O Grupo Gay da Bahia (GGB) resolveu testar se a mudança da Igreja em relação aos homossexuais é para valer após a declaração do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, segundo a qual “se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la. O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas integrados à sociedade”. A entidade enviou, nessa quinta, 1, uma solicitação de audiência ao arcebispo de Salvador e primaz do Brasil dom Murilo Krieger, para formalizar o pedido para a Arquidiocese baiana nomear um sacerdote de uma pastoral específica voltada para a integração na sociedade da comunidade católica LGBT.
Na mensagem, os ativistas homossexuais lembram que em 1983 o Cardeal-Arcebispo de Salvador, dom Avelar Brandão Vilela “fez esta profética declaração em total sintonia com o atual Pontífice: ‘Não podemos louvar nem incentivar este tipo de minorias, mas dado que elas existem, não se pode nem se deve fazer violência contra os homossexuais: devemos ajudá-los e nunca violentá-los'”.
Além disso, numa entrevista à revista Veja publicada em 4 de dezembro 1985 ponderou que “o doloroso mal da AIDS não é um castigo de Deus. Se Deus tivesse de fustigar o homem sempre que cai em pecado contra o Decálogo, precisaria desfechar minuto a minuto o chicote de sua ira contra milhões de pecadores. Por tudo isso, tenho muita pena da chamada família gay. Há nesses grupos muita gente capaz, rica em valores intelectuais e artísticos. Os pecados dos gays merecem a nossa compreensão. Como cristão peço que todos aidéticos sejam tratados condignamente, quaisquer que sejam eles, sem discriminação de raça, religião, ideologia e condição sexual”.
A assessoria da Arquidiocese informou que a mensagem será encaminhada a dom Murilo, mas não pode determinar quando ele vai responder à solicitação.
Ceticismo – Cético em relação à postura da Igreja sobre os homossexuais, o antropólogo Luiz Mott, militante gay histórico, ponderou que é o momento de “fazermos desse limão azedo, uma doce limonada”, alegando que o Papa Francisco “é nosso mais importante inimigo útil”.
Mott o considera inimigo “pois só aceita na igreja gay casto, celibatário” e, na sua opinião o homossexual “sem homoerotismo murcha, perde sua alegria de viver, vive no inferno”.
Contudo, acredita ser possível usar as “palavras de acolhimento relativo”, como bandeiras “para diminuir o peso da cruz que sua própria igreja, por dois mil anos, impõe a quem ousa se afirmar e comportar como LGBT”. E assinala: “ele e suas palavras são a partir de agora nosso escudo, nosso amparo, nosso passaporte e password para com suas mesmas palavras, confrontar qualquer insulto, comentário ou prática homofóbica. E tentarmos fazer da igreja católica no Brasil, se não nossa aliada, quando menos, que deixe de ser nossa inimiga”.