Chamou atenção, recentemente, a existência – que boa parcela da sociedade brasileira desconhece – de uma instituição que aglutina milhares de detentos que são beneficiados por um atendimento que foge ao usual do país, ou seja, cadeias superlotadas, violência dentro das próprias detenções e tratamento desumano, beirando a barbárie. Esses presos que cito ficam com as chaves das celas e pavilhões, podem ligar para a família quando quiserem, não são algemados e eles mesmos cuidam da segurança.
Apenas se exige dos presos que sigam uma religião cristã; que participem das atividades da sua igreja, que o comportamento seja realmente bom e que executem algum tipo de trabalho voltado para o bem comum e para a própria sociedade. Interessante é que, pelo que parece, esta política ou iniciativa vem dando certo e no Brasil mais de três mil presos estão participando do esquema que não vem dando furo. O índice de reincidência dos criminosos nesse esquema é infinitamente abaixo do padrão nacional. Enquanto 70% dos presos voltam a cometer crimes de tudo que é qualidade, no esquema cadeia/religião isso cai para menos de 10%.
Os condenados que estão nesse regime de serem seus próprios carcereiros fazem até parte de uma entidade, de nome Apac – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados.
No Brasil estão presos quase 600 mil condenados. E essas associações que reúnem os presos privilegiados já atuam com todo empenho no Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Norte e começa a se organizar na Bahia.
O modelo de gestão penitenciária, ela já existe desde 1972 em São Paulo, foi criado por voluntários ligados à Igreja Católica. Tem dado tão certo que já está sendo exportado para dezenas de país, e acredite, até Estados Unidos e Noruega. É o Brasil pela primeira vez dando lição nessa esfera, o que, tenho certeza, é uma coisa rara. Nas 43 Apacs, nunca ocorreu um homicídio, não houve rebelião ou mesmo um motim. Tudo na santa paz do Senhor. O CNJ apoia a iniciativa, uma vez que o custo é considerado três vezes inferior à manutenção de uma penitenciária tradicional.
Vários formatos de ressocialização e organização do sistema prisional já foram executados e quase nenhum deu resultado ao longo da história do Brasil. O advento das igrejas evangélicas deu um alento à questão da violência. O que se vê é que, em todo o sistema, os evangélicos têm uma presença cada vez mais acentuada. Tem cabido também aos evangélicos a diminuição nos índices de criminalidade em boa parte do país e também nos países africanos, como presenciei em Angola e na Nigéria. A religião, hoje, tem um papel tão significativo quanto o evangelizador realizado pelos jesuítas e beneditinos nos primórdios do Brasil, desde padre Manuel da Nóbrega.
Mas tem de ressaltar que coube às lideranças evangélicas iniciar uma nova “missão” humanista com relação aos presos, esses que depois de julgados e condenados são esquecidos em suas celas, como se estivéssemos em séculos passados nas escuras e insalubres masmorras da Torre de Londres ou numa penitenciária angolana. A Pastoral Social da Igreja Católica, que aos poucos foi se desarticulando, foi quem deixou a Igreja Evangélica ganhar espaço, quando no século passado buscou mais a política partidária do que exercer sua função social.
* Jolivaldo de Freitas é jornalista e escritor