O sertão pode ser retratado de diversas formas. E mesmo sua pobreza pode ser visualizada por olhos que enxergam somente riquezas. O sertão é berço esplêndido das amarguras climáticas necessárias para forjar um sujeito forte, intrépido, conhecido por sua bravura diante da reação adversa do tempo e do espaço. Mas este sujeito de ferro, manchado e marcado pelo bronze do sol, é alegre e sorri. Faz sorrir com suas histórias simples e banais. Usufrui de sua idoneidade como se à regra fugisse por ser assim. O homem do sertão é finíssimo em suas tradições, regozija-se com aquilo que agrada aos seus. O sertanejo é modelo para a ficção; sua vida árdua ilustra as dificuldades da vida de qualquer cidadão brasileiro. Mas há no infinito destas palavras uma consideração que foge da modéstia: o sertanejo foi agraciado com homens que souberam defini-lo. O sertanejo foi agraciado com a honra de poder ser retratado por Ariano Suassuna.
O Brasil deve e merece aprender muito sobre o sujeito do sertão. Não o sabe. Envolvido sempre em seus causos e análises sempre direcionadas ao foco da cultura sertaneja, Ariano Suassuna soube mostrar, através de suas obras, e, sobretudo com suas apresentações nas chamadas aulas-espetáculo, quem é o homem do sertão. Ele, como exemplo de quem construiu personagens folclóricos, originados duma experiência viva com a cultura popular e a literatura, transformou o matuto em estrela. Porque falar e contar causos do matuto é muito simples e fácil; mas escrever e traçar uma sociologia acerca deste sujeito sertanejo isolado do mundo é coisa de gênio.
Admirador do humor como algo que alimenta a alma, Ariano Suassuna envolvia o público com suas análises, seus conhecimento sobre a sociedade, a história e a literatura. Os brasileiros não poderão esquecer-se dos personagens de O Auto da Compadecida, de A Pedra do Reino; não podem esquecer-se do dramaturgo, do poeta, do romancista, do homem que sempre se preocupou em mostrar ao brasileiro a essência de ser brasileiro. Parecia que ele tinha sempre uma imagem idealizada e utópica do Brasil; era sim paixão pelas raízes do povo, pela grandeza de nossa cultura.
Hoje, nosso grande Ariano Suassuna, imagem insigne da literatura brasileira, fez sua grande passagem. Resta-nos a ausência duma palestra bem humorada, das análises sobre os próprios livros e personagens, o espírito sertanejo jamais posto em cheque. O Brasil perde o ícone representativo de um sertão magnífico cheio de personagens como Chicó, João Grilo e Quaderna. Mais pobre fica a literatura brasileira, sua cultura essencial e primeira, as letras. Imortal da Academia Brasileira de Letras permanecerá para sempre imortal em nossos corações. Que o conhecimento de Ariano Suassuna, especialmente sobre o sertão, seja repassado a cada criança, a cada jovem, a cada homem deste país!
Mailson Ramos é estudante de Relações Públicas e autor do livro Papa João Paulo II Comunicação e Discurso.