Nos meus tempos de eu menino (obrigado, Manuel Bandeira!), estudava-se uma matéria chamada Educação Moral e Cívica. Tratava-se de um instrumento com o qual a Ditadura buscava ganhar ideologicamente a juventude em formação. Ali via-se, dentre outras coisas, frases de efeito, contextualizadas para incutir um patriotismo acrítico. Vivíamos os tempos do “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
Dentre tais frases trago viva uma de John Kennedy: “Não pergunte o que o País pode fazer por você. Pergunte antes o que você pode fazer por seu País”. Esquecendo-se Baía de Porcos e Vietnã da biografia do seu autor, não resta dúvida quanto à nobreza daquele pensamento, que nos recomendam atitudes mais cívicas que individualistas, posturas voltadas para o interesse coletivo, etc. E toda esta prosa vem a propósito da celeuma que se criou entorno da remuneração dos médicos cubanos.
Hoje o que mais se vê na imprensa são afirmações de que os cubanos foram reduzidos a condição análoga a de escravos; que o Brasil está ajudando a uma ditadura e coisas que tais. Tudo porque o Brasil contratou aqueles profissionais por meio da Organização Pan-Americana da Saúde, que recebe do Governo Brasileiro e repassa ao governo Cubano a remuneração dos Doutores e estes finalmente recebem do seu governo uma parte daquele valor, cerca de 25% da remuneração total.
Parece que essa questão é mais relevante do que, por exemplo, a falta de infra-estrutura nos grotões para uma boa assistência médico-hospitalar, a ausência de uma carreira nacional de medicina, as causas determinantes da necessidade de importação desses profissionais, a insatisfatória rede de esgotamento sanitário do País, etc. É inegável que há um forte elemento ideológico influenciando a abordagem do tema. Pouco ou nenhum realce teve declarações dos principais interessados, os próprios Cubanos, de que não vinham para cá por dinheiro, bem como o fato de que antes de Pindorama, já estiveram em outros Países em idênticas missões.
Trazendo a frase de Kennedy para o contexto, lembro que Cuba é pioneira na medicina preventiva de família e que, no chamado turismo de saúde, encontrou uma boa saída para enfrentar a crise econômica resultante do bloqueio econômico que há décadas os Estados Unidos lhe impõe. Portanto, os seus médicos colocam todo o “Know-how” adquirido a disposição de sua Pátria, certos do que devem fazer por ela, até porque já sabem o que dela receberam. Para eles é mais fácil assumir esta postura coletivista, afinal no sistema socialista são difundidos valores solidários em maior profusão do que em Países capitalistas.
Ora direis, certo perdeste o senso! Aquilo ali é uma grande ditadura! E eu vos direis no entanto: independentemente do Governo de plantão, a Pátria é onde repousam os nossos antepassados e onde crescem os nossos filhos. Logo, gostando ou odiando os Castros, eles têm o mesmo direito a amar a sua Isla, que nosotros tínhamos de amar o Brasil nos tempos de chumbo. E como disse o saudoso D. Elder Câmara: devemos amar nossa bandeira ainda que ela esteja em mãos impróprias.
MARIO LIMA
ADVOGADO E PROCURADOR DO ESTADO DA BAHIA