Em Castelgandolfo, 9 de Outubro de 1958, quando faleceu o Papa Pio XII a igreja permaneceu num profundo silêncio diante de questões imediatas: quem sucederia um pontífice como Eugênio Pacelli? Como o novo papa poderia conter a ânsia modernista e manter a essência tradicional da igreja sem com isso aparentar um conservadorismo arraigado? E quem os cardeais deveriam escolher? Um papa de transição, com idade avançada e propenso a um pontificado curto ou um homem de meia idade que pudesse implementar mudanças mais profundas e a longo prazo? Falava-se de Giovanni Battista Montini, mas ainda não era cardeal; falava-se em Giuseppe Siri, pupilo do falecido papa, no entanto era muito jovem. Então os cardeais, sob a liderança de Alfredo Ottaviani, outra figura imponente do pontificado de Pio XII, resolveram voltar seus olhos para um homem de aparência afável, conhecido por sua simpatia. Era o Patriarca de Veneza, Angelo Roncalli.
Roncalli chegou ao conclave acompanhado por seu secretário pessoal Francesco Loris Capovilla, cheio de planos para quando retornasse ao Dhumo de São Marcos. O conclave para ele era um evento essencial para a igreja, mas não passava por sua cabeça ser eleito. Tanto que, antes de partir para Roma, acompanhava a construção de seu túmulo na basílica, convicto de que ali seria sepultado, como Patriarca de Veneza. Entraram na Capela Sistina cardeais de importância incontestável, verdadeiras bases teológicas e espirituais, mas não havia mais dúvidas que o escolhido seria o camponês de Bergamo.
A disputa foi acirrada. Os nomes de Roncalli e do cardeal grego Gregorio Pietro Agajanian permaneceram por várias votações na boca dos escrutinadores até que, em determinado momento, a maioria de votos deu ao Patriarca de Veneza a honra de ser chamado de Beatíssimo Padre. E que nome desejaria escolher? Ioannes (João), como o pai, como o Batista, como o padroeiro da igreja onde foi batizado quando criança. No momento da benção Urbi et Orbi na varanda central da Basílica de São Pedro, os fiéis reconhecem um homem de bondade inacabável. Os gestos são majestosos, mas a simplicidade anima o público. E aqueles que começam a contar os dias para o fim daquele pontificado de transição ficarão estarrecidos com a presença firme de João XXIII até o último momento.
Se a eleição de Roncalli foi uma surpresa, a de Wojtyla foi ainda mais surpreendente. O cardeal polaco adentrou na Casa Santa Marta após se despedir do motorista e do secretário particular Stanislaw Dziwisz. Diferentemente da condição do conclave comentado anteriormente, no conclave de 14 de Outubro de 1978, os cardeais estavam assustados com a repentina morte de João Paulo I (Albino Luciani) e pensavam em escolher um papa jovem que conduzisse a igreja por um longo período. Evidentemente que no inicio das conversas Wojtyla não era unanimidade. Mas o cardeal austríaco Franz König iniciou uma verdadeira campanha a favor do cardeal polaco. Foi ter com o Primaz da Polônia para saber o que ele pensava. Ponderado, Stefan Wyszyński dizia que Karol era muito jovem e talvez não aceitasse a escolha.
Quando Karol Wojtyla ouve seu nome pela primeira vez, está com uma revista científica nas mãos. Um cardeal o observa como se quisesse perguntar alguma coisa. Mas o cardeal permanece tranquilamente a ouvir os votos gritados pelos escrutinadores. Nas votações seguintes os cardeais que permaneciam em disputa cedem espaço e retiram-se do páreo. Não resta mais dúvida: Karol Wojtyla é o novo bispo de Roma e papa da Igreja Católica. Pensa em escolher o nome de Stanislao I, em homenagem ao bispo e mártir polonês. Mas lembra-se do amigo Albino Luciani e resolve chamar-se João Paulo II. Ainda nas escadarias em direção à varanda central da Basílica de São Pedro, para dar a benção aos fiéis, um dos mestres de cerimônias pontifícias o adverte que não é usual que o papa fale diretamente ao público.
Quando se depara aos milhares de fiéis vibrantes na Praça de São Pedro, João Paulo II pede um microfone. Os camareiros batem as cabeças. Mas o papa fala. E constrói uma nova usança. Comunicativo e firme, segura no balcão como se quisesse abraçar fortemente cada pessoa ali, para agradecer a vivacidade da fé católica que sempre se renova após um Habemus