É quase impossível analisar as manifestações sob uma única visão, quando existem focos diversos, reivindicações de diferentes naturezas e aspectos, ideologias e projetos político-sociais controversos, excluindo-se evidentemente desta discussão aqueles sujeitos irresponsáveis que se juntaram aos manifestantes com o intuito de depredar os bens públicos e furtar estabelecimentos comerciais. O que interessa verdadeiramente neste momento é sintetizar o movimento (progressivo) desta massa e compreender qual o seu destino, que resultados trarão ao país, qual a sua influência na política brasileira, cujos meandros e estruturas estão aos poucos se destroçando, se já não ruíram por completo.
Diversos analistas nos últimos dias tentaram, inclusive com o apoio de pesquisadores, desvendar o perfil social das pessoas que invadiram as ruas e entender os seus anseios como cidadãos. Existe, no entanto, uma centralidade discursiva e mesmo ideológica neste debate que sãos os valores de contestação daquilo que está errado. Não mais as ruas esburacadas ou a falta de leito nos hospitais serviram para alavancar o manifesto. Incômodos maiores como a corrupção foram estampados nos cartazes de protesto, numa crítica direcionada ao Congresso Nacional e até à presidente Dilma.
O grande problema de caráter organizacional da massa é a desinformação e a despolitização. Participar deste movimento apenas para dizer que foi às ruas, sem compreender o que se reivindica e contra quais forças se está lutando, não resolve o caso. Existe um poder estabelecido, dominante e que estaria até disposto a negociar com os manifestantes, mas negociar sem conhecer as estruturas da política é apenas provocar a sanha de quem ali tudo conhece. Sem contar que o período atual (disputa da Copa das Confederações) faz com que as autoridades rechacem qualquer tipo de mobilização capaz de chamar a atenção da imprensa internacional.
A MÍDIA DISPENSA O DEBATE
É justo então levantar algumas questões: caminha-se a passos largos para o desenvolvimento geral do senso crítico e do amadurecimento político? Será que o gigante despertado enojou-se do berço esplêndido onde descansava? Vivem-se dias de êxtase civilizatório ou a discussão ficou presa nas mãos de uma meia dúzia e a grande maioria apenas acompanhou o andamento da banda? A coisa parece não ser tão fácil assim. Do dia para a noite não se constrói m país de mentes pensantes e críticas, capazes de resolver seus problemas dialogando face a face com o estado de Direito.
Vale ressaltar que ali, mesmo não existindo lideranças partidárias (pelo menos não visíveis) existem forças que organizam, ditam o discurso e de forma mais ou menos organizada conseguem gerenciar o movimento. Uma massa não se organiza por si só. A visibilidade destas manifestações pelos quatro cantos do mundo, discutida principalmente por países sul-americanos, reflete uma crise no sistema de referencia partidário e político do Brasil. Isso é pauta principal na academia, nas escolas, nas famílias, mas o debate profundo não se vê na imprensa. Muito ocupada com os eventos esportivos, a grande mídia deixa de lado a discussão saudável, renuncia à chance de explicar ao brasileiro o que realmente está acontecendo. São omissos na programação, na opinião expressa através das matérias de seus correspondentes, na face descrente dos apresentadores nas bancadas dos telejornais.