Centenas de famílias consideradas sem-tetos invadiram um terreno já loteado, cuja extensão não foi informada, em Santaluz, nas proximidades do cemitério, as margens direita da BA 120, sentido Queimadas, ou seja, área final da Rua 07 de setembro. Um dos ocupantes que se identificou com Paulo, 21 anos, residente em uma casa alugada no Bairro Mãe Rufina, disse ao CN que a onda de protesto chegou a Santaluz, pois “o Brasil acordou, porque Santaluz não acorda?”.
Temendo serem identificadas, as pessoas evitavam informar seus nomes, mas um homem aparentando 60 anos que se identificou com Manoel, contou que a área foi preparada para ser loteada em 1982 e a pouco mais de cinco anos foram colocados os meios-fios estruturando as ruas. Ele não soube dizer a quem pertence o loteamento, “ouvir falar que é do advogado de Coité Hélio Carneiro e não entendo porque tantos anos e os lotes não foram comercializados”, questionou.
Buscamos informações sobre o paradeiro do líder do movimento, Manoel negou que houvesse uma liderança especifica e que as famílias ocuparam a terra pela necessidade de moradia, pois com a chegada da Yamana Gold e as empresas terceirizadas da mineração, o mercado imobiliário ficou aquecido e o aluguel de uma simples casa, tipo quarto e sala, está variando entre R$ 300 a R$ 500. Ele lamentou a prisão de Nivaldo Monteiro, 45 anos, conhecido por “Presepeiro”, que foi preso por ser um dos sem teto a frente do movimento que já ganhou até nome Movimento Morada Livre – MML. A prisão de Nivaldo provocou os demais que foram até a rodovia e realizaram um bloqueio, mas por pouco tempo, mas estavam prontos para nova interdição segundo o grupo, caso mantivesse o colega detido, o mesmo foi liberado no inicio da tarde.
Diante da movimentação que teve inicio no último fim de semana e ganhou força nesta terça-feira,2, o comando da 4ª Cia PM solicitou reforço e chegaram a cidade duas guarnições da CAEL, que só observaram a movimentação das pessoas nos terrenos e não foram exigidos para atuar com rigor.
A agricultora Bárbara Almeida de Souza,45 anos,cinco filhos, residente no Povoado de Serra Branca, chegou à área nas primeiras horas de segunda-feira (01), pois recebeu a ligação de uma amiga falando do movimento e entendeu ser a oportunidade de conseguir uma casa. “Tenho lutado muito por um terreno e vejo este movimento justo, pois esta terra está sem uso há muitos anos e até o momento não apareceu nenhum dono com documento. Já comecei meu barraco”,avisou.
Fabiana Oliveira, 27 anos, lamentou que o município de Santaluz seja o único no território do sisal que não construiu uma única moradia do projeto “Minha Casa, Minha Vida”. Demonstrando conhecimento do projeto, ela lembrou que o programa do governo federal vem transformado o sonho da casa própria em realidade para muitas famílias brasileiras e esta realidade não chegou a Santaluz “Todos trabalhamos no município e ainda não possuímos um lar e só que desejamos e ter um cantinho” concluiu Fabiana, mãe de três filhos.
Simultaneamente a ocupação deste loteamento, outras áreas vizinhas foram também ocupadas, a exemplo da “Caatinga”, pertencente aos familiares do saudoso Ezequiel Cardoso, medindo, segundo informações dos ocupantes, 45 tarefas. Um grupo de pessoas foi localizado pelo CN próxima da divisa entre área do loteamento e da fazenda, onde os herdeiros efetuaram a demarcação com uso de um trator, abrido uma “variante” e iniciaram a construção de uma cerca e outra pertencente ao ex-deputado Joélcio Martins. Ainda em relação ao ex-deputado comenta-se que ele liberou os lotes, mas em contato com proprietário ele desmente e aproveitou para dizer que 90% já foi vendido e deverá nos próximos dias passar as escrituras.
Genivaldo Pereira de Souza, 36 anos, negou que o momento tenha conotação política e aponta o déficit habitacional em Santaluz como um dos motivos que levaram à invasão dos terrenos e concluiu dizendo que alguém apresente documento como dono, que eles deixam a área, mas até que se prove ao contrário, todos vão permanecer no local e iniciar a construção dos barracos.
Outro proprietário das áreas invadidas, o advogado Hélio Carneiro confirmou que o loteamento lhe pertence e está devidamente registrado no cartório de registro de imóveis e na Prefeitura. “Tudo está devidamente registrado e o loteamento existe há 20 anos. Iremos tomar as medidas de praxe assim que o fórum abrir”, explicou o advogado.
Os sem teto prometeram se manterem de forma pacífica e não vão fazer manifestações contra o patrimônio público.
Texto: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas