Atualmente blindar o carro não é apenas um investimento de altíssimo custo, feito por autoridades políticas e personalidades culturais. Com o aumento crescente da violência nos grandes centros urbanos do país, o serviço de blindagem não está sendo solicitado apenas por pessoas da classe alta, e que temem ações criminosas por conta da grande exposição na mídia.
Na Bahia, este serviço já se tornou realidade para uma parcela considerável da população que tem carro particular. Os altos índices da violência urbana, associado com a maior facilidade para o pagamento, contribuiu para que a unidade da federação seja atualmente o sexto estado com maior número de carros blindados no Brasil.
Em Salvador, a procura tem crescido constantemente. “Há cinco anos, quando começamos a trabalhar com este serviço, nossa média era de 4 a 5 veículos blindados por mês. Atualmente esta média dobrou e hoje blindamos de 10 a 12 carros no mesmo espaço de tempo”, explicou o diretor comercial da SBI Blindagens, João Ricardo Araújo.
Com o aumento da demanda, tem sido necessário transferir as atividades para um espaço maior com o objetivo de se adequar às novas exigências do mercado. Esta semana, a empresa estava trabalhando na blindagem de dez carros, e já havia oito novos veículos na fila, esperando a execução do serviço. Por isso, João Ricardo planeja mudar-se novamente com a empresa.
“Quando iniciamos as atividades, estávamos num galpão de 340m². Logo em seguida fomos para outro de 600m², e recentemente chegamos que tem aproximadamente 1600m². Estudamos agora mudarmos novamente para um novo espaço, até o final do ano, onde possamos blindar 15 a 20 veículos por mês”, explicou João Ricardo.
Segundo o diretor comercial, entre as pessoas que solicitam o serviço estão muitos empresários, advogados, médicos e funcionários públicos. “O público-alvo são mais as mulheres de modo geral. Entre elas, as mães que levam os filhos no carro, ou estudantes universitárias que cursam faculdade à noite”, exemplificou ele.
Enquanto isso, os carros que mais passam pela SBI são veículos de grande e médio porte. Entre os modelos que mais se encontram no galpão estão a Hillux, da Toyota, o Outlander, da Mistubishi e os modelos Evoque e Range Rover, da Land Rover.
“Quando o país começou a fazer este tipo de serviço, há mais de quinze anos atrás, este chegava a custar em média quase R$ 100 mil. Em tempos atuais, você pode fazer uma blindagem mais simples com um preço médio de R$ 25 mil.”, explicou o supervisor técnico da SBI Blindagens, José Cláudio Deiró.
Os modelos de blindagens mais trabalhados na SBI são o I-A, que suporta tiros de calibres 22 e 38, e III-A, que suporta tiros de revólver Magnum 44, e submetralhadora Uzi, além dos calibres citados, e tem como componente do pacote, a instalação de alarmes que podem ser ativados dentro do carro, no caso de uma ocorrência.
O preço de I-A fica em média R$ 25 mil, enquanto que a III-A, por ser mais completa custa R$ 45 mil aproximadamente. Os valores podem variar a depender do modelo do carro trabalhado.
“Boa parte das nossas peças vem de São Paulo, e, ocasionalmente precisamos comprar peças que não estão em nosso estoque normalmente, o que pode encarecer um pouco o serviço”, justificou o supervisor técnico. Mesmo assim, a blindagem é feita dento de 25 dias e entregue ao cliente.
Fora o aumento crescente da violência, houve um fator que contribuiu para o barateamento do serviço, que foi a substituição dos materiais utilizados para blindar o carro. Antigamente, o aço era a principal ferramenta utilizada, para remontar o automóvel. Hoje, as empresas que prestam o serviço utilizam fibra sintética de aramida como o principal material para recompor o carro.
A fibra, que é utilizada para a produção de coletes a prova de bala, tem uma resistência similar ao aço, é mais barata do que a liga metálica, e não influencia no peso do carro blindado, como é o caso da antiga matéria-prima. Ainda assim, não é todo carro que pode passar pelo serviço.
“Só podemos blindar carros com motor de potência mínima de 1.6. Um motor menor poderia danificar o carro, causando mais problemas ao veículo do que oferecendo segurança aos passageiros”, alerta o diretor comercial da SBI.
Com as facilidades financeiras, cada vez mais baianos estão fazendo deste, um investimento tão essencial quanto um plano de saúde ou o próprio seguro do veículo. O corretor de seguros, Marcelo Simões, acabou de blindar seu carro, e esta não foi a primeira vez que solicitou o serviço.
A única dificuldade pelo qual o corretor passou, foi quando quis trocar de carro. “Na Bahia praticamente não existe um mercado para carros blindados, ficando muito difícil revendê-los. As alternativas são poucas, e, muitas vezes, temos que mandar o automóvel para São Paulo, onde há mais pessoas interessadas”, ele explicou. Mesmo assim, Marcelo não se arrependeu do negócio e voltou a blindar um carro que adquiriu recentemente.
“Quero acima de tudo proteger minha família. A violência está cada vez pior nessa cidade. Não existe mais hora nem lugar para ser vítima de um assalto ou mesmo sequestro. Quando me perguntam se estou gastando R$ 45 mil numa blindagem, respondo apenas que são R$ 45 mil para preservar minha vida e das pessoas que amo. Estamos falando de vidas. Ou seja, R$ 45 mil está muito barato”, afirmou o corretor.
Atualmente, a Bahia representa 1% dos carros blindados no país inteiro, ficando atrás apenas de São Paulo (70%), Rio de Janeiro (14%), Pernambuco (4%), Amazônia (3%), e Pará (2%).
Segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), 4769 carros haviam sido blindados no país, durante o primeiro semestre de 2013.
Redação: CN*Informação: Tribuna da Bahia