O prefeito ACM Neto corre sério risco de ser excomungado pelo arcebispo se não correr para pedir um adjutório de joelhos e com as mãos voltadas para o céu na Igreja da Conceição da Praia. Pelo brilho nos olhos do arcebispo que vi em close na TV e pelo sangue nos olhos da irmandade é coisa líquida e certa, como é certo que a santa não gostou nada de, pela primeira vez em que seus 463 anos, ter sido obrigada a ficar confinada dentro da sua vice basílica (título dado pelo para Pio XII nos anos 1940) enquanto o povo do lado de fora esperava para participar da missa, porque uma empresa com parte com o demônio não cuidou de fazer sua parte na instalação de uma estrutura adequada para receber os fiéis.
Mas o prefeito pode ficar sossegado pois não teve culpa, embora seja pecado andar em má-companhia. Nossa Senhora da Conceição sabe que não cabe à prefeitura dotar de estrutura um evento, digamos, “particular” da Santa Igreja Católica Apostólica e que quando deixou de ser romana para que passou a sofrer uma ação mais forte das forças do mal. Eu acho que a Arquidiocese tem dinheiro suficiente para cuidar dos festejos católicos sozinha. Pode até não ter cash, mas o que tem de laudêmio (eu mesmo comprei um imóvel e tive de pagar lauto laudêmio para a Igreja da Vitória), coisa que é desde antigamente e o que tem de imóveis, arte, ouro, incenso e mirra (nunca soube o que é mirra. Vou ao Google).
A mesma coisa acho entre a Igreja Católica e o Iphan. A igreja tem, sim, a obrigação de cuidar das estruturas que estão caindo ao pedaço ao invés de ficar em busca de verba pública. Nem preciso lembrar que somos um Estado laico. Senão, cada vez que as verbas públicas fossem usadas para gerar um benefício qualquer para os católicos, deveria na mesma proporção ajudar a bater uma laje num templo evangélico, ou fazer um puxadinho, uma camarinha num terreiro de Candomblé.
Acho que cada um deve se virar como pode. A Igreja Católica sempre viveu de doações e das heranças deixadas por grandes pecadores. Para ilustrar esta conversa, no século XIX um dos maiores importadores de escravos de Salvador ao morrer deixou uma fortuna incalculável para a Santa Casa da Misericórdia, por se considerar uma pessoa misericordiosa. O que ele exigiu – aliás pediu piamente – em troca é que fossem rezadas por sua alma pelo menos quinze mil missas. Vou perguntar ao provedor da Santa Casa Roberto Sá Menezes, se tem lembrado seu povo de rezar para o pecador. Senão ele vem puxar o pé.
Mas, voltando ao prefeito ACM Neto, é bom ele ficar com as barbas de molho pois tem praga grande sendo lançada em direção à cristaleira (o prédio onde fica a Prefeitura Municipal) por parte dos serralheiros da Ladeira da Conceição e Montanha. O Iphan já deixou claro e prova que quem está colocando empecilho para solução no tratamento dos Arcos da Ladeira da Montanha é mesmo a prefeitura. Eu já sabia disso, mas ontem o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como todo direito e atitude, emitiu nota se posicionando, antes que levasse ferro dos ferreiros e artesãos que atuam na área.
O Iphan nunca emitiu nenhuma notificação relacionada a ações nos arcos e estão tirando a pipoca com a mão do gato, ou tirando da reta, como diria um rapper. É lembrado que por ser uma autarquia federal suas ações se dão, única e exclusivamente, por seus prepostos, fiscais, dirigentes e por seu superintendente e que ano passado a Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura comunicou ao Iphan que o uso dos imóveis, eventualmente restaurados, seria de oficinas de artesanato. Algo parecido com o que foi feito nos arcos da Baixa do Bonfim. O Iphan já tem um projeto de restauração e só falta mostrar e este não determina o tipo de utilização, ainda mais que não pode fazer isso pois a estrutura pertence ao município.
Uma boa notícia é que soube ontem que a prefeitura vai se entender com o Instituto que, por sua vez, vai disponibilizar o projeto. Entendo que é mesmo preciso solucionar o problema, pois os arcos mostram uma passagem de tempo numa área que já teve sua importância como acesso à cidade-fortaleza do mestre Luis Dias a soldo de Tomé de Souza e a mais nobre de todas: seus animados e memoráveis bregas, onde até padre foi excomungado.