A debandada geral dos beneficiários do Bolsa Família em direção às agências da Caixa econômica foi representada não apenas pela disseminação de informações equivocadas sobre o fim do programa, mas pela demonstração do quanto as políticas públicas do governo federal são sumamente necessárias aos mais humildes. A grande mídia apossou-se do assunto, forçou um debate que parecia estar suspenso por tempo indeterminado e alçou aos ouvidos alheios as concepções de intelectuais, acadêmicos, formadores de opinião, extraindo dos jornalistas o dever e a vez de criticar um programa de transferência direta de renda que mascara apenas o interesse eleitoreiro do poder estabelecido. E fazendo-o não tiveram compromisso com a verdade, com o interesse dos mais necessitados.
É preciso lembrar que neste país quando se fala em pobre, humilde, mais carente, esquece-se de uma história que aqui não cabe contar em detalhes, mas ronda o imaginário de quem, em sã consciência, compreende a ausência do poder estatal durante centenas de anos ao desagrado dos desvalidos. De alguma maneira o poder público deveria fazer justiça aos pobres deste país. E mesmo quem entrou e saiu desta vida sem saber o que significa o termo ‘passar fome’, entenderá o determinismo duma mãe de família para conseguir seu benefício.
Se aos demagogos de plantão é dado o direito de criticar o Bolsa Família e até zombar das pessoas que, amedrontadas pelas más notícias, correram ao banco para sacar aquele que seria seu último rendimento, cabe também aos defensores reforçar como esta política pública tem contribuído para a emancipação econômica de famílias carentes. E não é apenas isso. As crianças das famílias beneficiadas devem estar matriculadas na rede de ensino, o que consiste um novo olhar para a educação, diminuindo consequentemente a evasão escolar.
Propositalmente contrários ao programa, alguns estudiosos observaram a incontrolável ânsia popular por uma ‘ínfima quantia’, depositada às pressas pelo governo federal. Talvez não saibam estes senhores o quanto vale para uma família humilde a mesa cheia e um projeto encaminhado de emancipação econômica, seja num carrinho de cachorro quente, numa pastelaria ou floricultura. Demonizar o Bolsa Família não significa questionar as políticas públicas de um governo. É muito mais aterrador. É tentar fechar os olhos para não reconhecer (ou não ver) os novos caminhos pelos quais anda nossa sociedade.
MAILSON RAMOS