É inegável que a disputa presidencial de 2014 parece bem definida, mesmo com todas as formulações de cenários possíveis e impossíveis: Dilma Rousseff caminha à frente dos adversários com a tranquilidade de quem tem apoio popular e político. Máculas como a condenação dos petistas no processo do mensalão e os protestos que de maneira geral afetaram o poder de representatividade – é bom que se diga que não foi apenas o poder máximo da república a ser questionado – fizeram com que a popularidade da presidenta caísse vertiginosamente em meados de 2013. A verdade é que Dilma não poderia permanecer na posição em que se encontrava, uma vez que seus adversários não foram e não são capazes de representar perigo à sua reeleição. É uma questão política. Aqui não contesta a posição ideológica de nenhum dos candidatos, mas sim o histórico de ações positivas e concretas na vida dos brasileiros que estão inalienavelmente atreladas ao imaginário da população.
Dilma talvez não seja a candidata dos sonhos e nem mesmo a melhor presidenta do mundo, mas segue um roteiro de iniciativas e medidas muito similares às do seu predecessor. Estas medidas transformaram a face do país. O Brasil, mesmo com todos os equívocos administrativos, a corrupção entranhada na máquina pública, a não valorização do cidadão, deu um salto de desenvolvimento, de estabilidade monetária – que evidentemente oscila como todo o mercado capitalista –, provando que era possível governar para os mais pobres, era possível transformar o Bolsa Família – apelidado pejorativamente de “Bolsa Esmola” por alguns burgueses – num programa emancipatório de famílias que não estavam acostumadas à ideia de empreender, de se libertar, de se desenvolver.
A oposição petista se julga capaz de assustar na eleição. Existe uma coisa chamada carisma e instinto de sociabilidade que desconhecem a figura de Aécio Neves, por exemplo. Se FHC disse que o PSDB necessitava de um “banho de povo”, é por compreender que de certo modo o partido e os sujeitos que o compõe se distanciaram da plebe. É um distanciamento vertical que os coloca como elitistas, inimigos do povo humilde, burgueses. Estão num posto contrário ao dos políticos petistas que, mesmo não pertencendo a uma ideologia populista, de algum modo ‘caem na gandaia’, vão para o corpo a corpo, suar no meio da turba. A outra parte que disputa antes uma guerra identitária porque não sabe para onde vai e nem quem é, faz de Eduardo Campos e Marina Silva duas sombras incógnita no cenário eleitoral. Sombras estagnadas e inertes, quase opacas.
Dilma Rousseff vence a eleição com os pés amarrados às costas. Não tem concorrentes à altura, não há proposta que se sobressaía ao modelo atual de administração pública – fora o disse-me-disse de quem quer rivalizar. É preciso discutir sim os erros do governo, lutar ferozmente contra a corrupção que não é ou foi originada de um partido político, tampouco acomete somente as instituições públicas; a corrupção é um processo – com a permissão da ciência para esta analogia – inflamatório crônico. Está na raiz do sistema. É importante que a discussão das propostas eleitorais nas eleições de outubro privilegie o que deve ser implementado e não as picuinhas partidárias de que o povo enfadado está cansado de ouvir.
Mailson Ramos é estudante de Relações Públicas e escritor.