A frase é célebre e antiga: Se este país fosse sério… Mas ela é somente utilizada por alguém que foi aviltado ou não foi bem atendido numa instituição pública, ou ainda quando se depara com um esquema de corrupção noticiado na TV. Não é natural que alguém de fato se levante do sofá e vá reclamar o porquê dos erros.
Ultimamente uma figura pública da política brasileira, possuidor de um cargo importante na república, virou noticia por suas regalias. Da terra de onde vem Renan Calheiros, especialmente no alto sertão, os homens fazem da honra e da dignidade uma bandeira que nem o poder e o dinheiro são capazes de macular. Se ao menos o presidente do Senado tomasse como referência estes cidadãos, não andaria por aí de carona em avião da FAB para fazer cirurgia plástica e implante capilar.
A vilania de um sujeito como Calheiros não está na condição de poder que ele exerce por causa do seu cargo; está sim desintegração da confiança que seu povo depositou nele. E gente humilde. Gente que talvez não saiba o que é filé mignon, mas a estas alturas deve se lembrar do absurdo gasto na alimentação de um homem que goza de todas as facilidades de alimentação, transporte e saúde em demasia. Alguém há de pensar que não apenas Renan Calheiros entre os senadores usufrui destes privilégios; outros talvez sejam inclusive piores do que ele. Mas na posição de presidente, de maior autoridade no senado, com condições de inclusive assumir o país na ausência do presidente e vice-presidente, ele deveria representar a idoneidade, a rocha firme, o modelo.
Acontece que falar em Brasília, falar em política, sempre soa com um ar de desilusão e depois de utopia. Parece que o discurso dos colunistas é sempre o mesmo, porque deseja denegrir, bater para aparecer, provocar, fustigar injustamente, espezinhar. E é importante pensar que neste processo, a imprensa é fundamental. Enquanto alguns políticos estiverem pensando que o Congresso Nacional é a casa da Mãe Joana, é muito justo que sejam maltratados em suas feridas mais dolorosas que, ao contrário do que pensam muitas pessoas, podem surtir algum efeito, ao menos mostrar que alguém neste país está com os olhos pregados sobre eles. O senador Renan Calheiros, na verdade, é quem precisa ficar de olhos bem abertos, aliás, uma das cirurgias do presidente foi de correção das pálpebras.
Cada brasileiro sabe das regalias que não tem; do péssimo transporte público; da saúde pública precária; da alimentação que transforma as famílias em escravas do sistema, porque se alimentar é vital. É muito cômodo crescer sem questionar o sistema, a política, os representantes, a própria maneira de como enxergar o processo de construção de representatividade. É disso que se apossa o político para, apenas na época das eleições, angariar votos e não eleitores conscientes que depois o cobrarão no momento oportuno. Renan Calheiros e outros políticos da mesma estirpe e com os mesmos maus hábitos administrativos deveriam rever suas atitudes. E revê-las com seriedade, pois se todas as vozes e todas as palavras contra eles insistirem em cutucar a ferida, a coisa promete não ser boa em 2014. Por este colunista que vos escreve, esta turma toda já deveria estar atrás das grades ou ao menos longe do Congresso Nacional.
Mailson Ramos – Estudante de Relações Públicas e escritor.