Diz a lenda que o poeta português Fernando Pessoa, ao ser internado num manicômio, por causa de distúrbios mentais (teria dupla personalidade), criou o provérbio onde as afirmar que “a vingança é um prato que se come frio”. Uns “especialistas” dizem que ele disse ser sopa e os mais empedernidos estudiosos da obra do bardo português que na verdade ele teria dito que o prato seria de dobrada – comida que, quando estive em Portugal, fiquei com receio de pedir, por não estar em nenhum cardápio e eu não queria pagar mico. Para mim era nossa dobradinha, mas vá saber em minha extrema ignorância.
Mas, quente ou frio, quem está se vingando sem precisar fazer a menor força, mover uma palha ou se estressar é o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. De sua suprema cátedra ele viu o deputado André Vargas cair sozinho na escuridão do fosso. O homem se enforcou com as denúncias de ser amigo, cliente e comensal do doleiro que a Polícia Federal pegou no pulo e colocou macacão listrado de preto e branco. Na verdade esta é uma mera alegoria, vez que não existem mais as roupas listradas na horizontal, que evidenciava um ladrão. Hoje, todos usam calças e camisetas na cor laranja. A modernidade tirou até mesmo o romantismo do vestuário do bandido Bafo de Onça (lembra dos quadrinhos de Mickey e Pateta?).
Vamos relembrar o porquê da vingança do ministro Joaquim Barbosa ter caído do céu, por gravidade. O André Vargas é aquele deputado que num evento na Câmara dos Deputados, sentou-se ao lado do negão do STF e começou a fazer pieguices, tirando fotos, mostrando a uma senhora distinta ao lado esquerdo que se acabava de rir. E que lá pelas tantas levantou o punho cerrado, naquele gestual que caracterizou os meliantes do Mensalão do PT José Dirceu e José Genoíno – e que vem ser o mesmo que foi imortalizado pelos terroristas norte-americanos Panteras Negras, nos anos 1960/70. Para completar a atitude histriônica o André Vargas espalhou que sua vontade era ter dado umas cotoveladas em Barbosão (por sinal, no sábado passdo ele jantou no restaurante Red River Café, no Rio Vermelho, onde deixou excelente impressão para os funcionários da casa e clientes. Deu até autógrafos).
Então minha gente, Joaquim Barbosa nada disse à época sobre o incidente. Filosoficamente postou-se superior e não deu a mínima para a molecagem do André Vargas, que agora está no sai mas não sai do PT, já entregou o cargo de vice-presidente da Câmara e está ameaçando dedurar importantes personalidades do seu partido, da República, do governo Dilma; e dizem que até Lula está acendendo vela para São Jorge, seu padroeira de todas as horas (e olha que santo bom e forte que vem blindando o homem faz tempo). Dificilmente o PT vai expulsar o deputado que já disse que leva todo mundo junto, no trenzinho da corrupção.
Enquanto isso Joaquim Barbosa está lá, no Supremo, sentado como quem não quer nada. Mais cedo ou mais tarde o André Vargas vai ter de passar por lá. Será a vez de Joaquim Barbosa dar uma cutucada nas costelas dele. A vingança é uma foto que se revela aos poucos e depois se prega na parede. Sem moldura.