Alguns fatos desta eleição merecem destaque preliminar. Alguns deles por sua positividade e outros nem tanto. Por razão natural de sua consciência analítica um colunista deve pertencer a uma consciência perenemente questionadora. Somente assim é possível despertar no amigo leitor suas próprias considerações. Este pequeno preâmbulo antecipa assuntos importantíssimos para a política brasileira. O primeiro deles se refere à confiabilidade das pesquisas e a maneira com que os contratantes (empresas de comunicação, em geral) divulgam os resultados; em seguida, a aguardada polarização de poderes entre PT e PSDB, resultando no embate entre Dilma e Aécio; e por fim o desfecho do fenômeno Marina Silva nas Eleições 2014.
Na Bahia, estado onde reside o vosso amigo colunista, as pesquisas colocaram o candidato Paulo Souto (DEM) à frente de Rui Costa (PT) durante todo o processo eleitoral. Souto liderava e liderava com a perspectiva de vitória ainda no primeiro turno. O IBOPE, responsável pela realização das pesquisas no estado baiano, contratado junto à Rede Bahia de Televisão (afiliada à TV Globo), até o último sábado considerava a vantagem do candidato democrata.
Ontem, dia da decisão, Rui Costa dispara na contagem de votos, suprime todos os outros candidatos, inclusive o segundo, Paulo Souto, e avança para a vitória ainda no primeiro turno, contrariando todas as perspectivas do IBOPE e fazendo jus às pesquisas do instituto BABESP, que teve a credibilidade colocada em cheque. Parece que o BABESP sempre este à margem da realidade dos votos do que o IBOPE, considerado por muitos um instituto de relevante confiabilidade.
Novamente, como em 2006 com a eleição de Jaques Wagner ainda no primeiro turno, as pesquisas deixam de retratar a vontade do povo. É preciso questionar como e onde estes resultados são colhidos, como são divulgados, o quanto os veículos de imprensa contratantes são idôneos o bastante para revelar ou exigir o resultado verdadeiro. E quando existe uma relação de promiscuidade reconhecida entre uma rede de comunicação e um candidato, ou um grupo político, a coisa fica mais séria ainda.
Os baianos elegeram Rui Costa sem pestanejar. Mas os resultados antecipados pelas pesquisas não o favoreciam. O que pensar da imprensa baiana que nos últimos meses repercutiu quase que tendenciosamente a eleição de Paulo Souto ainda no primeiro turno? Embriagadas do mesmo torpor oferecido pelo IBOPE, os jornais, as emissoras de rádio e TV degustaram o mesmo pão contaminado. Mas devem se defender atestando que acompanharam pesquisas estatísticas incontestáveis. E suas respostas serão ouvidas mais uma vez com puro desdém pelos 3.558.975 de eleitores do candidato vencedor.
E por falar nisso, a última pesquisa IBOPE, desta vez certeira, coloca Aécio Neves no segundo turno, disputando o pleito presidencial com Dilma Rousseff. Não há novidade. PT e PSDB formam uma disputa polarizada desde Lula e Fernando Henrique em 1994. Quem aguardava um desfecho diferente, certamente considerava uma alteração do quadro político brasileiro sem o PSDB na disputa. Alguns especialistas em política recorreram ao mês de Junho de 2013 para reforçar uma tendência de mudança. E revendo o cenário político depois deste primeiro turno, puderam constatar que as manifestações influenciaram pouco na decisão popular.
Os anseios da massa de modo algum são responsáveis pela passagem de Aécio Neves ao segundo turno. A mudança, naquele contexto, representava uma transformação de valores superiores para a política brasileira. O que não privilegiava partido ou político algum, mas exaltava as necessidade e demandas sociais do país, colocadas em segundo plano pelos nossos representantes. Dilma e Aécio no segundo turno é mais uma demonstração da manutenção do sistema político vigente. Não há nesta alocução nada de negativo ou positivo: é simplesmente a análise desprendida de um colunista.
Quanto à Marina Silva, com ou sem bolha eleitoral, não resistiu aos à pressão que polariza a política brasileira. Entre estas duas forças, não houve efeito simbólico ou discurso que evitasse uma derrota. Paradigmática foi a ascensão da candidata, assim como sua silenciosa derrocada. O fôlego da metade da campanha resultou em suspiros compassados a caminho das urnas. Mas há nisso algum valor ou mesmo vitória. Os mais de 22 milhões de votos são a demonstração de que um dia a polarização possa não mais resistir. E Marina certamente seguirá os passos de uma candidata obstinada pela presidência e por governar o país. Os capítulos seguintes desta história pertencem ao destino. Aguardemos o que ele, dissimulado, nos dirá.