O final da tarde de segunda-feira (24.11) vai ficar marcado como o momento histórico em que duas pessoas do mesmo sexo oficializaram o requerimento de habilitação de casamento perante o Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais de Conceição do Coité.
Gildean Almeida Gomes, 39 anos, e Maria Cristina Mendes, 45 anos, apresentaram os documentos perante o Juiz da Comarca, Dr. Gerivaldo Neiva, em visita ao CAPS, pois as nubentes são usuárias do serviço e fizeram questão de convidar as famílias, usuários e funcionários do CAPS para celebrarem o momento. Segundo o Juiz, o processo de habilitação terá tramitação normal e em breve as nubentes estarão aptas ao casamento civil.
Na cerimônia no CAPS, Gildean e Maria Cristina confirmaram o desejo de se casarem civilmente, inclusive trocando alianças, e informaram a nossa reportagem que tornam público este desejo porque se amam, em primeiro lugar, e também porque querem que ambas tenham segurança em caso de herança ou pensão. Finalmente, acrescentaram que também esperam que a publicidade deste ato sirva para encorajar outras pessoas da cidade que vivem em relação homoafetiva,mas ainda tem medo de enfrentar a opinião pública.
Após a breve cerimônia, Gildean e Maria Cristina, receberam cumprimentos dos familiares e convidados e foi interessante observar a naturalidade com que as pessoas encararam o fato e até mesmo um longo beijo do casal após ouvir as palavras do Juiz sobre o casamento.
Sobre a legalidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o Juiz de Direito informou à reportagem que este fato já é normal em grandes centros, mas é o primeiro casal que se habilitou em Coité para celebração do casamento civil.
“Na verdade, desde 2011 o Supremo Tribunal Federal (STF), por ocasião do julgamento da ADPF 132 e ADI 4277, deu interpretação conforme a constituição federal para o artigo 1723, do Código Civil, que reconhecia como entidade familiar apenas a relação entre homem e mulher. Dessa forma, o STF terminou reconhecendo que a união entre pessoas do mesmo sexo também deve ser considerada como entidade familiar. Em seguida, após a resistência de alguns cartórios pelo Brasil, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) baixou Resolução (Res. 175/2013) obrigando que os cartórios recebam e processem os pedidos de habilitação casamento de pessoas do mesmo sexo, inclusive indicando a possibilidade de providências por parte da corregedoria da justiça no caso de recusa pelo cartório”, concluiu o magistrado.
Os noivos sem nenhum constrangimento, pois, segundo eles estão convictos do que querem, concederam entrevista ao CN.
Cristina disse que já teve a experiência de conviver com um homem, teve um filho, inclusive o perdeu neste ano (2014), aos 27 anos, vítima de câncer. Ela afirmou que se decepcionou na convivência com um homem, e que esse novo relacionamento com pessoa do mesmo sexo é de fidelidade, mais carinho, mais segurança na pessoa. “ Eu era muito solitária e homem não me preenchia mais, ele quer aquele momento de prazer, e a mulher não, a gente vive nosso momento 24 horas, uma ajuda a outra, a relação é completa e o homem deixa falha. Não tenho vergonha nenhuma de estar assumindo isso publicamente, com a presença dos meus parentes, porque eu me sinto feliz, posso dizer que ao longo de toda minha vida esse é o momento de maior felicidade”, afirmou com exclusividade ao Calila Notícias.
Gildean,cumpre o papel de esposo na relação, disse que foi muito rápida a decisão de se unirem, segundo ela (ele) a decisão foi por ambas as partes sentirem algo muito forte, “tipo como se fosse uma alma gêmea mesmo, o mesmo amor que ela sente por mim eu sinto por ela, e a gente se combina. Eu amo demais ela, como ela me ama, eu tenho certeza que como falou o juiz, nós vamos viver por muito tempo mesmo, pois é um amor muito seguro, eu sempre quando tenho uma fé é muito positiva e como sempre deu tudo certo, não é esse que vai ser diferente”, falou com convicção Dean como é conhecida(o)
Dean disse também que sofreu grandes decepções com mulheres, e não quer sofrer de novo, e garante que sente dentro dela (Cristina) uma grande realidade, “eu tenho certeza que tudo vai dar certo”, afirmou.
Questionada se conheceu homem, ela disse que só trocou beijinhos, foi logo no início quando segundo ela jogava bola e conheceu um rapaz, mas o preconceito a quase 30 anos era muito grande e fazia de tudo para despistar das pessoas e familiares, mas ali mesmo descobriu que a atração pelo sexo masculino não era seu desejo, “até que um dia cheguei para um irmão e abrir o jogo, dizendo que eu era assim, e se tivesse que me aceitar teria que ser assim”, contou.
Trabalho – O CN perguntou a Dean sobre o sustento de Cristina e da casa, ela disse que vai ser da mesma forma que vem sendo, pois, já estão juntas a meses e vem trabalhando com sua mãe, e garante não ter emprego fixo, mas faz de tudo um pouco, ajudante de pedreiro, limpeza…, “lá em casa quem fez a instalação fui eu, a pessoa que precisar de mim não precisa ter receio não, se for bater uma laje pode me chamar, eu não tenho medo de trabalho. Eu no lugar de homem tenho que trabalhar para dar o melhor a ela (Cristina)”, reafirmou.
Cristina e Dean se conheceram no Centro de Assistências Psicossocial – CAPS de Coité
Redação CN * fotos e vídeo Raimundo Mascarenhas