Esperar é um suplício para a maioria das pessoas. Especialmente quando se espera por um resultado que pode influenciar ou alterar o curso da vida. Naturalmente o tempo é responsável por salvaguardar as respostas do futuro. Esta noite de domingo entrará para a história do país como o dia em que a nação brasileira aguardou ansiosamente por uma decisão própria. E a partir das 20h (Brasília), por diferença de fusos horários, o Brasil recebeu a primeira parcial de votos dos candidatos à presidência da república, o que definiu uma das eleições mais acirradas desde a redemocratização. Por decisão matemática, aos poucos, os especialistas decretaram o resultado: Dilma estava reeleita.
As análises aqui são dadas no calor dos fatos, sem que com isso a leviandade invada espaço em minhas palavras. Nunca pensei no acirramento da disputa em número de votos. A campanha sempre esteve acirrada, mas no nível do debate, da “troca de chumbo” entre os candidatos. Até a morte de Eduardo Campos era fácil prever uma disputa em que a presidenta Dilma venceria sem maiores sobressaltos; eram claras suposições baseadas na tranquilidade do cenário até aquele momento. Tudo mudaria. Sem a prevalência das opiniões convictas – porque não era possível adotar a convicção – o melhor foi reanalisar.
Alguns espectros típicos ou não à política são responsáveis por este acirramento final. Os escândalos de corrupção, a comunicação, a morte de Eduardo Campos, a ascensão e queda de Marina Silva e as interferências pontuais da mídia foram eventos que convergiram para a alteração do cenário de campanha, desde o primeiro turno até o desfecho final neste domingo. A campanha foi combativa e orientada por debates que quase sempre fugiam à regra da saudável discussão. E isso, bom ou ruim, faz parte da política.
Notadamente embebido pelo fornecimento ininterrupto de informações, o eleitor chegou às urnas neste segundo turno com a cabeça mais dividida do que convicta. Os institutos de pesquisa concederam a este eleitor a condição de volátil. Mas, ainda voláteis, conseguiram adentrar nas estatísticas dos votos válidos. É preciso considerar que 21,10% dos eleitores não compareceram às urnas. É uma decisão a ser respeitada pela democracia, mas que se imbui da responsabilidade de abdicação do direito e, sem duvidas, do dever de votar.
O Brasil, segundo alguns especialistas, está dividido após o resultado final. O quadro definitivo das eleições de 2014 mostra que o acirramento de ideias e ideologias colocou à Dilma um desafio primeiro: unir o país após o desgaste. A estas alturas, nas mídias sociais, a deflagração desta fissura ideológica, ainda muito evidente, proporciona um debate xenofóbico e preconceituoso de parte a parte, entre eleitores de diferentes regiões do país. Conduz-se a discussão a um nível tão baixo que extrapola inclusive a humanidade. E ser desumano e preconceituoso não é nada saudável.
Aécio sai desta eleição com um capital político considerável, embora o tempo e as perspectivas políticas respondam sobre o futuro deste capital para as próximas eleições, caso o PSDB opte mais uma vez por sua candidatura. Em quatro anos qualquer prognóstico é passível de perecibilidade, especialmente quando se trata de política. Sua derrota representa para as instituições democráticas do Brasil o fim da disputa eleitoral. Pode não representar o fim de uma ideia de sucessão ou, como preferem os peessedebistas, uma ideia de mudança.
Dilma tem vários desafios mantidos e agora acrescentados à sua agenda. Em mais quatro anos de mandato terá a possibilidade de expandir as melhorias e lutar por questões pontuais e necessárias para o Brasil. Uma dessas lutas é a reforma política, tão debatida popularmente e aguardada por todos aqueles que desejam alterar o curso do sistema político brasileiro. Dilma deve combater a corrupção com mãos de ferro, mesmo que a legislação seja débil. O ninho dos grandes escândalos são as organizações públicas e a navalha deve decepar o mal, seja ele originado de qualquer partido.
Ao povo brasileiro, democrático, uma saudação pelo respeito concedido às instituições públicas e ao direito de voto do outro. Não se constrói um país democrático onde a minoria decide, mas onde maioria e minoria estão juntas em busca de aprimorar os acertos e dirimir os erros. O Brasil anseia pela conquista de melhorias em todos os aspectos. A divisão regional deste país não serve senão para definir relevo, hidrografia, macroestatísticas, políticas, enfim. Não deve servir para aglutinar ideias contrárias e monolíticas advindas de um ressentimento infundado. O momento agora é de união pelo Brasil.
*Mailson Ramos*
Colunista do Pragmatismo Político – Observatório da Imprensa
Criador e administrador do blog Opinião & Contexto
Bacharelando em Comunicação Social – Relações Públicas
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Acesse: www.opiniaoecontexto.com
www.twitter.com/mramosoficial