Pastor, como o senhor consegue ter tempo para tantas realizações? É uma pergunta que já há algum tempo escuto das mais diversas pessoas, líderes ou não, crentes ou não.
O tempo é um recurso muito limitado e precisa ser muito bem administrado. Alguém já afirmou que tempo perdido não se recupera, visto que, para recuperar o tempo que se perdeu (fazer as coisas que deveriam ter sido feitas), você acaba perdendo um tempo que poderia ser investido em novas realizações.
Família, liderança eclesiástica, convites e viagens para eventos, vida acadêmica (aulas, trabalhos etc.), atividade física, lazer, vida devocional, leituras, blogagens etc., como conciliar tudo isso, sem incorrer no risco de uma alta carga de estresse, numa má qualidade de vida, ou no comprometimento do desempenho e da excelência dos resultados profissionais e ministeriais?
Segue abaixo algumas dicas que até então estão me servindo, e que poderão lhe servir também:
1. Planeje a sua vida. Milhares de pessoas vivem sem planejamento pessoal algum. Planejar significa saber o que você deseja fazer no futuro e como o fará (Lc 14.28-32). Você planejou a sua vida para o próximo ano? Em oração já estabeleceu algumas metas? Já procuro saber a vontade de Deus nesse sentido? Já fez o planejamento de como será a sua semana? As atividades de amanhã já estão devidamente planejadas? Definitivamente, não dá para otimizar, aproveitar ou organizar o tempo sem um planejamento estratégico, sem pensar calmamente e detalhadamente nas realizações antes da execução das mesmas. Como cristão, seus planos deverão sempre ser acompanhados de oração e da busca em conhecer a vontade de Deus para a sua vida (Ef 5.17);
2. Escreva o que planejou. Nossa memória não é muito confiável. Utilize uma agenda para escrever o seu planejamento anual, mensal, semanal e diário de atividades;
3. Selecione e priorize as ações. Nossas atividades deverão ser selecionadas e listadas por ordem de prioridade. As coisas mais importantes deverão vir primeiro, sendo seguidas pelas de menor importância. Dê um lugar e uma atenção especial para a sua família e para o cuidado consigo mesmo (saúde, formação, vida espiritual, etc). Cuidar das coisas ou dos outros, sem se preocupar com o seu bem estar pessoal (Lc 10.27; 1 Tm 4.16a), e com a sua família (1 Co 7.32-34; 1 Tm 5.8), não é uma atitude prudente. Lembre-se que as pessoas devem vir antes das coisas, as coisas espirituais antes das materiais, e Deus antes de tudo e de todos (Mt 6.25-34);
4. Evite a procrastinação. Não “empurre com a barriga” as coisas prioritárias e os demais compromissos. Quando por qualquer motivo você não conseguir realizar uma tarefa dentro dos prazos estabelecidos, trate imediatamente de reagendar a atividade. Quanto mais importante, mais breve deverá ser o novo agendamento ou prazo (Ec 9.10);
5. Não assuma compromissos além de suas reais possibilidades. Não tente “abraçar os céus com as mãos”. Conheça os seus limites. Apenda a dizer “desculpe, mas infelizmente, no momento, não poderei lhe atender”. Quando muito sufocado por tarefas e atribuições, converse francamente e diligentemente com o seu líder sobre o assunto. Não é a quantidade do que se faz, mas a qualidade com que se faz que é mais importante. Quantidade sem qualidade, mais cedo ou mais tarde resultará em fracasso, em falência, em insucesso pessoal, profissional ou ministerial (Ex 18.13-20);
6. Delegue as tarefas de menor importância. Não se detenha naquilo que outros poderão fazer em seu lugar. Há pessoas que poderão realizar o trabalho, inclusive melhor do que você. Foque em ações mais relevantes, que resultarão num bem maior para as pessoas envolvidas e para a obra como um todo (Ex 18.21-27);
7. Seja disciplinado e prudente. Procure dormir e descansar o suficiente, cumprir os horários e os prazos estabelecidos. Quando tiver, por algum tempo, que sacrificar-se mais um pouco numa determinada tarefa, compense o desgaste com um período de descanso proporcional e adequado (Pv 24.6a);
Remir o tempo, conforme Efésios 5.16, significa literalmente: “aproveite bem as oportunidades e evite a ociosidade”.
