Dulcíssimo recanto das paragens da alma. É nobre ser coiteense desde que a vida, tolhida, adquire impulso no seu imbatível progresso. No acúmulo de suas linhas retas, veem-se setas, diretrizes, lugares que finalizam no orgulho. Pois no céu de nuvens claras do verão, no breu das noites frias de inverno, o tempo não se exime de dizer que também é coiteense. Não se esgota o ar perfumado das espinheiras do sertão e dos mandacarus barbudos espalhados pelo roçado, senhores silenciosos, sussurrantes dizendo a que terra pertencem. Ora é o verdoso tapete de sisais, com suas velas apontadas ao céu como se agradecessem a honra excelsa de vigorar naquele solo. É árido e poeirento, posto que as sandálias não saem intactas, mas se saíssem, quem garantiria que elas tocassem um solo de tamanha riqueza? E por falar em despedida, quantos hão de chorar, quantos hão de corar, de dar nó na garganta no momento de ir embora? Chora, todo coiteense chora as duas mães que deixa ao ir embora.
O ar tem cheiro de natureza sertaneja. Tem cheiro de chuva, de fruta madura, de povo que lavora, implora a Deus um amanhã melhor. Qual confiança que nasce no júbilo do madrugar, junto com as aves nas folhagens das árvores e que se recolhe ao entardecer, esperançosa, desejosa dum novo dia. Sobre sua noite silenciosa, no tapete das pedras lisas, um vento frio invernal, aconchega, encasula, faz correr. Das auroras avermelhadas ao branco fosco das neblinas eis uma descrição dos rostos embaraçados ao caminho da escola. Pernas e passos se multiplicam. Rios de cabeças pelas praças, corredores, frenesi. Todo mundo anda apressado por aqui. Será medo de parar? É nada. É medo de não ser feliz.
Foge da inércia. Um ponto da física em movimento traça a química dos sabores na feira de valores. Ora, são somente frutas e verduras. Mas o preço aqui não vale gritar. Vale madrugar. Para encher as sacolas de sextas-feiras, de sábados quem dera. O mercado centralizado de farinha e feijão é carne e peixe no fim. Exímios corredores de gente paciente, um olhar indolente, elétrico o circuito. É apenas o fim da curva do trio na micareta. Luzes, lusíadas, límpidas as faces das moças donzelas, quão belas o retrato duma flor. Quem se banha e se acanha perfumada na brisa noturna, é espelho de provocação, ao bom gosto do poeta. Incertas as doses de beleza que a natureza às coiteenses concedeu. Sorriso dos mais acanhados os mais bonitos.
Queima os pinos da intolerância quando não se cansa de ser política, atípica, palco iluminado para batalha. Murmura o povo nas ruas e quando grita em carreata, não há quem segure. Poder do povo, populi potere, de discutir, cambiar, retornar, seguir, mandar e desmandar. Pois é briga que não acaba mais, recados de tais e tais, cores de simbologia, pois quem pensou um dia, certo estava: cores não governam cidades. Anda em frente com a alavanca do progresso, sobre seu timão, barca em alto mar. Se o homem exangue tombou nas fronteiras da democracia, que os seus aliados, fortes e capazes, consigam alcançá-la. Ao coiteense o espaço no progresso e no futuro está reservado.
É toda honra e toda glória, diante do altar, saber onde a cidade inteira está. Ajoelhada, devotada aos pés da Magnifica Senhora. Zelosa mãe reconhece seus filhos. Os faz religiosos, obedientes, fiéis. Na noite escura as luzes brilham. De longe ofusca. As linhas formam igreja. Nossa Senhora da Conceição em andor, anda com a dor dos pobres, carregada por eles, em devoção, não mais a pura representação da própria humildade, Servis filhos duma mãe imaculada, orgulhosos duma mãe espacial. Incentivo de nossa beleza humana, é terra de paixão multicultural, verdade que é, aplaudir de pé, o dia do aniversário duma cidade una, unida em toda fé, nobre, chamada Conceição do Coité.
Parabéns à minha amada terra por mais este aniversário de emancipação!
Mailson Ramos