O município de Riachão do Jacuípe, no Território de identidade que leva o mesmo nome, através do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e suas delegacias, mais uma vez promoveram a tradicional festa do Dia do Trabalho. O encontro reuniu na sede do município vindo de todas as comunidades rurais, cerca de 3 mil pessoas, que se juntaram aos trabalhadores urbanos e saíram em caminhada acompanhando o trio elétrico da frente do Sindicato até o largo da igreja matriz onde aconteceu a grande concentração.
A festa do trabalhador é sempre marcada por muita alegria, mesmo no momento de tristeza pela longa estiagem, mas nesta quarta-feira, a alegria foi dobrada, pois as comemorações aconteceram debaixo de chuva, fato registrado pela última vez em 1º de Maio de 2004. As nuvens estavam prontas para desaguar e o locutor Valdemí de Assis já antecipava para os agricultores não saírem da festa e assim aconteceu. Guardas chuvas abertos e um colorido deslumbrante deu um toque colorido à festa.
Depois de percorrerem cerca de 2 km a grande multidão chegou ao largo da Matriz, local onde estavam montados stands da feira da agricultura familiar, atendimento médico e para apresentações culturais. Mas, o tão esperado momento mesmo é a leitura da pauta de reivindicações, o diretor Teodomiro Paulo protestou vários problemas que foram encaminhados no ano passado e não foram solucionadas, principalmente as questões de interesse do homem do campo, mas não deixou de alfinetar a lentidão do Banco do Brasil, pois segundo ele foi prometido a reabertura para cerca de 45 dias depois de ter sido incendiado e até o momento não tem data para reabertura. Segundo o sindicalista o paliativo que fizeram para atendimento não está resolvendo e as portas estão fechadas para o trabalhador rural.
Teodomiro lamentou também a falta de importância que está sendo dada na construção e reforma das passagens molhadas e pontes importantes como do Rio Salgado e de Vila Guimarães que ligam comunidades rurais ao centro da cidade. Ele cobrou também a construção de grandes açudes.
O diretor aproveitou para entregar novas reivindicações ao deputado federal Daniel Almeida PCdoB , Cláudio Bastos PCdoB , presidente da FETAG e a prefeita Tânia Matos.
Também fez parte do movimento a APLB Sindicato que levou centenas de professores municipais para as ruas em protesto ao corte da gratificação ocorrido no mês de março. A faixa levava a seguinte frase: “Os professores na luta pela redução da carga horária e não pela redução do salário”.
A presidente da APLB Sindicato local Jucelma Santos foi convidada a subir ao trio e usou o microfone para se manifestar quanto a situação que considera muito grave e prejudicial ao professor. Ela usando argumento repetido por muitos quando o assunto é busca da valorização da classe, disse que todos os trabalhadores que comemoram este dia passam pelo professor e apelou dizendo que a luta do professor não pode ser sozinho e convocou toda a população para entrar nessa luta, que é por algo que é de direito.
“Os professores da APLB Sindicato reivindica seus direitos baseado no estatuto e plano de carreira do magistério municipal, onde 52 professores municipais foram enquadrado e recebiam suas gratificações incidida nas 40 horas até o mês de fevereiro.
A partir do mês de março passaram a receber em 2 contra cheques e tendo parte de suas vantagens retiradas pela gestora atual, sendo que a outra parte de professores estão desdobrando e precisa ser enquadrada e a gestão nega que esse direito alegando não ter recurso. Ainda nos nega a liberação de dirigente da sala de aula para a delegacia do Jacuípe, onde somos amparado pela lei”, protestou a presidente.
Maria Rios presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Richão do Jacuípe – SISPUM, também expôs sua pauta de reivindicação em prol da classe. Pediu que a prefeitura providenciasse com urgência o fardamento dos garis, encaminhar para a câmara uma lei para que possa regulamentar a situação dos 34 servidores que foram empossados de forma irregular e estão para serem demitidos, segundo ela os servidores foram admitidos sem concurso pelo gestor anterior e estão sem estabilidade em suas funções e pede também, ou melhor, reforça o apelo dos professores, pois segundo ele teve professor que teve prejuízo entre R$ 800 e R$ 1000.
O deputado Daniel Almeida iniciou seu discurso apoiando o trabalhador e lembrando que há 127 anos nos Estados Unidos aconteceu a grande luta e muitos morreram enquanto defendia a redução da carga horária que era de 16 horas. “Essa manifestação tinha como finalidade reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e teve a participação de milhares de pessoas”. O parlamentar lembrou também que há 70 anos foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho que segundo ele é o principal documento jurídico que dá garantia ao trabalhador.
Quanto as reivindicações, Almeida disse conhecer de perto toda situação, pois segundo ele nasceu entre Várzea da Roça e Mairi e não pergunta a ninguém sobre o sofrimento do homem do campo de onde saiu aos 12 anos.