O TEMPO E O CULTO
“A maneira como usamos o nosso tempo é uma boa indicação do que consideramos de importância primordial na vida. Sempre poderemos ter certeza de encontrar tempo para aquelas coisas que consideramos mais importantes, embora nem sempre admitamos perante os outros ou até perante nós mesmos quais são nossas prioridades reais. Seja para ganhar dinheiro, para a ação política ou para atividades em família, encontramos tempo para colocar em primeiro lugar aquelas coisas que mais nos importam. O tempo fala. Quando o damos aos outros, na verdade estamos nos dando a nós mesmos. Nosso uso do tempo não só mostra o que é importante para a nossa vida. O tempo, então, expõe escancarada e involuntariamente as nossas prioridades. Ele revela o que mais valorizamos pela forma como alocamos esse recurso limitado.” (James F. White)
Quando nos debruçamos sobre o Novo Testamento, percebemos através dos registros de Atos dos Apóstolos e dos textos epistolares, que na Igreja Primitiva o culto não estava preso a um tempo pré-determinado “χρονος” (gr. chrónos, espaço de tempo). A ênfase sobre o primeiro dia da semana como dia litúrgico (1 Co 16.2; At 20.7, 11 e Ap 1.10), corroborada por Inácio de Antioquia, Justino Mártir, e pelo testemunho do Didaqué, era a única recomendação temporal feita ao culto cristão.
No culto cristão prevalecia o καιρος (gr. kairós, tempo oportuno e apropriado), livre das amarras do χρονος. Havia prazer, vontade, desejo intenso de se reunir, estar juntos, partir o pão, orar, louvar, ouvir prazerosamente a Palavra:
“e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” (At 2.42)
Não havia catedrais, basílicas, monumentos cristãos erguidos para a própria honra e glória humana, para perpetuação de seu nome. Pura mentalidade “nabucodonosoriana”, “constantiniana” e “medieval” (Dn 4.30). Vaidade em nome de um falso, ou até mesmo sincero, mas não essencial tributo a Deus, que “não habita em templos feitos por mãos de homens” (At 17.25).
Nada de ênfases tolas em conforto ou qualidade de atendimento aos crentes (ou clientes?), em mero esteticismo, cadeiras de luxo, púlpitos de cristal, bronze, prata e ouro, sistemas de refrigeração que roubam milhares de reais da oferta missionária e que desfalcam a obra social. O conforto é bom, mas não é tudo, é desejável, mas não pode ser prioritário.
Mesmo não desfrutando desses privilégios, os cristãos primitivos ficavam no culto até o fim. Havia coisas mais sublimes e relevantes que os “prendiam” lá. Havia a presença da glória de Deus, o gozo no Espírito Santo, a unção, a reverência, a compaixão, a misericórdia, a sinceridade, a comunhão, o amor fraterno. O χρονος não importava.
Não havia pressa para voltar para casa, apesar do inevitável e necessário labutar do dia seguinte os aguardar, ainda que os perigos dos becos, vales e estradas fossem reais.
“E, perseverando unânimes todos os dias (καθ ημεραν, gr. kath heméran) no templo […]” (Atos 2.46).
Atualmente para muitos, só resta o agonizante culto dominical. Onde o relógio (imagem e expressão simbólica do χρονος ) é mais observado e reverenciado do que a própria Palavra de Deus. O dia da ressurreição, o dia do Senhor (Dies Dominica) deixou de ser aguardado ansiosamente e guardado inegociavelmente.
Para estes, só resta agora inquietação, irreverência e arrogância. “Se passar do horário (χρονος) vou embora, ameaçam uns. É preciso decência e ordem, bradam outros!”. Que decadência, que loucura, que tolice, que insensatez.
Perdoa-nos Senhor! Ensina-nos a viver deliciosamente em tua presença, remindo o tempo no culto prestado a ti, tirando o máximo do kairós.
DISCERNINDO OS TEMPOS
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz. (Ec 3.1-9)
É quando buscamos o discernimento do tempo que aprendemos a viver no tempo, a lidar com ele.
Fazer ou dizer a coisa certa no tempo errado nos trará problemas.
As sementes são muito preciosas para serem lançadas no tempo errado. A colheita antes do tempo é também prejudicial.
É preciso conhecer o tempo de plantar, e aguardar pacientemente o tempo de colher.
É preciso saber viver em tempos de paz e de guerra.
É preciso perceber o momento de se aproximar e de se afastar de pessoas, ambientes e situações.
É preciso em todo tempo entender que o Senhor sobre o tempo deve ser amado e obedecido, pois todo tempo é tempo de amar e obedecer a Deus, mesmo que isso faça com que o tempo (estação) mude para nós.
No tempo certo Deus interfere no tempo, e muda o tempo acalmando as tempestades.
Viva no tempo para a glória de Deus, em santidade, verdade amor e justiça!
Clerisvaldo Ferreira – ( Teinho) Consultor em Gestão Pública