Se a decisão do ministro Celso de Mello necessita de interpretações, que a opinião pública as faça; discutir as consequências da aceitação dos embargos infringentes aos réus do mensalão é justo e democrático; assim como é justo protestar. No entanto alguns protestos chamam a atenção quando a representação que se faz é de um luto artificial, maquiado, meticulosamente criado para navegar nas redes sociais, à procura de um coro uníssono e perdido no desconhecimento dos fatos para referendá-lo. É mais uma prova clara de como a imprensa hegemônica determina, através de ações que parecem simples e inofensivas, o direcionamento das discussões sobre assuntos de extrema importância para a nação.
Subentende-se que o cerco parta de todos os lados. Na semana passada o decano da Suprema Corte foi capa da Veja e apontado pela revista como o homem que deveria escolher “entre a tecnicalidade e a impunidade” e corria o “risco de ser crucificado”. Contumaz fomentadora de factóides, a Veja ultrapassou todos os limites do descrédito, do ridículo e porque não dizer, da leviandade. Em outras palavras ameaçou um dignitário jurista diante de toda população brasileira, apenas pelo fato de que o mesmo decidisse contra suas fundamentações ideológicas, políticas e, sobretudo escusas.
Quando o colunista Augusto Nunes se refere ao 11 de setembro de 2013 como o dia em que “o pelotão da toga ameaça implodir o Estado de Direito”, desqualifica a justiça brasileira sem a pretensão de salvar um mísero jurista. A mídia e alguns ministros do STF têm se utilizado da expressão “clamor popular” para explicar sua contraposição ao novo julgamento dos réus do mensalão. A ideia forjada duma revolta maciça é tão falsa quanto as fotos de famosos vestindo luto nas redes sociais. É um discurso sem referência e carregado de precedentes sem credibilidade. O brasileiro que de fato se sentir aviltado com a decisão do Supremo certamente buscará outros meios para demonstrar sua insatisfação. Não seguirá o método de expressão dos famosos. Porque tudo que envolve as celebridades hoje tem cheiro de exibicionismo e autopromoção.
Depara-se a sociedade a um assunto repercutido em vários espectros e que cria múltiplas impressões, alteradas apenas por posições político-ideológicas. Todos os brasileiros estão convocados a discutir, desde que com a responsabilidade e o compromisso de que se valem os verdadeiros cidadãos. É preciso purgar este cenário. É um aviso às grandes empresas de comunicação deste país que se fundamentam na construção de signos potentíssimos, geralmente ligados às questões políticas. Se a campanha política será afetada por este novo julgamento não é possível prever, mas nos bastidores se trabalha para desestabilizar o governo petista através do escândalo que profundamente o manchou. Seria este o desejo das viúvas carpideiras que clamam ao mote: quem não chora não mama.
Mailson Ramos é bacharelando do curso de Comunicação Social | Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). É colunista do Observatório da Imprensa e do portal Calila Noticias. Criou e administra o blog Opinião & ComTexto. É autor do livro Anjo Devasso e Outros Contos, publicado pela Livraria Saraiva.