“Há dois anos estive aqui e levei a reivindicação para melhorar o abastecimento de agua, pois já começava a ficar escassa, levei ao governador e já podemos comemorar com a inauguração da interligação de São José com Pedras Altas.Continuidade das obras das estrada de Serra Preta também levamos ao governador e já temos a mesma inaugurada, estrada de Ichu, Ginásio de Esportes levamos a demanda para a Sudesb e em breve será inaugurado, além de outras ações.Mas ainda é muito pouco, vamos continuar dizendo a presidente Dilma que o povo nordestino merece muito mais”, falou o deputado.
Daniel falou irritado quando se referiu a mortandade de 1 milhão de cabeças de gado no semiárido em consequência da seca e da necessidade de transpor o Rio São Francisco para o Jacuípe.”Alguém chega e diz ser inviável, pois os custos passam de R$ bilhões. Mas eles não calculam que os prejuízos com a morte de bovinos, ovinos e caprinos chegam a soma de R$ 10 bilhões. Tem dinheiro pra tudo, só precisa ter vontade para realizar as obras que melhorem a vida das pessoas, concluiu comunista.
Cláudio Bastos presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado da Bahia – FETAG disse conhecer o triste cenário da seca e dos prejuízos em todo semiárido baiano e de até outras regiões que não costumam ter seca. Bastos disse que para a Fetag o dia do trabalho não é apenas o dia 1º. “Iniciamos uma jornada hoje e vamos lutar para levar a mensagem e buscar soluções para o trabalhador do campo”. Falou da mobilização que está sendo feita para a participação do Grito da Terra Brasil que vai acontecer nos dias 21 e 22 deste mês em Brasília e segundo ele já entregou a pauta de reivindicação a presidente Dilma.
Cláudio disse que defende e pede que o governo anistia da divida do produtor que perdeu tudo com a seca e abra novo crédito para ele recomeçar.
A prefeita Tania Matos que foi as ruas acompanhada de centenas de correligionários, iniciou dizendo da bondade divina que mandou chuva no primeiro de maio. Parabenizou toda classe trabalhadora e disse que ela também é uma trabalhadora “uma empregada do povo”.
Disse que as cobranças e as reivindicações são normais e ela, antes de ser prefeita estava lá também no meio do povo cobrando dos outros gestores. Mas algo que parece ter lhe preocupado, foi a manifestação da APLB Sindicato, pois leu uma informação em um jornal que segundo ela o município atende a solicitação dos professores.
Quando a corte das gratificações disse que não foi para prejudicar a ninguém e sim por não ter condições de pagar, mas que reivindicou junto ao Tribunal de Contas dos Municípios – TCM o calculo de toda folha de pessoal e após um parecer do tribunal o município irá pagar as perdas e ninguém vai ficar prejudicado, “mas não podemos fazer nada sem um parecer do tribunal”.
“Quanto aos servidores que estariam empregados de forma irregular Tania disse que não pode infringir a lei, não pretendemos demitir ninguém, mas a lei tem que ser cumprida”, disse. Vale lembrar que esses servidores que estão sendo questionados foram admitidos na gestão anterior.
A chefe do executivo disse também que a prefeitura trabalha firme em busca de geração de emprego pelo setor privado, para isso vem se mobilizando para trazer indústrias a exemplo da calçadista Paquetá.
O presidente do Sindicato Renivaldo Miranda, mais conhecido por Reninho demonstrou preocupação com o atraso das sementes que serão distribuídos para agricultores familiares, pois está no momento de plantar pela chegada das chuvas na região, a exemplo do que aconteceu durante o dia primeiro de maio.
Sobre os festejos alusivos ao dia dos trabalhadores, Reninho disse que correspondeu a expectativa e considerou o número de pessoas inferior ao ano anterior e justificou ser por uma boa causa, ou seja, as chuvas que restabeleceram a esperança dos agricultores e muitos, mesmo com as dificuldades das sementes, fizeram opção em ficar trabalhando no preparo da terra ou no plantio.
Para “Bilosquinha da Bahia” um dos coordenadores da festa, considera a micareta da cidade voltada para o trabalhador rural.
“Não temos dúvida que este é o maior manifesto de primeiro de maio da Bahia, onde reunimos entre 3 e 4 mil pessoas no centro da cidade para se divertirem e também cobrarem seus direitos. Aqui a gente faz a festa pensando exclusivamente no trabalhador rural, embora tenhamos consciência que a festa é de todas as classes e também se unem a nós”, disse Bilosquinha.
A festa do Dia do Trabalho em Riachão é uma realização do STTR e conta com apoio de alguns comerciantes locais, Prefeitura e FETAG.
Texto e fotos: Raimundo Mascarenhas