Há cerca de um ano antes do início da Copa do Mundo de futebol no Brasil, havia certo clima de desesperança e pessimismo no país, sobre o mundial da FIFA, por conta dos atrasados das obras, dos protestos que eclodiram clamando por mais investimentos em saúde, segurança e educação, mas principalmente pela expectativa de fracasso do evento, disseminada por parte da imprensa, pois apostavam em caos nos aeroportos e protestos violentos nas ruas.
Como se esperava, as obras ficaram prontas perto da competição, aos quarenta do segundo tempo. Se houve superfaturamento ou não, é algo a ser investigado. O BNDES financiou boa parte dos estádios com linhas de crédito a juros subsidiados. A FIFA ficou isenta de impostos federais, mas pagou cerca de R$ 16 bilhões (segundo as contas da Ernst & Young e da Fundação Getulio Vargas), já que o Centro de Ingressos, o Comitê Organizador Local e prestadores de serviços da entidade foram tributados.
Decerto, é que o mundial começou com uma grande estrutura de segurança, com respaldo na Lei Geral da Copa. Nos aeroportos, não houve caos como temia a imprensa. Ao contrário, cerca de 17,6 milhões de pessoas passaram nos aeroportos durante a Copa, que tiveram um índice de atraso abaixo da média internacional. Mais de um milhão de turistas estrangeiros vieram ao país e 95% deste pretendem voltar. A hospitalidade, a receptividade e o carisma dos brasileiros com os estrangeiros, também foram fatores fundamentais para o sucesso da Copa.
A organização do mundial deixa um legado na mobilidade urbana, na segurança das fronteiras, na infraestrutura. A mídia internacional elegeu o mundial do Brasil com o titulo de ‘a copa das copas’. É inegável que o país tem de investir mais nos setores básicos (saúde, educação, segurança) e atender outras demandas da população. Mas, é indiscutível o legado positivo da Copa para a sociedade. Há estudos que mostram que a Copa pode impactar cerca de R$ 30 bilhões nas finanças do país.
Paradoxalmente, dentro de campo, nas modernas arenas, onde houve grandes jogos, jogadas e gols inesquecíveis, com quebra de recordes, o Brasil fracassou. A frustração do torcedor com as derrotas para Alemanha e Holanda, foi o outro lado da moeda. Por mais que o Brasil apresentasse um futebol sem padrão de jogo, sem articulação de jogadas pelo meio, sob o comando de um treinador teimoso que não evoluiu taticamente, com um time limitado tecnicamente, não se esperava tamanho vexame, ainda mais na condição de país anfitrião, cercado de grande expectativa. Quanto às teorias de conspiração (comprou a copa – vendeu a copa) não passam de factóides. Até que provem o contrário, foi futebol jogado. Afinal, a seleção que apresentou o melhor futebol levantou a taça.
As glórias do passado não garantem sucesso do presente, nem do futuro. A safra de craques está escassa. O fracasso mostrou que o futebol brasileiro precisa ser reformulado, repensado. Precisa de dirigentes competentes. Culpar uma pessoa só é injusto. Não se tem planejamento de longo prazo e os jogadores das categorias de base não são aproveitados gradativamente, tal como na tetracampeã Alemanha. Que o vexame sirva de alicerce para o futebol brasileiro se reerguer.
Teones Carneiro