos técnicos da EBDA que prestam Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) a agricultores familiares de diversas regiões da Bahia.
Domingos Magalhães, diretor regional da CAR, atraiu atenção dos agricultores ao falar sobre o apoio do órgão neste período de estiagem, quando foram eleitas duas ações prioritárias, ou seja, água e produção. Domingão, como é conhecido o diretor da CAR, falou também sobre o circulo da seca, um fenômeno que acontece a cada 26 anos, lembrando a seca iniciada em 1979 e que findou em 1982 e contou que a conhecida seca de 1932 também estava neste circulo. Muita gente inclusive Ranúsio do Sicoob e eu tínhamos informações desta seca que estamos vivendo. No inicio dos anos 2000 fizemos muitas palestras e na oportunidade falamos dessa possível seca. Existe um gráfico criado pelos estudiosos que marca esse circulo desde 1800 e de lá para cá vem se cumprindo, e a expectativa é que a tão esperada chuva só chegue em 2014″, falou Domingão como é conhecido o gerente regional da CAR.
Durante o encontro foi lembrado do ex-diretor da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), engenheiro Manoel Bonfim, já falecido, que apresentou um diagnóstico da falta de preparo do governo baiano para lidar com a grave seca que atinge o estado.Por onde passava Manoel Bonfim dizia que o fenômeno já é conhecido pelo poder público. “A seca não é surpresa para as autoridades e para os estudiosos que conhecem a pluviometria da região. o INPE [Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais] fez há mais de 40 anos um estudo sobre a corrente de secas”, falava Bonfim, ao lembrar que as grandes secas, como a que assolou a Bahia em 1980, se repetem aproximadamente a cada 26 anos,o que reforça a versão de Domingos Magalhães.
O líder cooperativista Ranúsio Cunha, falou sobre a cooperativa de crédito para o desenvolvimento local, principalmente neste momento de dificuldade. A entidade que preside, Sicoob/Coopere existe há 20 anos e tem realizado um trabalho importante na região.Cunha disse também que a falta d’água afeta diretamente a grande maioria dos cooperados que movimentam seus negócios a base da agricultura e pecuária.Segundo Ranúsio apesar da crise a instituição se mantém firme e sempre perto do agricultor.
Durante o evento foi servido um lanche com produtos da agricultura familiar.
Texto: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas