Sem a batina desde ontem, o ex-padre Roberto Francisco Daniel, conhecido como Beto em Bauru, já ensaia seus próximos passos: dar aulas, fazer palestras, escrever livros e artigos, comandar programas de rádio e até seguir a carreira política. “Vou pensar se aparecer um convite.” Beto foi excomungado pela Igreja Católica após declarações dele de apoio a homossexuais.
Diante da repercussão dos vídeos na internet, a Diocese de Bauru (SP) exigiu uma retratação, mas ele negou o ultimato e, após conversa com o irmão Native, 43, um empresário dono de academias, anunciou seu afastamento das atividades religiosas. O gesto foi interpretado como uma afronta pela Igreja, que determinou a excomunhão em seguida.
Filho de pais católicos, o padre excomungado diz que se aproximou da religião por causa da admiração a católicos progressistas como dom Paulo Evaristo Arns (SP), dom Mauro Morelli (RJ) e dom Pedro Casaldáliga (MT). “Eles falavam, e o país parava”, afirma.
Veja vídeo em que ex-padre fala de alguns temas polêmicos:
Depois de ser ordenado, aos 33 anos, Beto foi para a Alemanha estudar teologia na Universidade Estadual Ludwig-Maximilian de Munique, onde também concluiu o doutorado em ética. “Lá encontrei liberdade para refletir e questionar. A liberdade de pensamento na Alemanha é grande”, diz.
O ex-padre também é formado em história e direito. Fez ainda curso de radialismo. Tem paixão por livros e cinema. Seus artigos para jornais são baseados em filmes que assiste. Em sua página pessoal, cita como entre os filmes favoritos “A Vida em Preto e Branco”, “Sociedade dos Poetas Mortos” e “Beleza Americana”.
Ele diz que gosta de ouvir Caetano Veloso, Zélia Duncan, Fernanda Takai, Raul Seixas e a banda alemã Die Toten Hosen. Entre as obras literárias preferidas estão “O livro do amor”, de Regina Navarro Lins, que defende o amor livre, e “A Revolução do Amor Por Uma Espiritualidade Laica”, de Luc Ferry.
De volta da Alemanha, Beto logo chamou a atenção em Bauru. Usa anéis, piercing, camisetas com estampas de rock ou a imagem de Che Guevara, que admira. É figura frequente em choperias, a maioria das vezes sozinho, apesar de ter muitos amigos entre fiéis da igreja. Um de seus parceiros de chope é o pai de santo umbandista Ricardo Barreira. “Ele já foi no terreiro e eu na igreja. Somos amigos e sacerdotes. Entendemos que o sagrado estando em você, te acompanha para todos os lugares”, afirma o ex-padre.
Hoje, questionado sobre a decisão da excomunhão, se disse “honrado em pertencer à lista de muitas pessoas humanas que foram assassinadas e queimadas vivas por pensarem e buscarem o conhecimento”.
Fonte: Correio