As atitudes de William Bonner na entrevista com a Presidente Dilma Rousseff, no Jornal Nacional, apenas evidenciaram um reposicionamento do jornalismo e do jornalista no ambiente eleitoral de maneira nunca antes vista. Com isto, originou-se um poder concentrado em sua imagem, em seu nome, em seu reconhecimento e talvez em último lugar, em suas habilidades profissionais. Este novo sentido quebra a ideia de que o jornalista não é a peça fundamental da engrenagem, mas sim os candidatos e suas propostas de governo. Abdica-se claramente do posicionamento dos candidatos para exibir, como num show ou apresentação, as invectivas de um entrevistador-inquisidor e que se mostra incisivo porque não é um assessor de imprensa. É como se a glória dos cenários televisivos e o poder de edição de um telejornal fizessem de Bonner o melhor dos jornalistas brasileiros; talvez ele seja apenas o mais conhecido e só.
É possível afirmar que este posicionamento, especialmente no telejornal mais conhecido da TV Globo, tornou-se evidente ao longo dos últimos meses, quando em vez de noticiar o fato, transformaram os apresentadores em algozes, estrelas do jornalismo dito puro e combativo. No abraço à ideia de um jornalismo que opina, a opinião pende como numa balança de pesos diferentes. Assim, claramente e sem nenhuma sombra escondida por trás da célebre imagem dos jornalistas da bancada, o telejornal adquire uma ideologia e um estrelismo próprio que o torna dependente dos holofotes e não da noticia em si. O Jornal Nacional já não necessita da noticia para atingir seu índice de audiência. Precisa mesmo é marcar seu lugar através do sarcasmo, caras e bocas, atuações de seus apresentadores.
Em 20 de dezembro de 2011, o Observatório da Imprensa publicou um artigo de minha autoria intitulado TV Globo: Jornalismo ou Publicidade?, no qual abordava, entre outras questões, o espetáculo global pela saída de Fátima Bernardes e a chegada de Patrícia Poeta à bancada do Jornal Nacional e a conquista de um prêmio em Nova York. Foi a primeira percepção de que existia uma vanglória naquele ambiente, sentimento que permitia a criação de um jornalismo efusivo sob o ponto de vista da celebração. Elogiar a si próprio se tornou uma condição rotineira nas edições do telejornal, seja através de premiações recebidas e por qualquer evento que privilegie a grandeza do JN. Em análise, a chegada de Patrícia Poeta não alterava em nada o curso das notícias ou a maneira como elas seriam dadas. Seria naturalmente a regurgitação de fatos diários, com um toque de sarcasmo e olhares sinuosos.
O que requereu William Bonner todos os grandes jornalistas brasileiros vão requerer. Nem todos com o mesmo poder e o mesmo sucesso. A construção de sua imagem não se deu repentinamente, mas ao longo de um tempo em que se esqueceu das figuras de Sergio Chapelin e Cid Moreira, pouco menos truculentos que o atual apresentador. Chamar blogueiros de sujos é mais uma questão de legitimação. É saber que além do Jornal Nacional, além das noticias truncadas veiculadas pela TV, existe uma mídia poderosa capaz de contestar as verdades ditas absolutas e mostrar onde está aquela escondida pelo discurso institucionalizado da televisão. Um pouco mais de humildade faria bem aos jornalistas que percorrem os rincões do país, pelas imagens, e é assistido por pessoas que sequer entendem cada palavra dita. É para estas pessoas que se deve ser jornalista de verdade.
É preciso questionar o que está por trás da ideia de jornalismo-celebridade e o que ganham os telespectadores com isso; quais os anseios de um estudante de jornalismo quando somente vê em seus sonhos os holofotes dos cenários, o reconhecimento, a fama? Até mesmo quem não é jornalista sabe: isso não existe. Felizes são aqueles profissionais que são reconhecidos por seu trabalho e não pela imagem. Desejo regressar a este tema todas as vezes que um fato evidenciar meu pensamento. Este pensamento de que ninguém está acima da verdade apenas porque noticia um fato ou se apropria dele para disseca-lo. O Brasil é grande demais e tem cabeças inteligentes o suficiente para fazê-lo por si próprio e não por estrelas de um telejornal