As cidades medievais italianas eram verdadeiras fortalezas isoladas entre si, dominadas por um monarca absoluto e disputavam a manutenção de seus territórios com exércitos incansáveis. A igreja católica, no período dos papas Alexandre VI (Bórgia) e Julio II (Della Rovere), disputava com estas pequenas cidades a amplificação dos chamados Estados Papais. O isolamento das cidades de Nápoles e Savona, por exemplo, ilustra a condição de fragilidade diante duma sociedade hostil, infestada por salteadores e criminosos de toda espécie. Não é diferente das cidades atuais.
Às margens da Avenida Orlando Dias, em Salvador, foram construídos condomínios que muito se assemelham às cidades medievais. Não apenas por estarem isoladas por cercas elétricas ou pela criação de um micro universo ilusório repleto de felicidade, onde os problemas sociais não podem entrar. Os conjuntos habitacionais têm representado uma saída incontestável para quem não suporta mais viver no microambiente. O mais impressionante é perceber que não existe comunicação alguma entre estas populações.
Compreender o processo pelo qual as pessoas tem escolhido viver desta maneira está de acordo com o aumento da violência, mas, sobretudo com a banalização deste modelo de urbanismo individualista e exclusivo. A relação social entre os indivíduos tem sido subjugada por modelos individualistas duma estrutura urbanística que transforma as famílias em verdadeiras cobaias do medo, da fuga incontrolável do mundo agressivo. Os condomínios dividem muros, cercas elétricas, mas nunca um projeto verdadeiro de solução habitacional numa metrópole mais justa e digna.
É dizer que se torna mais fácil comprar uma casa dentro destes espaços para satisfazer o ego com uma segurança inexistente do que propriamente lutar por conquistas coletivas ao lado de todos aqueles que também sofrem com os problemas sociais. Cientistas sociais e urbanistas dividem a mesma opinião.
Não é possível concordar com mini-cidades a crescer descontroladamente diante dos olhos de todos, como se esta fosse a saída para os equívocos da administração pública, do crime que assola, do tráfico, da insegurança. Esta opinião em nada contesta a opção particular de cada família em optar por morar num condomínio. Para compreender a sociedade e os problemas que a afligem é necessário pensar introspectivamente nos processos de construção e não nos resultados dos mesmos. Somente assim é possível julgar a consequência e a gravidade dos equívocos.
Mailson Ramos é estudante de Relações Públicas na Universidade do Estado da Bahia e escritor.