– Mas rapaz, Neto vinha tão bem, na maior simpatia, na maciota, apesar de todo o rolo que foi o aumento do IPTU e agora se mete numa coisa pior e que poderá trazer sérias consequências para seu projeto político – desabafou o plasma João nariz-de-quibe – cidadão que já foi desta para melhor faz tempo, mas que ainda tem o péssimo hábito de se meter na vida da cidade e principalmente dando pitaco, metendo o bedelho sobre as ações dos prefeitos.
Foi assim como João Henrique, que ele começou nos maiores amores, principalmente quando lembrava que o ex-prefeito foi quem impediu que os shoppings começassem a cobrar pelo estacionamento, coisa que vai começar a valer a partir de alguns meses e quem não quiser pagar pelo estacionamento que volta a comprar pegando buzu na Baixa dos Sapateiros. Já no final da primeira gestão de João Henrique ele me disse:
– Tô achando que este meu xará vai escorregar na casca da banana, vai pisar na bola, vai pular a poça!
Retruquei: – Não brinca com este negócio de pular poça, que você fala o que vem à cabeça sem saber ao certo o que significa e quando vai ver está chamando a pessoa de outra coisa. Antigamente pular poça era igual a sair do armário. Conheço João Henrique e ele com aquele jeito de coroinha, na verdade é um pegador.
– Onde? – Arregalou o olho e deu muxoxo o João-nariz-de-quibe, e eu disse: – Rapaz, vá por mim! Não posso falar, pois o homem está casado e bem casado e se cuidando, todo malhado e anda feliz da vida.
– Se você tá dizendo!!
– Digo.
Na verdade o que ele estava querendo explicar é que o ex-prefeito já ia caindo em seu desgosto. E já gestão final de João Henrique ele queria ver o Satanás (nunca soube se Nariz-de-quibe anda no céu ou no inferno e na próxima aparição dele vou perguntar, embora deduza) mas não queria ver nosso antigo administrador.
– O homem tinha tudo na mão e se queimou por nada – enfatizou.
– Não me conte nada – cortei de saída antes que ele alongasse a conversa.
Mas agora ele está invocado é com Neto. Mostra-se insatisfeito com o prefeito, que considera moço bom, de boa origem, com o talento para a política herdada do avô, que era um tocador de obras, apesar de muito criticado, tanto que decidiu e realizou as obras da Barra, vai capengando mas está fazendo as da Ribeira e garante vai fazer mais.
– Mas – suspirou como uma alma penada – veja que se meteu com aquele Carballal, rapaz matreiro e que nem sei escrever o nome direito e que me remete a bacalhau, e agora me deu saudade do Moreira, do Colon e do Firmino do Bacalhau, e pressionado pelo pessoal que explora o Carnaval de Salvador onde não tem um santo para benzer os circuitos, está no maior imbróglio.
– Qual que não estou sabendo? Não me diga que no além vocês assistem aos meus amigos Bocão, Casemiro Neto e Uziel Bueno?
– Rapaz, com estes amigos você está é com o corpo fechado – se esbaldou de rir.
E completou: – Quero dizer a você que é um fraco dos miolos e já era assim desde os tempos do Colégio Luiz Tarquínio, que ACM Neto vai deixar aumentar os decibéis em toda a cidade. Lembre-se, animal, que Salvador é a cidade mais barulhenta do país, segundo pesquisas e não sou eu quem está inventando.
– Mas, meu caro, não é bem assim. Somente quase um mês antes e quase um mês depois do Carnaval ou do São João ou quando houve um motivo forte, como foi a Copa.
– Sabe nada inocente! Não já viu que em Salvador todo dia é Carnaval. Vá no Uruguai, na Pituba, em Brotas, no Imbui e no Pelourinho qualquer dia da semana e veja como você sai de lá com tremeliques de tanta zoeira. No final de semana, então, é de lascar os tímpanos. Os pobres coitados que moram nos bairros – e nem falei de Plataforma, Paripe e Periperi – ou é macho ou tem um chilique de pular a poça.
– Tenho certeza que ACM Neto não vai cair nessa.
– Acho bom, pois o povo é ingrato e quando se desgosta é o Cão, valha-me Deus. Eu mesmo já estou arrepiando carreira.
– Deixe de ser estraga prazer. Já está botando gosto ruim na administração do moço!
– É? Depois venha me perguntar onde encontrar protetores auriculares e Maracujina. O inferno vai mudar para Salvador e o Diabo ainda vai receber título de cidadão soteropolitano. Vereador para oferecer a láurea não falta. Veja este Carballal! É com um ou dois lês que se escreve o nome dele?
João como apareceu, sumiu. Eu vou é aproveitar e acender uma vela para ele, outra para ACM Neto, uma para Carballal e outra para Alexander Graham Bell, este mesmo, que deu origem ao decibelímetro e se sobrar grana acendo a última para Orfeu, deus da música e da poesia, antes que venha o tsunami de Lepo Lepo e soem as trombetas de Jericó nas velhas muralhas da velha Salvador.