A recente expansão das universidades federais na Bahia, após 60 anos contando-se apenas com a UFBA, procura reparar um déficit de instituições desta natureza no estado, uma lacuna na oferta de educação superior pública, gratuita e de qualidade que ainda persiste, sobretudo no semiárido baiano. Em face desta situação, tem ganhado corpo o movimento pela criação da Universidade Federal do Nordeste da Bahia, que surgiu em fevereiro deste ano, por iniciativa de lideranças civis e agentes públicos dos quatro territórios de identidade que compõem a região.
O nordeste do estado compreende uma área de mais de 62 mil km2 e abriga uma população superior a dois milhões de habitantes, distribuídos em 74 municípios cuja vegetação é a caatinga, um bioma único no mundo, em franco processo de devastação, o que poderia ser minimizado exatamente pela presença de instituições federais de ensino superior que pudessem ajudar a preservar a biodiversidade local, por meio da produção do conhecimento sobre essas riquezas naturais e da criação de oportunidades para a população nativa.
Cientes da referida situação, os territórios do Sisal, da Bacia do Jacuípe, do Semiárido Nordeste II e do Litoral Norte vinham se empenhando em lutas individuais pela implantação de uma universidade em suas respectivas áreas, até perceberem, no início de 2014, que a união de esforços poderia produzir resultados mais ágeis e concretos. Por sugestão do magnífico reitor da UFRB, Paulo Gabriel, lideranças civis e políticas como os deputados estaduais Joseildo Ramos, Neusa Cadore e Fátima Nunes iniciaram uma mobilização popular sem precedentes, na região, organizando uma série de audiências públicas nas cidades dos quatro territórios e até mesmo na Assembleia Legislativa da Bahia.
O movimento pela criação da UFNB tem por princípio não permitir-se ter um dono, e sim possibilitar aos principais interessados, especialmente aos estudantes da região, serem ouvidos pelos governos, no que diz respeito a uma de suas maiores demandas. Nesse sentido, milhares de assinaturas já foram coletadas, manifestações frequentes ocorrem nas redes sociais e dezenas de blogs, além de outros veículos de comunicação regionais, oferecem ampla cobertura dos fatos que envolvem o movimento.
Diante de uma mobilização assim intensa e tenaz, é certo que o Governo Federal não vai ignorar tão justa reivindicação, mesmo porque a força com que o movimento pela UFNB nasce tende a forçar uma política de estado, no tocante à reparação do déficit histórico de ensino superior púbico, nesta e em outras regiões menos desenvolvidas do país.
José Avelange Oliveira é licenciado em Letras pela Universidade Estadual da Bahia, autor do livro Busque a leveza da vida pela Digital Books.
José Avelange