Salvador vive um caos. A cidade tenta organizar rotas e torna-las eficientes para receber o público da Copa das Confederações. Engarrafamentos quilométricos saturam a paciência de trabalhadores exaustos na ânsia de encontrar o descanso em seus lares. A Avenida Luis Viana Filho, tradicional Paralela, é muitas vezes estigmatizada por manifestações, paralisações e pelo travamento dos veículos. É sempre o foco principal dos órgãos de imprensa que cobrem o andamento do trânsito na capital e das próprias agências reguladoras.
Na manhã de terça feira, 04/06, estudantes do curso de medicina resolveram ocupar a pista da Paralela, sentido aeroporto, reivindicando junto à sua universidade, a FTC, o pagamento de salários atrasado aos professores, além de outras exigências. Estes estudantes estão resguardados por um direito constitucional conhecidíssimo: todos têm o direito de ir e vir. As manifestações são processos fundamentais à democracia e devem ser respeitados pelo poder constituído. Ninguém pode tirar destes estudantes o privilégio de protestar contra alguma injustiça.
No entanto há dois problemas pontuais na manifestação ocorrida em frente ao campus da FTC: as pessoas que transitavam naquela via não tinham nada a ver com a manifestação, muito pelo contrário. Ficaram engarrafadas logo pela manhã, sem saber o que de fato acontecia. Mal planejado, o protesto serviu somente para atrapalhar a passagem dos motoristas e chamar a atenção das autoridades, que, após negociação, resolveram usar a força para desobstruir a via; o segundo grande equívoco dos universitários manifestantes – e este erro foi involuntário –, foi somar-se a um contumaz processo da população soteropolitana de criar manifestações ou protestos, causando mais problemas ao transporte nas principais vias da cidade.
A polícia, apresentada nas manchetes da imprensa elitista mais uma vez como vilã e exemplo da força bruta, não fez mais do que sua obrigação: negociou, deu prazo e por fim manteve a ordem através da força. O tratamento da mídia é diferenciado à medida que são jovens de classe media alta, cursam medicina e estão numa universidade particular cuja mensalidade supera os 4 mil reais. Talvez o tratamento da mídia em relação aos policiais não fosse o mesmo caso a manifestação acontecesse numa universidade pública, com estudantes da classe baixa. Vivem-se dias de escassez da racionalidade, salvaguardados pelo ideal imparcial dos “dois pesos e duas medidas”. O discurso contra os policiais reforça o quanto a sociedade de modo geral está acostumada a valorizar sempre quem tem mais dinheiro ou está escorado nos picos da pirâmide social.
A pretensão dos estudantes da FTC superou sua inteligência. Outros modelos de protesto eficazes e menos caóticos talvez chamassem mais a atenção do que apanhar da polícia, e mergulhar numa sucessão de erros, aguardando indignamente a piedade da opinião pública que nunca vai chegar; se chegou foi de maneira demagógica e hipócrita para apoiar quem não estava com a razão.