“Se não marcharmos de forma consciente, não vamos avançar. Quanto mais nos organizamos, vamos descobrir nosso potencial para enfrentar os problemas que atingem nossas vidas.” A reflexão de Maria Vandalva, do Movimento de Organização Comunitária, abriu os debates do IV Fórum interterritorial de Mulheres realizado em Pintadas nos dias 28 e 29 (sábado e domingo).
O evento reuniu lideranças feministas de diversos territórios de identidade, militantes de movimentos sociais, gestoras públicas, representantes de empreendimentos cooperativistas e da economia solidária, além de organizações de defesa das mulheres. “Espaços como esse mostram a importância da articulação macro, mas que também é preciso fazer a militância local, seja nas associações, nas secretarias de mulheres dos sindicatos, nos partidos”, ressaltou Vandalva.
“Participar de atividades como essa é importante porque a mulher se sente mais valorizada, eleva sua autoestima e cria coragem para lutar por seus direitos”, afirmou Josenaide de Souza Alves, presidente da COOPES – Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina.
Com o objetivo de traçar estratégias para fortalecer as ações desenvolvidas nos diversos municípios na perspectiva do empoderamento das mulheres, o encontro também destacou exemplos de superação. A coordenadora do grupo de Mulheres da Jaqueira do Carneiro, em Salvador, Ivonildes Evangelista, falou da sua luta para sair da situação de violência doméstica. Já a agricultora Fidelcina Francisca da Cruz, de Quixabeira, contou como enfrentou o poder masculino e se tornou a primeira mulher a se sindicalizar no Sindicato de Trabalhadores Rurais do município na década de 1980.
Cultura patriarcal em debate
Um dos debates que marcaram o Fórum teve como tema Feminismo, construção de igualdade e alternativas para ruptura da cultura patriarcal. “Falar sobre a desconstrução do sistema patriarcal é dizer que esse poder que o homem tem sobre a mulher não é natural, não nascemos com essas regras, é uma construção social”, destacou Cláudia Muniz, assessora da Comissão dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa.
A conferência contou com a presença de Liliane Oliveira, diretora de Mulheres da UNE (União Nacional dos Estudantes) e militante da Marcha Mundial das Mulheres na Bahia. “A gente quer construir um mundo novo, onde as mulheres sejam livres em todas as suas dimensões, mas não dá pra fazer isso se o conjunto da sociedade não for livre”.
Além da marcha de mulheres, que tomou as ruas da cidade de Pintadas ao som de percussão e letras de protesto pelo fim das desigualdades de gênero, o evento teve como destaque as oficinas. Temas diversos como Violência Doméstica, Políticas Públicas para as Mulheres, Economia Solidária e Juventude foram discutidos pelas participantes.
“Foi um encontro importante onde pudemos avaliar o quanto avançamos na construção de políticas públicas para as mulheres e o quanto podemos avançar se estivermos organizadas em rede. Além disso, foi um evento que se destacou porque reuniu diversas gerações com forte presença da juventude”, afirmou a deputada Neusa Cadore.
PROJETO – O IV Fórum Interterritorial integra as ações do projeto Mulheres do Jacuípe: Formação e Articulação em Rede, executado pela Rede Pintadas com apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. A iniciativa visa contribuir para a erradicação da pobreza de grupos organizados de trabalhadoras rurais e urbanas e fortalecer a organização coletiva com foco na luta pela igualdade de gênero.
“Essa ação simboliza a articulação de mais de 04 anos entre o GT de mulheres, os grupos de produção e as cooperativas juntando para fortalecer a luta de mulheres e construir nossa história de forma coletiva”, disse Cleidnea Bastos, uma das organizadoras do evento.
O evento teve parceria do Conselho de Desenvolvimento do Território da Bacia do Jacuípe, da Marcha Mundial de Mulheres/Ba e do Centro Público de Economia Solidária da Bacia do Jacuípe e a Comissão dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa da Bahia. Municípios presentes: Santa Bárbara, Quixabeira, Morro do Chapéu, Macajuba, Ruy Barbosa, Serra preta, Nova Fátima, São José, Várzea da Roça, Capim Grosso, Pintadas e Salvador.
Por: Lourivânia Soares