Joaquim Barbosa não é um megalômano; não é arrogante e muito menos autoritário. O presidente do STF nunca abusou do cargo para oprimir verbal ou moralmente algum profissional. Ele é o sujeito que veste uma capa preta e se confunde com um super herói americano; no carnaval do ano passado, as lojas de variedades investiram nas máscaras de plástico cujo rosto e feições duras reportavam a caracterização de Barbosa. A revista que um dia criou o Caçador de Marajás, criou também o menino pobre de Minas Gerais que se transformou num Caçador de Corruptores. Por um momento, Joaquim Barbosa oscilou entre a glória dos intocáveis da mídia brasileira e a verdadeira atribuição e investidura do seu cargo. Nos últimos dias a figura um tanto esquecida do presidente do STF invadiu as manchetes. Pela segunda vez Barbosa investe contra um profissional do jornalismo. Reprime com autoritarismo as mesmas mãos e bocas que teceram-lhe elogios rasgados na época do julgamento do mensalão.
Joaquim Barbosa é sim um ingrato. Deveria tratar bem a imprensa elitista que o criou como intocável; já não era mais o julgamento em si que interessava, mas a decisão do homem que tinha sua fisionomia retraída exposta nas manchetes de jornais como um irredutível carrasco. Colocou-se em segundo plano a discussão sobre os fatos ocorridos no esquema de corrupção para criar uma ideia fixa: o que Barbosa decidir, está decidido. Incorporado num personagem que ganhou vida própria e não necessitando mais do auxílio da imprensa, resolveu soltar os cachorros. A doença incurável que o aflige foi contaminação por um vírus: o da mania de grandeza.
Se a grande mídia necessitava de um ministro do supremo que servisse, mesmo indiretamente, aos seu escusos interesses, por que não blindá-lo e produzir sentido sobre sua imagem até então desconhecida? Por que não criar um super herói imbatível e avesso à corrupção? A birra do presidente, no entanto, parece ter um aspecto restrito aos jornalistas do Estado de S. Paulo. Em março deste ano, Barbosa discutiu na saída da sessão do Conselho Nacional de Justiça com o jornalista Felipe Recondo e pediu para o mesmo chafurdar no lixo. Dois dias depois, num nota à imprensa, o Secretário de Comunicação Social do Supremo Tribunal Federal, Wellington Geraldo Silva, pediu desculpas por Barbosa.
Agora a jornalista Cláudia Trevisan ficou detida na Universidade de Yale, nos EUA, acredita-se que a mando de Barbosa. Ele trata com indiferença os jornalistas que provam um pouco do próprio veneno. De repente, depois da concessão dos embargos infringentes, a figura heroica volta à ação. Retorna com truculência e arrogância para cumprir suas proposições. Cumpre salientar que desta vez, diferentemente do primeiro julgamento, Joaquim Barbosa é o presidente do STF. Ele agora não precisará de máscara alguma para provar quem realmente é.
Mailson Ramos é bacharelando do curso de Comunicação Social | Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). É colunista do Observatório da Imprensa e do portal Calila Noticias. Criou e administra o blog Opinião & ComTexto. É autor do livro Anjo Devasso e Outros Contos, publicado pela Livraria Saraiva.