Faltando menos de 50 dias para as eleições, a campanha eleitoral praticamente não foi para as ruas, sendo que neste período os fatos mais marcantes estão relacionados às desistências de candidatos à disputa proporcional alegando alto custo da campanha. Ao contrário das campanhas anteriores, quando os comitês já estavam devidamente montados e cabos eleitorais percorrendo os bairros e comunidades rurais, pouco se vê em termos de propaganda.
“Ninguém quer contribuir” esta foi a frase dita ao CN por um candidato a deputado federal que pediu para não ser identificado, ao justificar o porquê de a campanha eleitoral estar demorando tanto para deslanchar. Segundo ele, os empresários que sempre destinavam generosas quantias para o financiamento das campanhas se afastaram, e isso complica a vida da grande maioria dos candidatos, que devem reduzir ao máximo o tempo da campanha, pois devem com isso gastar menos e guardar os poucos recursos que têm para a reta de chegada.
É preocupante o que está acontecendo com os apoiadores e quase nenhuma fala em projeto e proposta. “Quando procuramos vereadores, ex-vereadores, suplentes, ex-prefeitos, enfim, gente da política para falar do nosso projeto eles encurtam a conversa e falam em dinheiro, aliás, altas somas de dinheiro, de forma desconectada da vida”, desabafou o postulante a uma vaga no congresso nacional.
Em uma matéria publicada no Jornal A Tarde sobre o assunto, o alto custo dos apoios e demais custos de campanha, no caso de uma disputa para deputado estadual pode custar até R$ 2,5 milhões; e de um federal até R$ 6 milhões. Por este motivo alguns candidatos desistirem da eleição ou da reeleição, a exemplo de Carlos Gaban (DEM), Sérgio Passos (PSDB) e Graça Pimenta (PMDB).
“Continuando assim, só teremos bandidos na política, pessoas dispostas a pagar por votos. Não dá para ser assim”, diz Gaban, referindo-se à compra de apoio. “Se eu, como deputado, tenho rendimentos brutos de R$ 1,42 milhões em quatro anos, como posso gastar R$ 2,6 milhões na campanha? Esta conta não bate”, aponta o democrata, primeiro a desistir da reeleição.
Para Sérgio Passos, que foi eleito deputado em 2006 e tentaria agora retornar à Assembleia Legislativa, a forma de fazer campanha mudou. “Antes havia só gastos com deslocamento, hospedagem, impressão de material. Ia-se até as pessoas nas regiões e elas aderiam à campanha. O único custo era o envio do material de campanha. Agora não é mais assim. Pessoas como eu, de classe média, se não tiverem muitos investimentos legais para a campanha, têm que sair”, disse Passos, presidente estadual do PSDB.
Passos defende a instituição do voto distrital como uma das formas de conter o abuso. “Eu sou conhecido na Chapada. Em outras regiões, eu sou ninguém, e os candidatos ficam reféns destes apoios. Se eu concorresse apenas onde vivo e sou conhecido, seria mais justo, o poderio financeiro não pesaria tanto”, aponta.
O preço do apoio – Cabos eleitorais podem cobrar até R$ 200 mil para conseguir 100 votos nas eleições de deputado estadual e federal. O número de votos pode parecer pequeno pelo preço, mas em muitos casos são fundamentais para garantir uma das 63 cobiçadas cadeiras da Assembleia ou das 39 vagas da Câmara dos Deputados.
Compra do voto – A corrida pelos votos inflacionou o “mercado” de cabos eleitorais. Nos corredores da Assembleia Legislativa são comuns as reclamações dos candidatos que se sentem extorquidos a toda eleição. A única coisa certa relacionada ao assunto é que ninguém fala abertamente já que a contratação de cabos eleitorais pode ser tranquilamente enquadrada como crime de compra de voto. “E se compra voto mesmo. O sujeito pede tanto. Parte desse tanto ele contrata algumas pessoas para fazer panfletagem, segurar bandeira e algumas horas de carro de som. A outra parte coloca no bolso”, diz uma fonte inteirada sobre o tema, pedindo anonimato.
Ele garante que nas eleições de deputado muitos vereadores do interior aproveitam para “tirar o pé da lama”, vendendo os votos dos seus tradicionais eleitores, exatamente como ocorria há cem anos nos chamados “currais eleitorais”. Experiente em campanha eleitoral, essa pessoa disse ao CN que o mais agravante é que a maioria dos vereadores estão endividados da eleição de 2012 e do custo de campanha e ao pegar dinheiro dos candidatos vão pagar seus débitos e os postulantes a uma vaga na assembleia ou no congresso tem que se virar na reta de chegada para conseguir mais dinheiro, “se sobra na chegada”, brincou.
Um integrante da equipe de uma das chapas majoritárias confirma que a pressão dos candidatos a deputado por recursos é muito grande. “Pedem principalmente que a campanha majoritária banque placas e cartazes pra ver se o dinheiro rende, pois o custo realmente é muito alto”, diz o cidadão que também só concorda falar em “off”
A situação faz com que os candidatos mais identificados com a chapa majoritária ou com seus principais partidos levem vantagem. “Os candidatos, digamos, programáticos, que vestem a camisa de sua sigla, vão sempre levar vantagem na repartição do bolo”, acredita, avaliando que o lado negativo disso é que o “sistema” beneficia os veteranos.
Ele concluiu dizendo que isto justifica o parlamentar ficar ausente da base quatro anos e depois construir em outros municípios e assim girar todo estado. “Quando você vê um deputado que foi votado em 2010, principalmente se for desconhecido, e não voltou este ano, não foi outra coisa: Deu dinheiro, recebeu os votos e vazou. Agora pode ver, está em outros municípios e distantes de suas bases. Muito provavelmente, mais dinheiro”
O governador Jaques Wagner (PT) se mostrou assombrado com os depoimentos que vem ouvindo de aliados e adversários políticos a respeito do custo dessas eleições. Ele disse que jamais tinha se deparado com cifras tão elevadas. “Tá sendo (a mais cara). Eu digo que nunca vi nada igual ao que estou vendo este ano. O grau de piora em comparação com 2010 é muito acentuado é como se tivesse banalizado. Como se a coisa acontece assim e pronto”, desabafou.
Wagner deixou claro que o custo ao qual se refere não é o relacionado a peças publicitárias. “Estou falando da relação, ela banalizou. Os caras tão dizendo, ó amigo, nós somos amigos, mas…É o que todo mundo me conta”. De acordo com o governador, um dos maiores problemas provocados por este contexto é o naufrágio da democracia.
“Porque o cara começa a entrar em desespero, o vereador chega e diz e o que tem a dizer e o cara sai correndo atrás. Se não fizermos essa reforma o Brasil vai voltar ao Império, porque lá caboclo para ser candidato e para votar tinha que provar que tinha 20 mil contos de réis na conta”, falou o governador.
A atual situação coloca em xeque a representatividade partidária, segundo Wagner. “Hoje a linha de corte de quem consegue passar (se eleger) vai ser financeira. E qual é o pior? O mandato fica do cara. Porque se ele que arruma o dinheiro, que corre atrás, quando chegar lá vai pensar nele”.
Redação CN