No auge dos protestos urbanos, em 2013, os manifestantes exprimiram em primeira circunstância sua desvinculação aos partidos políticos, uma clara relação de confronto com o sistema de representação política da democracia brasileira. A rejeição foi muitas vezes expressada com violência contra a exposição de bandeiras, cores, qualquer referência visual aos partidos e suas siglas. O desgaste foi tão evidente que provocou discussões sobre a imagem dos partidos e de seus filiados. Colocou-se em pauta a antiga máxima que privilegia as personalidades formadoras do partido político e não a sua totalidade institucional. Este acontecimento desencadeou um processo de relativização da identidade partidária, ao menos em seu aspecto imagético, e, sobretudo agora, no momento de exposição da campanha política.
O fenômeno da ausência das siglas e ícones partidários nos materiais de campanhas de vários candidatos, inclusive dos presidenciáveis, revela mais do que a simples decisão de um publicitário: é a prova de que, em certo aspecto, os protestos revelaram o descontentamento uniforme sobre a maneira com que os partidos políticos são mais reverenciados do que os seus membros, sejam eles senadores, deputados ou um simples vereador. Desta feita, as siglas desapareceram e cederam lugar a marcas criadas para tão somente ocupar o seu espaço. Diga-se de passagem que as personalidades assumiram sua posição nos cartazes. Supõe-se que serão escolhidas por suas virtudes administrativas e não pelo partido a que pertencem.
De repente o discurso adquire novo sentido. O sentido da semiótica e da análise do discurso. A campanha política se torna cada vez mais difícil de ser analisada com os simples olhares de quem não compreende o processo da comunicação. E a TV mal iniciou sua trajetória de bombardeio de imagens e sons. Nela os partidos e suas siglas ganharão espaço incontestável, afinal são eles os princípios criteriosos para a programação de tempo de cada candidato. A TV é palco aberto e impossibilitado de silenciar as siglas como tem feito os cartazes oficiais das campanhas. Neste ponto é fácil entender como funciona a política local e a política nacional regida pela televisão como veículo de comunicação com maior amplitude no país.
Mesmo com esta condição favorável, os partidos sofrem com a vinculação à corrupção, aos escândalos políticos. Talvez seja uma maneira de desvinculação ilegítima, cortina de fumaça, um drible nos críticos do sistema representativo. O fenômeno pode estar ligado à melhor compreensão do que seja a política. Faz sentido questionar o que está por trás destas medidas e o que elas representam no campo das alterações político-sociais. A circunstância está inegavelmente ligada aos protestos de 2013, ao resultado da negação aos partidos para privilegiar as necessidades prioritariamente populares. O desenvolvimento deste processo durante a campanha eleitoral exige que cada cidadão esteja atento ao sistema de códigos (linguísticos, imagéticos ou sonoros) que desaparece ou ainda se insinua sobre os sentidos.