Fora o sensacionalismo típico dos noticiários brasileiros, especialmente os televisivos; longe a teoria conspiratória que é destilada dia após dia nas mensagens e entrelinhas dos textos informativos, a morte do cinegrafista Santiago Andrade da TV Bandeirantes expôs de maneira clara a face dos protestos sob a irresponsabilidade de jovens que extinguiram a vida de um trabalhador. O fato é que após este acontecimento as manifestações não serão mais vistas pela ótica da pacificidade, especialmente quando a análise depender do crivo de um jornalista. Foi o ponto chave para que o Congresso Nacional transformasse, segundo a lei, o vandalismo em terrorismo. A guerra está apenas começando. Alguém vai ter que pagar a conta e não serão os jovens que alvejaram o cinegrafista os únicos a sofrerem represálias.
O discurso é uniforme, irrepreensível e verdadeiro: assassinaram um pai de família em pleno exercício de sua profissão. O vulto da noticia talvez seja mais amplo pela posição da vítima. Mas a verdade é que esta mancha macula também aqueles que pacificamente saem às ruas para protestar. A morte de Santiago Andrade representa, de certo modo, a morte do protesto. Expõe uma insensatez aviltante que será punida com a contrariedade da mídia. A mesma mídia que no ano passado, nos primeiros movimentos, designou os grupos de jovens como baderneiros e vândalos, não se eximirá da tarefa de relembrar o fato para punir e criar estereótipos.
Não pensem os senhores e senhoras que os movimentos e manifestações de 2014 terão a mesma efervescência daqueles do ano passado. Primeiro porque a influência e infiltração de agentes partidários – não declarados evidentemente – promoverão uma batalha interna que acabará em desarticular a estrutura dos protestos; em segundo lugar a blindagem promovida pelas forças do Estado imprimirá um sentido de movimentação das massas, especialmente pela existência da Copa do Mundo. Para os políticos e para o poder estabelecido, os protestos são representações da cidadania, mas pelo lado negativo são resultado do descontentamento da população.
Acontece que a repercussão da morte do cinegrafista Santiago Andrade cria um fator negativo para os manifestantes. Observando os aspectos de criação de identidades, surgiu uma fissura no seio do movimento. Esta fissura se não pode ser recomposta pelo tempo – faltam apenas três meses para a Copa, quando se promete intensificar as manifestações – encerrará antes mesmo das especulações o plano de parar o Brasil. Que o Brasil realmente pare para rever questões sociológicas e não apenas políticas. Há muito mais coisas a se discutir do que a estrutura política e o sistema de representatividade.
Mailson Ramos é estudante de Relações Públicas e autor do livro Vossa Eminência